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O Que Está Por Vir
O Que Está Por Vir
O Que Está Por Vir. O título do filme já é extremamente sensível e em sintonia com o título original que é L'avenir. Porque olha para o futuro em uma época da vida em que a sociedade tende a julgar que já é o fim da linha.
Isabelle Huppert dá vida a Nathalie, uma professora de filosofia de meia-idade, casada há vinte e cinco anos e com dois filhos adultos. Sempre colocou para si a missão de ajudar seus alunos a pensarem por si próprios e nunca gostou de impor opiniões, nem mesmo discutir sua posição política. A escola em que ensina está passando por momentos turbulentos, alunos protestam, tentam impedir as aulas. Ela, não apenas entra, como convence alguns a assistir sua aula, não como imposição, como faz seu marido, mas como um convite à reflexão.
Tudo parece correr tranquilamente até que ela se vê sozinha e, com isso, experimenta a liberdade plena. E por mais que todos desejem a liberdade, Mia Hansen-Løve de maneira bastante eficiente demonstra e discute o medo que temos dela. O medo de simplesmente não ter desculpas para fazer o que queremos. Não ter mais mãe doente para cuidar, nem filhos para criar, nem mesmo marido para dar satisfações pode ser aterrorizante. Não o medo da solidão em si, mas da responsabilidade pelas próprias escolhas. Não por acaso, a cena final é tão simbólica.
Isabelle Huppert consegue nos passar esses sentimentos de uma maneira bastante eficaz. Seu semblante nos passa calma e temor a todo tempo. Em cada gesto, em cada atitude. Há uma vida, de fato, pulsando ali e não apenas uma personagem esquemática. Mais uma vez, após Elle, a temos como protagonista de uma obra que faz um estudo de personagem. E uma persona tão distinta da mulher fria e assustadora do filme de Paul Verhoeven. Nathalie nos parece próxima, a professora, a amiga que gostaríamos de ter tido.
O ritmo do filme é contemplativo. Não temos grandes rompantes de emoção. Nenhum grande conflito a ser resolvido. Mesmo a separação é construída de maneira natural, retratando a dor de Nathalie, mas sem exageros. O momento em que ela percebe que o ex levou alguns livros dela mesmo é bastante real. Quem já vivenciou uma separação sabe a briga que é a divisão de livros, discos, filmes, etc. É sempre difícil de dizer onde começa um e termina o outro em uma relação duradoura.
E esse tom realista está em todos os detalhes do filme, as locações por onde Nathalie passa desde a sala de aula ao parque onde leva os alunos para uma experiência ao ar livre, passando por sua casa, ruas, estradas. A vida pulsa em tela de maneira muito natural e orgânica. A luz natural é aproveitada ao máximo pela fotografia, assim como o desenho de som nos ambienta nos locais.
O que está por vir é uma experiência gostosa de acompanhar, ainda que repleta de tantos desafios cotidianos e de uma certa melancolia. Há um otimismo apesar de tudo e uma certeza de que a vida está apenas recomeçando.
O Que Está Por Vir (L'avenir, 2016 / França)
Direção: Mia Hansen-Løve
Roteiro: Mia Hansen-Løve
Com: Isabelle Huppert, André Marcon, Roman Kolinka
Duração: 102 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Que Está Por Vir
2016-12-22T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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