
Sob a luz do luar, a pele negra fica azul, explica a personagem de Mahershala Ali ao pequeno Chiron em determinado momento do filme. E essa poesia estética é que dá o tom de toda a fotografia do filme de Barry Jenkins, quase sempre azulada. Um tom belo e melancólico para um filme igualmente assim.
Moonlight é sobre pessoas negras, feito por negros, mas não sob o viés do contraste. O racismo está ali implícito ao constar que temos um bairro pobre, com poucas oportunidades, onde o tráfico de drogas é o espaço almejado para os que querem ascender socialmente e onde passagens pela polícia se tornam rotinas para os jovens. Está tudo ali em cenas, falas, situações, ou mesmo na música de Boris Gardiner (“Every nigger is a Star”) ouvida no início da projeção.

Ainda que em fases tão distintas da vida e com três atores o interpretando (Alex R. Hibbert, Ashton Sanders e Trevante Rhodes, respectivamente), é possível reconhecer Chiron e suas angústias mesmo no corpo de um ex-atleta como Trevante Rhodes em seu carro de luxo e dentadura de ouro. A dor e a fragilidade da personagem que nunca conseguiu encontrar o seu espaço, nem ser respeitado está lá. Acuado como o garotinho que Juan, personagem de Mahershala Ali, encontra em um barraco abandonado.

Ainda que se utilize de estereótipos como o valentão do colégio e os tipos de bullying visto em qualquer história de High School, mesmo quando se utiliza de Kevin (o amigo, a paixão) para mais um golpe da vida desse garoto, o roteiro não é tradicional, nem mesmo clichê. Temos um estudo de personagem intenso, sem viradas marcadas, nem uma curva dramática tão delineada. A força está no sentimento passado, na introspecção do protagonista, mas poucas manifestações de carinho que recebe, quase como migalhas em sua vida sofrida.
E tudo isso sem exagerar no tom. Não temos emoções overs com esquemas forçados para arrancar emoções da plateia. Tudo é passado de maneira muito verdadeira, muito forte. A realidade daquele espaço é um soco no estômago, principalmente por pensarmos que existem milhares de Chirons e Kevins por aí.
Moonlight, que aqui ganhou o subtítulo que não acrescenta, só traduz, de Sob a Luz do Luar, é um filme extremamente denso e forte, ao mesmo tempo que consegue ser doce. Como o luar e sua tonalidade azul que encanta e entristece com a mesma intensidade. Uma verdadeira poesia, cheia de dores, melancolia e beleza.
Moonlight: Sob a Luz do Luar (Moonlight, 2017 / EUA)
Diretor: Barry Jenkins
Roteiro: Barry Jenkins
Com: Trevante Rhodes, Mahershala Ali, Naomie Harris, Janelle Monáe, Shariff Earp, Duan Sanderson, Alex R. Hibbert
Duração: 111 min.