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Marcha Cega

Marcha Cega - filme

Não é de hoje que existe violência e excessos da polícia em contenções à população. Um país que começou como Colônia e passou por duas ditaduras, mesmo em estados democráticos, sofreu com censuras e repressões. Logo, ação policial nas manifestações populares que assolaram o país desde 2013 não nos parece uma novidade.

Marcha Cega localiza e resgata cada uma delas, ouvindo algumas vítimas da violência e trabalhando também com imagens da grande mídia sobre o que eles enquadraram como “vândalos” e “baderneiros”. Iniciando com as revoltas com a passagens de ônibus, passando pelas as ocupações das escolas e chegando ao impeachment de Dilma Rousseff, o movimento padrão parece ser o mesmo.

Marcha Cega - filmeAo contrário do que Marcelo Pedroso tentou fazer em Por trás da linha de escudos, ainda que sem tanto sucesso, o diretor Gabriel Di Giacomo não busca compreender o outro lado, colocando-os como uma grande massa repressora, mas traz fatos que nos parecem mesmo irrefutável em relação a seus excessos, como a maneira como atiram as balas de borracha, mirando os olhos dos manifestantes e como estão sempre organizados para abater os que consideram oponentes e não simplesmente conter as manifestações.

Ainda assim, não consegue construir um impacto reflexivo tão potente quando o do curta-metragem Universo Preto Paralelo que também foi exibido no Cine Pe deste ano. Isso porque, ainda que traga depoimentos fortes e mesmo explicações com auxílio de textos retirado das cartilhas dos militares, Marcha Cega não parece trazer nada de novo sobre o tema. O olhar reflete muito do já visto, sem dar um passo além.

Marcha Cega - filmeO ponto que poderia apontar um caminho a mais seria o olhar sobre o enquadramento da grande mídia, mas Di Giacomo não aprofunda esse debate, apenas expondo o que muitos já denunciaram nas mídias alternativas. O filme nem mesmo tensiona essas falas, deixando-as apenas como ilustração entre um depoimento e outro.

Há poucos respiros também na obra. Vemos muitos depoimentos diretos, textos explicativos e imagens das reportagens, restando poucos momentos para reflexão diante da verborragia em tela. Ainda assim, o filme traz alguns momentos poéticos, como a homenagem ao fotógrafo que perdeu um olho na avenida Paulista ou alguma imagens de manifestações.

Ainda que seja competente em seu objetivo de abordar o tema da violência policial e a maneira como, em um estado democrático, pessoas perderam sua liberdade por simplesmente irem às ruas se manifestar contra algo que não concordavam, Marcha Cega acaba não ultrapassando a linha artística de traz uma visão original ao tema. Não que seja obrigatório a um filme ser inédito, inovador ou mesmo extremamente criativo, mas falta a ele uma identidade própria. Ainda que forte e bem desenvolvido.

Um filme que, neste festival, serviu como preparo para outros dois que dialogam e ampliam seu discurso, o já citado curta Universo Preto Paralelo e a ficção Os Príncipes.

Filme visto no 22º Cine Pe.

Direção: Gabriel Di Giacomo
Roteiro: Gabriel Di Giacomo
Duração: 88 min.

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