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Moonlight: Sob a Luz do Luar

Moonlight: Sob a Luz do Luar - filme

Sob a luz do luar, a pele negra fica azul, explica a personagem de Mahershala Ali ao pequeno Chiron em determinado momento do filme. E essa poesia estética é que dá o tom de toda a fotografia do filme de Barry Jenkins, quase sempre azulada. Um tom belo e melancólico para um filme igualmente assim.

Moonlight é sobre pessoas negras, feito por negros, mas não sob o viés do contraste. O racismo está ali implícito ao constar que temos um bairro pobre, com poucas oportunidades, onde o tráfico de drogas é o espaço almejado para os que querem ascender socialmente e onde passagens pela polícia se tornam rotinas para os jovens. Está tudo ali em cenas, falas, situações, ou mesmo na música de Boris Gardiner (“Every nigger is a Star”) ouvida no início da projeção.

Moonlight: Sob a Luz do LuarTudo isso, no entanto, é pano de fundo para o verdadeiro foco do filme que é Chiron, esse garoto franzino, filho de uma mulher viciada em crack, com pai desconhecido, despertando sua homossexualidade ainda que enrustida, que é ridicularizado na escola. Dividido em três capítulos, o roteiro nos mostra três momentos do protagonista e que se dividem por suas personas. Little quando é um garotinho assustado. Chiron, quando é um adolescente sofrido. E Black, quando é um adulto "bem sucedido".

Ainda que em fases tão distintas da vida e com três atores o interpretando (Alex R. Hibbert, Ashton Sanders e Trevante Rhodes, respectivamente), é possível reconhecer Chiron e suas angústias mesmo no corpo de um ex-atleta como Trevante Rhodes em seu carro de luxo e dentadura de ouro. A dor e a fragilidade da personagem que nunca conseguiu encontrar o seu espaço, nem ser respeitado está lá. Acuado como o garotinho que Juan, personagem de Mahershala Ali, encontra em um barraco abandonado.

Moonlight: Sob a Luz do LuarA vida de Chiron é dura, como a de muitas pessoas pobres, sem oportunidades, com problemas familiares. É dura também porque ele não encontra ambiente adequado para assumir sua sexualidade como algo natural. A cena em que ele pergunta a Juan e Teresa, o que é bicha e se ele é bicha, é uma das mais fortes do filme, pela simplicidade com que o casal tenta explicar a aquele garoto algo que ele nunca encontrou espaço para entender.

Ainda que se utilize de estereótipos como o valentão do colégio e os tipos de bullying visto em qualquer história de High School, mesmo quando se utiliza de Kevin (o amigo, a paixão) para mais um golpe da vida desse garoto, o roteiro não é tradicional, nem mesmo clichê. Temos um estudo de personagem intenso, sem viradas marcadas, nem uma curva dramática tão delineada. A força está no sentimento passado, na introspecção do protagonista, mas poucas manifestações de carinho que recebe, quase como migalhas em sua vida sofrida.

E tudo isso sem exagerar no tom. Não temos emoções overs com esquemas forçados para arrancar emoções da plateia. Tudo é passado de maneira muito verdadeira, muito forte. A realidade daquele espaço é um soco no estômago, principalmente por pensarmos que existem milhares de Chirons e Kevins por aí.

Moonlight, que aqui ganhou o subtítulo que não acrescenta, só traduz, de Sob a Luz do Luar, é um filme extremamente denso e forte, ao mesmo tempo que consegue ser doce. Como o luar e sua tonalidade azul que encanta e entristece com a mesma intensidade. Uma verdadeira poesia, cheia de dores, melancolia e beleza.


Moonlight: Sob a Luz do Luar (Moonlight, 2017 / EUA)
Diretor: Barry Jenkins
Roteiro: Barry Jenkins
Com: Trevante Rhodes, Mahershala Ali, Naomie Harris, Janelle Monáe, Shariff Earp, Duan Sanderson, Alex R. Hibbert
Duração: 111 min.

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