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Fevereiros

Fevereiros - filme

Intérprete singular, Maria Bethânia já teve diversos documentários se debruçando sobre sua carreira, seja de maneira solo como “Pedrinha de Aruanda” e "Música é Perfume”, ou de maneira coletiva como “Os Doces Bárbaros". O maior mérito de Fevereiros, filme dirigido por Marcio Debellian, é conseguir um frescor de novidade, buscando outros pontos de vista e até mesmo curiosidades sobre essa “menina de Oyá”.

Partindo da homenagem feita pela escola de samba Estação Primeira de Mangueira no Carnaval de 2016, o filme vai buscar compreender a força da religiosidade na vida de Bethânia e a maneira como ela consegue sincretizar tão bem a fé católica com a devoção do candomblé. De Nossa Senhora da Purificação a Oxum, Santa Bárbara a Iansã, essa baiana de Santo Amaro sempre se destacou, a ponto de desde pequena ser escolhida para as procissões ao contrário de sua irmã mais velha Mabel, como a própria conta em depoimento.

Fevereiros - filmeO título da obra, Fevereiros, não fala exatamente do Carnaval, como pode parecer à primeira vista, mas desse período em que Bethânia dedica a sua devoção à cidade onde nasceu e às festas locais como explicita a música que ela mesma interpreta: “Trabalhei o ano inteiro. Na esquiva de São Paulo. Só pra passar fevereiro em Santo Amaro.” Mais do que isso, a cantora confessa que sempre guarda objetos novos para usar pela primeira vez em fevereiro, seja uma roupa, um acessório ou mesmo um objeto eletrônico.

Focando na religiosidade, nas tradições ancestrais e na própria relação da intérprete com isso, o filme vai costurando o tema entre imagens de Santo Amaro, arquivos de shows, preparativos para o carnaval e o desfile na Sapucaí. A sensação do roteiro é de que não há uma linha tão bem planejada, as próprias idas e vindas entre Rio de Janeiro e Santo Amaro não parecem tão orgânicas, principalmente, pelo filme ter sido vendido em sua sinopse e trailer como uma espécie de bastidores desse carnaval.

Fevereiros - filmeA estrutura também não parece das mais criativas, com uma linguagem tradicional de documentário, sem ousar muito em formato ou mesmo recursos em tela. Porém, a força de Bethânia acaba por tornar a obra prazerosa e o fato de ser uma espécie de investigação da fé, tudo acaba fazendo sentido. Afinal, a fé, por si só, é algo pouco palpável e muitas vezes ilógico. Assim, a narrativa vai se delineando em tela de uma maneira fluída, sendo cabível inclusive um diálogo nonsense de Bethânia e Chico Buarque sobre os orixás ou a explicação de Caetano Veloso para a letra de sua música Milagres do povo, onde ele revela pela primeira vez que o “ateu que viu milagres” é na verdade Jorge Amado e não ele.

Por trazer a religiosidade de Bethânia, o filme recorre muitas vezes a Mãe Menininha do Gantois, principal guia espiritual da cantora, seja em imagens de arquivo ou citações. Uma delas acaba sendo hilária, pois revela que a ialorixá teria dito que Caetano e Bethânia eram a mesma pessoa, referindo-se a questões espirituais, claro, mas que acabam trazendo muito das brincadeiras que até hoje são feitas sobre as semelhanças entre os irmãos.

Entre idas e vindas do Rio a Santo Amaro, Fevereiros é um documentário competente. Aposta suas fichas na empatia da personagem retratada que parece mesmo ter um brilho próprio, envolvendo-se por sua história, seu canto, sua fala, e claro, sua fé. Que essa "menina dos olhos de Oxum" continue nos palcos nos encantando cada vez mais com a força de Iansã e a benção de Nossa Senhora.


Filme visto no 10º In-Edit Brasil – Festival Internacional do Documentário Musical.
Fevereiros (Fevereiros, 2018 / Brasil)
Direção: Marcio Debellian
Roteiro: Marcio Debellian, Diana Vasconcellos
Duração: 73 min.

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