Home
Alexandre Dacosta
Ana Abbott
cinema brasileiro
cinepe2018
critica
Festival
filme brasileiro
Igor Cotrim
Luiz Rosemberg Filho
Patricia Niedermeier
Tonico Pereira
Os Príncipes
Os Príncipes
Uma crítica a tudo que está aí. Isso poderia ser o resumo de Os Príncipes. Pode parecer vazio e genérico, mas Luiz Rosemberg Filho constrói uma alegoria eficiente do Brasil atual, exagerando as cores sobre alguns aspectos como o machismo, o patriarcado, a corrupção e o sistema bélico que funcionam como catarse e um soco no estômago do espectador.
Acompanhamos dois homens que vagueiam pela cidade em sua rotina distópica de prazer nas atitudes erradas. Levam com eles duas mulheres prostitutas que vão sendo enredadas em um arco aprisionante que, desde a primeira cena, já da indícios de que não terminará bem.
A maneira como Rosemberg costura situações aparentemente aleatórias vão ganhando significado à medida que vamos construindo a trajetória dos dois príncipes cretinos que se divertem a cada novo passo. Como a cena em que encontram uma família de portugueses, pessoas que passam o dia assistindo a filmes de guerra à distância. A própria inserção da televisão desligada já demonstra o como isso faz parte de uma alegoria maior da própria criação do país.
É curioso como eles jogam com o espectador, quebrando muitas vezes a quarta parede e nos fazendo participar das confabulações e conclusões dos caminhos que a humanidade foi tomando. Toda a sequência do escritório, as relações de trabalho, as lógicas capitalistas, a corrupção passiva, estruturam um retrato cruel.
A posição da mulher nesse mundo distópico e sem regras é a mais complicada. Objeto a serviço das personas masculinas seja de ódio ou de desejo, vão sendo maltratadas em diversos níveis, construindo situações lamentáveis mesmo quando reagem, como na cena de Ana Abbott com Tonico Pereira. A personagem, por sinal, é um exemplo bom da própria situação da mulher, já que representa diversos aspectos. É assediada moralmente quando está trabalhando. É usada pelo chefe, por mais que reaja a isso. É prostituta e vai ter que seguir esses homens por essa estranha noite. É exposta quase como um prato ou objeto na casa dos portugueses.
São tantas situações de maus tratos à mulher que é difícil de assistir a tudo de maneira passiva. Por mais que o filme busque essa crítica e traga postura combativa, em determinado momento, a corrupção, a violência gratuita, as guerras, tudo se perde e ficamos apenas na violência à mulher e há, na última cena, uma fala em específico que acaba por incomodar por ser jogada sem reflexão, sem contraponto, tornando-se uma mensagem perigosa, como se a mulher fosse também responsável pela violência que sofre.
O filme, no entanto, é extremamente bem feito. As escolhas de direção são cuidadosas, com uma montagem ágil que nos mostra o necessário, não cometendo excessos. A trilha sonora também se destaca, compondo uma apreciação estética boa, ainda que traga o nó no estômago e o eterno incômodo. Mérito também das atuações, capazes de trazer verdade a uma proposta alegórica que funciona bem como recorte exagerado de uma realidade já vivida.
Os Príncipes não é um filme fácil. Incômodo em diversos aspectos, mas trazendo uma proposta reflexiva competente. Um filme capaz de nos fazer pensar e ir descobrindo-o cada vez mais à medida que refletimos sobre os símbolos ali presentes. Tem problemas, mas seus acertos acabam por deixar um belo saldo positivo na tela.
Filme visto no 22º Cine Pe.
Os Príncipes (Os Príncipes, 2018 / Brasil)
Direção: Luiz Rosemberg Filho
Roteiro: Luiz Rosemberg Filho
Com: Ana Abbott, Igor Cotrim, Alexandre Dacosta, Patricia Niedermeier, Tonico Pereira
Duração: 90 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Os Príncipes
2018-06-04T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
Alexandre Dacosta|Ana Abbott|cinema brasileiro|cinepe2018|critica|Festival|filme brasileiro|Igor Cotrim|Luiz Rosemberg Filho|Patricia Niedermeier|Tonico Pereira|
Assinar:
Postar comentários (Atom)
cadastre-se
Inscreva seu email aqui e acompanhe
os filmes do cinema com a gente:
os filmes do cinema com a gente:
No Cinema podcast
anteriores deste site
mais populares do site
-
O desejo de todo ser humano é ser amado e se sentir pertencente a algo. Em um mundo heteronormativo, ser homossexual é um desafio a esse des...
-
Não confundam com o filme de terror de 1995 dirigido por Gregory Widen . Relembro hoje, Iron Jawed Angels , um filme da HBO sobre a luta p...
-
Tem uma propaganda em que a Dove demonstra como o padrão de beleza feminino é construído pelo mercado publicitário . Uma jovem com um rost...
-
Poucas obras na literatura evocam sentimentos tão contraditórios quanto O Morro dos Ventos Uivantes , o clássico gótico de Emily Brontë . A...
-
Muitos filmes eróticos já foram realizados. Fantasias sexuais, jogo entre dominação e dominado, assédios ou simplesmente a descoberta do pr...
-
A cada morte de um papa , o mundo aguarda na praça São Pedro, com olhares ansiosos para a chaminé que lançará uma fumaça preta ou branca ao ...
-
Encarar o seu primeiro longa-metragem não é fácil, ainda mais quando esse projeto carrega tamanha carga emocional de uma obra sobre sua mãe....
-
O dia de hoje marca 133 anos do nascimento de John Ronald Reuel Tolkien e resolvi fazer uma pequena homenagem, me debruçando sobre sua vid...
-
Em 1990, Uma Linda Mulher reconfigurou o conto de fadas de Cinderela ao nos apresentar um romance entre uma prostituta e um empresário de ...