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Dias Vazios
Dias Vazios
Adolescência é uma época de emoções exacerbadas. Seu corpo está em mudança, você está começando a pensar sua vida, seu futuro, a descobrir que os sonhos de infância não são tão simples quanto pareciam. Há uma sensação de urgência e uma imaturidade para lidar com problemas que se apresenta normalmente na forma de revolta.
Dias Vazios, filme de estreia do diretor Robney Bruno Almeida, traz protagonistas nessa fase, com o complicador de viverem em uma cidadezinha do interior de Goiás, chamada Silvânia. Isso aumenta a sensação de revolta, por odiar o local onde se vive, a falta de oportunidades e perspectivas. Sua incapacidade de pensar em um bom futuro o mergulha em um estado de depressão. Envoltos nesse sentimento, Jean e Daniel se ligam física e metaforicamente mesmo que nunca se vejam, vivendo em tempos distintos.
Daniel está escrevendo um livro sobre a história de Jean e sua namorada Fabiana, ao mesmo tempo em que ele próprio precisa lidar com sua angústia e relacionamento com a namorada Alanis. E é curioso como o roteiro nos conduz de maneira cíclica em situações parecidas de ambos, principalmente em uma conversa com a freira do colégio onde estudam, que demonstra não apenas a repetição da situação, como a convergência de pensamentos ao concluir a motivação da freira nas conversas.
Dividido em três partes, o filme vai revelando a relação das duas histórias, mas isso acaba não sendo tão importante. Nem mesmo o paradeiro de Fabiana em suas versões apresentadas no filme parecem ser tão importantes. O que conduz a obra é essa angustiante inércia determinista em que, nas palavras do próprio protagonista, não dá opções àqueles jovens, dizendo que ali ou você termina morto ou com o filho no colo, sem muita perspectiva de futuro.
Ainda que não aprofunde a angústia dos jovens retratados, o filme traz uma verdade para a tela que nos envolve. Mesmo as atitudes impensadas acabam se tornado críveis diante do sentimento trabalhado a cada cena. E é curioso como os detalhes que vão enriquecendo o arco da ligação entre as duas personagens são ricos e bem realizados.
Da mesma maneira que essa ideia cíclica é bem desenvolvida, já que a história de Jean e Fabiana está sendo narrada pelo livro que Daniel está escrevendo. E o próprio fato dele estar buscando mais informações sobre o casal para terminar o livro acaba nos dando o bom efeito de não saber o que acontece, ou pelo menos, o como isso foi feito.
Toda essa sensação de angústia e revolta é construída também nas escolhas de planos, situações e até mesmo objetos de cenas. O fato da freira que conversa com os jovens, tentando orientá-los, fumar desesperadamente, demonstra sua fragilidade e também traz cortinas de fumaças que podem ser interpretadas como o próprio destino dos jovens que está encoberto por essa neblina psíquica.
O contraste também dessa cidade do interior, com locações sempre muito fechadas, com as imagens de sonho em frente ao mar, traz novos significados para a trama. E algumas junções de som com imagem ampliam ainda mais essa sensação, construindo um filme singelo.
Baseado no livro "Hoje Está um Dia Morto" de André de Leones, Dias Vazios é um filme poético e bem resolvido, crescendo em nossa mente quanto mais a gente pensa nele.
Filme visto no 22º Cine Pe.
Dias Vazios (Dias Vazios, 2018 / Brasil)
Direção: Robney Bruno Almeida
Roteiro: Robney Bruno Almeida
Com: Carla Ribas, Vinícius Queiroz, Nayara Tavares, Arthur Ávila, Natália Dantas
Duração: 103 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Dias Vazios
2018-06-03T15:55:00-03:00
Amanda Aouad
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