Home
cinema brasileiro
critica
filme brasileiro
Isabél Zuaa
Juliana Rojas
Marco Dutra
Marjorie Estiano
Miguel Lobo
panorama2017
terror
As Boas Maneiras
As Boas Maneiras
Desde os curta-metragens a dupla Juliana Rojas e Marco Dutra demonstra o interesse pelo cinema de gênero, em especial, o terror. Juntos, como em Trabalhar Cansa, ou separados, ele com Quando eu era vivoe O Silêncio do Céu e ela com Sinfonia da Necrópole. As Boas Maneiras segue o mesmo caminho e, como os outros, não é apenas um filme de terror.
O roteiro é claramente dividido em duas partes, com alguns ajustes dariam até para ser dois filmes, ou dois episódios de uma série. Primeiro, temos a trajetória de suspense em que Clara, interpretada por Isabél Zuaa, consegue emprego de babá em uma estranha casa. Só que, pelas atitudes de sua nova patroa, Ana, interpretada por Marjorie Estiano, ela parece mais ser a babá desta do que do bebê que ainda está por nascer. A segunda parte é com este bebê já criança.
No trailer, já fica claro que o bebê não é exatamente um ser humano normal, ou melhor, temos a insinuação de que estamos diante de uma história de lobisomem. Mas o que chama a atenção na obra dos diretores é a capacidade que a trama nos dá para construir interpretações e metáforas diversas, aprofundando camadas do que está no raso da tela. Porque se ficarmos apenas nisso, temos um roteiro frágil em diversos aspectos, principalmente no didatismo em insistir em contar e reforçar, inclusive com um flashback bonitinho em desenho, a origem do bichinho. Bastava a primeira cena de Clara contando as fases da Lua para sacar o óbvio.
A questão da trama não é Joel ser um lobisomem, mas o que isso representa em uma sociedade que busca ensinar "boas maneiras". Uma sociedade que parece cada vez mais vigilante. Joel é mais do que um folclore de um monstro, é a encarnação do que a tradicional família brasileira considera como pecado. Por isso é temido e precisa ser escondido.
A maneira como Rojas e Dutra constroem isso é que chama a atenção. Há, claro, recursos técnicos e estéticos próprios do terror. Como a música tensa, o plano fechado, as penumbras e o ritmo arrastado que ajuda a aflorar os nervos do espectador. Mas há também um jogo irônico que vem na quebra da expectativa, como o corte brusco após uma forte cena na rua para o treino de Ana em frente à televisão com uma música que gera riso. A montagem do filme está sempre dosando humor e horror de uma maneira inteligente que nos evoca também a reflexão.
Co-produzido com a França, o filme possui uma pós-produção que chama a atenção, principalmente pela confecção dos efeitos de transformação de Joel e do lobisomem em si que impressionam pelo realismo e desenvoltura desde bebê. Os cenários e direção de arte também são cuidadosos, dando um aspecto visual ao filme que ajuda na construção da mitologia e nos faz embarcar na trama. Mesmo o flashback, que narrativamente fica desnecessário, chama a atenção pela qualidade artística.
Destaque ainda para Isabél Zuaa e Marjorie Estiano não apenas pela excelente composição de personagens, mas pela dinâmica entre elas. Já o garoto Miguel Lobo tem bons momentos e outros que parecem ser apenas reações pouco trabalhadas que carecem de um pouco mais de maturidade, mas dá conta do recado, diante de uma personagem tão complexa e algumas incongruências no roteiro, principalmente para justificar uma certa virada.
As Boas Maneiras traz uma experiência intensa. É bem realizado, evoca emoções, faz pensar e ajuda a reforçar as marcas autorais de dois cineastas que vem mexendo com o cinema brasileiro. Que eles possam nos provocar cada vez mais.
Filme visto no XIII Panorama Internacional Coisa de Cinema.
As Boas Maneiras (As Boas Maneiras, 2017 / Brasil)
Direção: Juliana Rojas e Marco Dutra
Roteiro: Juliana Rojas e Marco Dutra
Com: Isabél Zuaa, Marjorie Estiano, Miguel Lobo
Duração: 135 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
As Boas Maneiras
2017-11-10T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
cinema brasileiro|critica|filme brasileiro|Isabél Zuaa|Juliana Rojas|Marco Dutra|Marjorie Estiano|Miguel Lobo|panorama2017|terror|
Assinar:
Postar comentários (Atom)
cadastre-se
Inscreva seu email aqui e acompanhe
os filmes do cinema com a gente:
os filmes do cinema com a gente:
No Cinema podcast
anteriores deste site
mais populares do site
-
Em cartaz nos cinemas com o filme Retrato de um Certo Oriente , Marcelo Gomes trouxe à abertura do 57º Festival do Cinema Brasileiro uma ...
-
O Soterópolis programa cultural da TVE Bahia, fez uma matéria muito interessante sobre blogs baianos. Esta que vos fala deu uma pequena con...
-
O Festival de Brasília do Cinema Brasileiro , em sua 57ª edição, reafirma sua posição como o mais longevo e tradicional evento dedicado ao c...
-
Cinema Sherlock Homes O filme de destaque atualmente é esta releitura do clássico do mistério pelas mãos de Guy Ritchie. O ex de Madonna p...
-
Casamento Grego (2002), dirigido por Joel Zwick e escrito por Nia Vardalos , é um dos filmes mais emblemáticos quando o assunto é risco e...
-
O CinePipocaCult adverte: se você sofre de claustrofobia, síndrome do pânico ou problemas cardíacos é melhor evitar esse filme. Brincadeiras...
-
Fui ao cinema sem grandes pretensões. Não esperava um novo Matrix, nem mesmo um grande filme de ação. Difícil definir Gamer, que recebeu du...
-
Eletrizante é a melhor palavra para definir esse filme de Tony Scott . Que o diretor sabe fazer filmes de ação não é novidade, mas uma tra...
-
Com previsão de lançamento para maio desse ano, Estranhos , primeiro longa do diretor Paulo Alcântara terá pré-estreia (apenas convidados) ...