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O Banquete
O Banquete
No dia 25 de abril de 1991, o jornal Folha de São Paulo publicou uma carta aberta do seu diretor, Otávio Frias Filho, ao então presidente da república Fernando Collor de Mello. Este fato relaciona o jornalista ao protagonista de O Banquete, novo filme de Daniela Thomas. Tanto que, com o falecimento de Frias durante o período do Festival de Gramado, a obra foi retirada da competitiva a pedido da cineasta. E só por isso, fica parecendo que falta ao espectador comum uma informação extra, um código para compreender de fato o que é visto em tela, dando a sensação de algo direcionado a um grupo específico.
Na verdade, esquecendo essa citação à carta, O Banquete traz um retrato genérico da elite brasileira. Uma grande mesa que reúne a imprensa e a classe artística observadas pelo cidadão assalariado que está ali para servi-los. Há uma busca pela ironia crítica de Buñuel com O Anjo Exterminador, assim como uma certa relação cênica com Deus da Carnificina. Além, claro, da inspiração declarada a O Banquete, de Platão. Os gregos, inclusive, são evocados a todo momento, seja em filosofias, em citações ao amor ou mesmo em piadas jocosas de mal gosto sobre a sexualidade deles.
A trama é construída a partir de um jantar para comemorar os dez anos de casados de Mauro (Rodrigo Bolzan) e Beatriz (Mariana Lima), ele um editor de uma revista, ela uma atriz famosa. A festa é organizada por Norma (Drica Moraes), amiga do casal, que além dela e seu marido (Caco Ciocler), convida a amante (Fabiana Gugli) do jornalista para uma noite tensa pela ameaça da prisão do mesmo, devido à publicação de uma carta aberta ao presidente da República, Fernando Collor de Mello.
A carta ao presidente, a questão da corrupção e a frágil recente redemocratização do país não chegam a ser um pano de fundo verdadeiramente importante. Toda a construção cênica parece movida pela vingança de uma mulher contra um homem mulherengo. Uma noite regada a vinho e comidas afrodisíacas que vai desvelando máscaras e hipocrisias para expor o jogo amoral que envolve a elite brasileira. E não deixa de ser curioso como tudo começa com a desculpa de celebrar o amor, por isso, a evocação ao banquete de Platão. O fato de estarem todos ao redor da mesa de jantar também traz a relação óbvia com Panis Et Circensis.
Por ser toda centrada na sala de jantar, com suas personagens ao redor da mesa, a mise-en-scène de O Banquete acaba sendo fundamental para construção da linguagem fílmica. Há uma estrutura cenográfica que busca facilitar os olhares com uma parede revestida por espelhos e as demais abertas, facilitando o trânsito das personagens e da câmera. Além de facilitar o enquadramento de várias personagens ao mesmo tempo, o espelho acaba proporcionando também significados extras, como cenas vistas apenas por seu reflexo, como uma possível intenção de mostrar o real e suas representações. Há um jogo cênico entre mostrar e esconder também que acaba funcionando bem, mesmo em planos tão fechados. Ou seja, há um trabalho de direção e de fotografia bem planejado para a escalada que o roteiro constrói em sua curva dramática que vai revelando aquelas pessoas e intenções aos poucos.
Ainda que pareça existir uma intenção escusa na referência direta a pessoas e situações reais, O Banquete parece apenas partir disso para ficcionalizar uma sensação genérica sobre um grupo específico e todos os jogos que o envolvem. Ainda que não original, bebendo em diversas fontes filosóficas, literárias, teatrais e fílmicas, há de se reconhecer um mérito artístico na obra. Com boas atuações e uma direção bem planejada, o filme passa o seu recado. Ainda que a promessa de reflexão política se perca na sinopse e a própria reflexão filosófica sobre a natureza humana não passe do superficial.
O Banquete (O Banquete, Brasil, 2018)
Direção: Daniela Thomas
Roteiro: Daniela Thomas
Com: Drica Moraes, Rodrigo Bolzan, Caco Ciocler, Mariana Lima, Fabiana Gugli, Gustavo Machado, Chay Suede, Bruna Linzmeyer
Duração: 104 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Banquete
2018-09-04T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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