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Os Príncipes

Os Príncipes  - filme

Uma crítica a tudo que está aí. Isso poderia ser o resumo de Os Príncipes. Pode parecer vazio e genérico, mas Luiz Rosemberg Filho constrói uma alegoria eficiente do Brasil atual, exagerando as cores sobre alguns aspectos como o machismo, o patriarcado, a corrupção e o sistema bélico que funcionam como catarse e um soco no estômago do espectador.

Acompanhamos dois homens que vagueiam pela cidade em sua rotina distópica de prazer nas atitudes erradas. Levam com eles duas mulheres prostitutas que vão sendo enredadas em um arco aprisionante que, desde a primeira cena, já da indícios de que não terminará bem.

Os Príncipes  - filmeA maneira como Rosemberg costura situações aparentemente aleatórias vão ganhando significado à medida que vamos construindo a trajetória dos dois príncipes cretinos que se divertem a cada novo passo. Como a cena em que encontram uma família de portugueses, pessoas que passam o dia assistindo a filmes de guerra à distância. A própria inserção da televisão desligada já demonstra o como isso faz parte de uma alegoria maior da própria criação do país.

É curioso como eles jogam com o espectador, quebrando muitas vezes a quarta parede e nos fazendo participar das confabulações e conclusões dos caminhos que a humanidade foi tomando. Toda a sequência do escritório, as relações de trabalho, as lógicas capitalistas, a corrupção passiva, estruturam um retrato cruel.

A posição da mulher nesse mundo distópico e sem regras é a mais complicada. Objeto a serviço das personas masculinas seja de ódio ou de desejo, vão sendo maltratadas em diversos níveis, construindo situações lamentáveis mesmo quando reagem, como na cena de Ana Abbott com Tonico Pereira. A personagem, por sinal, é um exemplo bom da própria situação da mulher, já que representa diversos aspectos. É assediada moralmente quando está trabalhando. É usada pelo chefe, por mais que reaja a isso. É prostituta e vai ter que seguir esses homens por essa estranha noite. É exposta quase como um prato ou objeto na casa dos portugueses.

Os Príncipes  - filmeSão tantas situações de maus tratos à mulher que é difícil de assistir a tudo de maneira passiva. Por mais que o filme busque essa crítica e traga postura combativa, em determinado momento, a corrupção, a violência gratuita, as guerras, tudo se perde e ficamos apenas na violência à mulher e há, na última cena, uma fala em específico que acaba por incomodar por ser jogada sem reflexão, sem contraponto, tornando-se uma mensagem perigosa, como se a mulher fosse também responsável pela violência que sofre.

O filme, no entanto, é extremamente bem feito. As escolhas de direção são cuidadosas, com uma montagem ágil que nos mostra o necessário, não cometendo excessos. A trilha sonora também se destaca, compondo uma apreciação estética boa, ainda que traga o nó no estômago e o eterno incômodo. Mérito também das atuações, capazes de trazer verdade a uma proposta alegórica que funciona bem como recorte exagerado de uma realidade já vivida.

Os Príncipes não é um filme fácil. Incômodo em diversos aspectos, mas trazendo uma proposta reflexiva competente. Um filme capaz de nos fazer pensar e ir descobrindo-o cada vez mais à medida que refletimos sobre os símbolos ali presentes. Tem problemas, mas seus acertos acabam por deixar um belo saldo positivo na tela.

Filme visto no 22º Cine Pe.

Os Príncipes (Os Príncipes, 2018 / Brasil)
Direção: Luiz Rosemberg Filho
Roteiro: Luiz Rosemberg Filho
Com: Ana Abbott, Igor Cotrim, Alexandre Dacosta, Patricia Niedermeier, Tonico Pereira
Duração: 90 min.

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