
Após uma batalha grandiosa em Vingadores - Guerra Infinita, a Marvel traz uma trama quase intimista para as telas. Com muita ação e piadas, como já ficou caracterizado em seu estilo, mas com uma abordagem clássica, com uma missão definida, ainda que a narrativa traga subtramas que enriquecem a experiência.
A estrutura que embasa o filme é familiar. Dr. Hank Pym e sua filha Hope Van Dyne buscam uma forma de reencontrar a matriarca da família, Janet Van Dyne, perdida no mundo subatômico. Scott Lang, em prisão domiciliar, tenta manter uma rotina divertida com sua filha Cassie. E a antagonista Ava, ainda que não tenha isso como missão principal, traz, em sua trama, consequências de escolhas de seus pais.O roteiro não gasta muito tempo explicando as consequências da Guerra Civil na vida de Scott, ou mesmo de Hope e Dr. Hank Pym, mas é curiosa a forma como o universo dos Vingadores consegue ser abordado mesmo em obras onde a intenção é deixar um pouco de lado essa trama macro. A equipe de roteiristas é feliz ao dosar informações essenciais com o desenvolvimento da narrativa, ainda que traga o excesso de piadas e termos científicos que podem cansar em algum momento.
De qualquer maneira, a aventura é competente, com cenas bem planejadas e um jogo funcional da principal característica desses heróis que é a capacidade de diminuir e aumentar de tamanho a todo momento. As mudanças de perspectivas e ponto de vista para brincar com essas dimensões sempre trazem boas gags visuais e os efeitos especiais ajudam na sensação realista de um universo tão pouco palpável. A dinâmica entre a Vespa e o Homem-Formiga é orgânica, dosando bem a importância dos dois como uma verdadeira dupla, sem uma hierarquia que torna a trama mais envolvente e divertida. Paul Rudd se encaixa, mais uma vez, muito bem na pele do herói engraçado e Evangeline Lilly consegue construir Hope com grande empatia. Outro ator que se destaca em cena é Michael Peña, como o atrapalhado Luis, que ajuda, mas também traz problemas para os heróis.
Walton Goggins faz um vilão genérico com o seu ambicioso Sonny, protagonizando as sequências mais bobas e cansativas da obra, onde o maniqueísmo parece imperar. Já Hannah John-Kamen traz camadas para o antagonismo aos heróis, construindo, inclusive, possíveis reflexões sobre o que é certo e errado e ampliando as próprias discussões sobre ciência e ética. E há ainda o antagonismo do próprio FBI, sempre buscando pegar os heróis no contrapé. Depois de ver tantos heróis em tela ao mesmo tempo, a dinâmica do Homem-Formiga com a Vespa, incluindo a dupla antiga, acaba dando mesmo esse ar intimista, por mais que a batalha envolva toda a cidade, como algumas sequências de perseguição ou uma batalha na água. O que fica da obra é a sensação de um capítulo à parte, um respiro no universo, por mais que a cena pós-crédito busque, como sempre, fazer um link com a estrutura macro.
Homem-Formiga e a Vespa não é dos melhores filmes da Marvel, não traz nada de novo que chame a atenção em especial, mas é uma aventura competente que explora bem suas personagens e apresenta uma trama coerente, ainda que, se formos esmiuçar roteiro e situações, encontraremos muitas incongruências, inclusive científicas. Mas acabam sendo detalhes no conjunto da obra, que cumpre sua função.
Homem-Formiga e a Vespa (Ant-Man and the Wasp, 2018 / EUA)
Direção: Peyton Reed
Roteiro: Chris McKenna, Erik Sommers, Paul Rudd, Andrew Barrer, Gabriel Ferrari
Com: Paul Rudd, Evangeline Lilly, Michael Peña, Michael Douglas, Laurence Fishburne, Michelle Pfeiffer, Hannah John-Kamen, Walton Goggins
Duração: 118 min.

