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Mulheres Alteradas
Mulheres Alteradas
Filme de abertura do 22º Cine Pe, Mulheres Alteradas é baseado nos quadrinhos da cartunista argentina Maitena, trazendo visões diversas de mulheres igualmente diferentes, sempre com humor e verdade. No elenco, nomes como Deborah Secco, Alessandra Negrini, Monica Iozzi, Sérgio Guizé e Daniel Boaventura dão peso ao filme de estreia de Luiz Pinheiro após sua boa experiência na televisão. E o resultado, apesar de irregular, tem qualidade.
A trama é uma bobagem, uma comédia leve sobre problemas cotidianos na vida de quatros mulheres em estágios distintos. Keka (Deborah Secco) tenta salvar seu casamento. Marinati (Alessandra Negrini) está em um importante momento de sua carreira, mas acaba se apaixonando. Sônia (Monica Iozzi) está cansada da rotina de cuidar da casa e seus dois filhos, ainda que os ame e esteja bem resolvida no casamento. Já Leandra (Maria Casadevall) está cansada da vida instável de solteira, querendo constituir uma família.
O roteiro não-linear vai costurando as situações de maneira divertida e livre, já que Keka trabalha para Marinati, que é amiga de Sônia, que por sua vez é irmã de Leandra. As situações vão puxando as tramas pregressas ou mesmo futuras, como quando Keka e seu marido Dudu encontram Marinati na praia e o roteiro retrocede para contar como chegaram até ali.
Ainda que trabalhe com estereótipos e clichês próprios do gênero, o filme parece fazer um esforço para mudar alguns padrões, como escalar Monica Iozzi, que tem se estabelecido para o grande público como uma atriz de comédia, para interpretar o papel mais sério das quatro. Ou quando coloca Deborah Secco para interpretar Keka, a menos sexy das quatro. Sua caracterização de óculos, franjinha e um tom atrapalhado, ajudam, porém, o fato da atriz estar a maior parte da projeção de biquíni acaba por desestruturar um pouco essa intenção.
Alessandra Negrini acaba sendo o grande destaque do elenco, conseguindo reproduzir as caras e bocas do desenho com uma estrutura cômica eficiente e funcionando muito bem tanto como chefe carrasca quanto como boba apaixonada. Traz, de maneira divertida, um dos prontos mais incômodos para as mulheres pós-modernas, a incapacidade de equilibrar vida pessoal com vida profissional. Mas o interessante da obra de Maitena é que ela demonstra que isso é um caso possível, já que a diversidade das personagens traz outras questões e reforça que uma mulher pode ter mais de um objetivo que não gire apenas em torno de um homem.
De qualquer maneira, não deixa de ser curioso que todos os homens que aparecem no filme sejam tolos, incapazes ou cafajestes. O único que foge desse padrão, o marido da personagem Sônia, é apenas citado, não sendo personificado em tela. Não deixa de ser um exagero, mas é uma visão que vem dos quadrinhos dos anos 90 e não deixa de ser uma resposta ao padrão de representação da mulher por décadas.
No final das contas, Mulheres Alteradas é um filme divertido. Sem maiores pretensões, traz gritos de liberdade e de escolhas dessas mulheres, que estão em transição, como o letreiro no início da projeção explica. Alteradas não é no sentido pejorativo de "loucas", mas sim, em processo de alteração. Todas, de alguma forma estamos sempre passando por isso. Aprendendo a cada dia que é preciso entender sentimentos, desejos, necessidades, independente dos padrões impostos. Um filme que, apesar de dirigido e roteirizado por homens, consegue trazer uma visão diferente das mulheres nas comédias. De objetos, elas passam aqui a sujeitos, mesmo que em muitos momentos de biquíni.
Filme visto no 22º Cine Pe
Mulheres Alteradas (Mulheres Alteradas, 2018 / Brasil)
Direção: Luis Pinheiro
Roteiro: Caco Galhardo
Com: Deborah Secco, Alessandra Negrini, Monica Iozzi, Sérgio Guizé e Daniel Boaventura, Maria Casadevall
Duração: 90 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Mulheres Alteradas
2018-06-18T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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