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Liga da Justiça
Liga da Justiça
A Liga da Justiça foi uma aposta ousada da DC nos cinemas. Ao contrário da Marvel, que foi construindo sua estratégia com paciência até reunir seus heróis no primeiro Vingadores, os estúdios, junto com a Warner, não quiseram esperar. Juntar Batman vs Superman, já no segundo filme, que trazia ainda a Mulher Maravilha e citações aos outros três não foi a melhor estratégia, gerando um filme fraco. Após um empolgante filme solo da única heroína do grupo, Liga da Justiça consegue ser competente em diversos aspectos, ainda que traga uma sensação de precipitação em muitos dos seus problemas.
O problema começa na união do grupo. A primeira parte da narrativa tem que se dispor a apresentar cada um deles com esquetes de ação isoladas. O roteiro não se dedica a explicar muito a origem de cada um, o que já é um acerto, mas há uma apresentação longa, demorando a engatar a trama da obra. Trama esta que parece tola diante, principalmente, do vilão mal desenvolvido em tela. Nada parece ter muita substância, mesmo com as explicações didáticas e expositivas de Diana para as caixas e a luta passada.
Aliás, o didatismo é um dos grandes problemas dos diálogos introdutórios. Até mesmo a função do laço da Mulher Maravilha é reapresentado de maneira desnecessária. Assim como uma insistente repetição de algumas explicações como se o filme não confiasse na capacidade de dedução do espectador. Não é nem mesmo uma questão de público especialista em quadrinhos. É apenas lógica. Uma sequência ilustra bem isso, quando a rainha das Amazonas pede que seja acesa a fogueira do templo. Uma delas diz "mas esse fogo não é aceso há cinco mil anos, os homens não saberão do que se trata". E a soberana esclarece "os homens não, mas ela sim". Como se não bastasse, vem uma cena de Diana olhando o fogo e balbuciando: "invasão".
Ao mesmo tempo em que é didático, o filme busca um ritmo ágil, com muitas cenas de luta e piadas. O alívio cômico principal é o Flash, jovem ainda, ocupando a função do "novato", ele faz muitas piadas e força graça em momentos diversos. Há muita piada verbal com "rapidez" que cria ironias diversas como quando ele vai assinar um papel e um homem pede que ele ande mais rápido. O roteiro não se limita a isso, no entanto, construindo cenas cômicas com as demais personagens. E é um acerto dos roteiristas Chris Terrio e Joss Whedon, apesar das piadas manterem a aura de seus heróis, nunca fazendo Diana, Barry Allen ou Bruce Wayne se tornarem "bufões" como a Marvel, por exemplo, fez com Thor.
Porque uma construção arquetípica difere os heróis da Marvel dos da DC, não fazendo deles melhores ou piores que os outros, é bom deixar claro. Os heróis da Marvel são mais humanos e falhos, ao passo que os da DC são construídos como semi-deuses, ou mesmo deuses, seres em um estágio diferente dos seres humanos. Diana é uma semi-deusa, assim como Barry Allen, o Aquaman. Superman, o extra-terrestre é visto com um Deus vindo do céu. E mesmo o Batman sendo "apenas rico", carrega uma postura de herói super-humano. Sua função é inspirar os mortais, não se igualar a eles. Talvez por isso, muitos os considerem chatos.
O curioso é que, apesar do início truncado, do excesso de didatismo e alguns deslizes na curva dramática e um vilão pífio, esses heróis funcionam juntos. Há um clima épico na orquestra das lutas em equipe. E, ao entrarem em ação, eles carregam consigo todo o significado de ter em tela Superman, Batman, Mulher Maravilha, Aquaman, Cyborg e Flash lutando em sincronia. Todos tem uma função e são importantes. É simbólico e maior que qualquer estrutura falha, mesmo que as coreografias não sejam das mais inspiradas.
No final das contas, Liga da Justiça é um filme genérico, mas um genérico que funciona. Traz diversão, magia e emoção em doses equilibradas resgatando o prazer de ver esses heróis em cena. Falta muito para um grande filme que empolgue fãs e não fãs. Mas já demonstra caminhos.
Ah, e como eles estão mais "inspirados" na Marvel, tem duas cenas pós-créditos. Não saia do cinema sem elas.
Liga da Justiça (Justice League, 2017 / EUA)
Direção: Zack Snyder
Roteiro: Chris Terrio e Joss Whedon
Com: Ben Affleck, Gal Gadot, Jason Momoa, Ezra Miller, Ray Fisher, Jeremy Irons, Henry Cavill, Amy Adams, Diane Lane, J.K. Simmons
Duração: 120 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Liga da Justiça
2017-11-25T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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