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Assassinato no Expresso do Oriente

Assassinato no Expresso do Oriente - filme

Assassinato no Expresso do Oriente é um dos, senão, o mais famoso livro de Agatha Christie. Já teve, inclusive, uma adaptação para os cinemas. Logo, quem gosta e conhece um pouco sobre a narrativa policial, já sabe o seu desfecho. A missão de Kenneth Branagh, mais do que apresentar a história para novos públicos, foi deixar que o conhecimento do final não invalidasse a experiência.

A fórmula da dama do crime é relativamente simples. Ela se utilizava do whodunit (quem matou?) para criar peripécias mirabolantes que sempre nos deixavam intrigados e sempre nos surpreendia no final com um culpado lógico e, ao mesmo tempo, surpreendente. No caso de Assassinato no Expresso do Oriente ela foi um pouco além, por isso, gerou tanta fama à narrativa. Tendo consciência desses elementos, o cineasta, que também encarna o icônico detetive Hercule Poirot, trabalhou com outros programas de efeito.

Assassinato no Expresso do Oriente - filmeO primeiro é simplesmente sensorial. Mais do que nos apresentar uma história de detetive, Branagh nos convida a sermos detetives. Ele utiliza bem os recursos cinematográficos para nos ambientar no espaço, construindo a geografia do trem e das cabines em planos longos que vão nos dando informações visuais precisas. Em determinado momento chave, ele constrói toda uma sequência com a câmera em plongée, nos dando a sensação de uma visão de tabuleiro, como se pudéssemos analisar todo o espaço e as peças em movimentação.

Segundo, ele nos cola a Hercule Poirot, não apenas nos dando o seu ponto de vista da situação, mas nos aproximando do detetive, apresentando camadas do mesmo antes não exploradas. O que faz todo o sentido. Sempre muito lógico e distante, aqui, o belga se vê diante do grande dilema de sua carreira. Não apenas pela dificuldade do caso, mas por sua decisão final. Perceber suas fraquezas, dúvidas e mesmo seus sentimentos, ajuda a nos tornar mais cúmplices daquele homem tão enigmático e sua inteligência peculiar.

Assassinato no Expresso do Oriente - filmeNesse ponto, o diretor tem um mérito extra, já que é também o ator que dá vida ao ícone. Sem exagerar na dose, para não descaracterizá-lo, Kenneth Branagh consegue humanizar o detetive, apresentando suas nuanças, dúvidas e receios, ao mesmo tempo em que, com o olhar e pequenos gestos, é capaz de construir sua linha de raciocínio privilegiada, nos fazendo crer ser alguém, de fato, especial. Ainda que sendo testado, há uma aura do grande investigador trabalhada nos livros.

Por fim, o filme se vale do seu vasto e talentoso elenco para criar as camadas dessa mirabolante trama de assassinato dentro do trem. Entre eles, o destaque maior é para Michelle Pfeiffer, que, além de defender de maneira brilhante sua personagem, ainda canta a música tema nos créditos. A maneira como ela é trabalhada no roteiro de Michael Green também ganha brilho especial, onde antes parecia apenas uma peça com uma função. Vemos também as camadas dessa mulher, principalmente na parte final. Destaque também para Penélope Cruz, Willem Dafoe e Leslie Odom Jr.

O que essa versão nos traz é a sensação de que quem matou Edward Ratchett é o que menos importa, ainda que quem não saiba possa também ser impactado por essa resolução. Mas o que torna essa trama ainda instigante e funcional depois de tanto tempo é a capacidade de discutir questões éticas em torno de assassinatos e suas consequências. Em seus diversos aspectos, sim, o filme funciona.


Assassinato no Expresso do Oriente (Murder on the Orient Express, 2017 / EUA)
Direção: Kenneth Branagh
Roteiro: Michael Green
Com: Kenneth Branagh, Penélope Cruz, Willem Dafoe, Daisy Ridley, Leslie Odom Jr., Richard Clifford, Michelle Pfeiffer, Judi Dench, Olivia Colman, Marwan Kenzari
Duração: 114 min.

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