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Sintonia de Amor
Sintonia de Amor
Por mais clichê que seja, um gênero que não parece esgotar sua fórmula é o de comédia romântica. Há uma leveza em acompanhar um bom romance água com açúcar torcendo para que o casal fique junto no final nos fazendo acreditar no amor e nas possibilidades da vida.
Sintonia de Amor é um exemplar peculiar dentro desse cenário porque não se utiliza de alguns elementos clássicos do gênero que aproxima e afasta os casais diversas vezes antes do happy end. Na verdade, é um filme de um amor platônico que tinha tudo pra nunca se concretizar, mas que, por obra do destino, vai se desenhando, como uma predestinação.
Dirigido e roteirizado por Nora Ephron, conta a história de Annie e Sam. Na véspera de Natal, ela ouve no rádio o depoimento apaixonado de Sam sobre sua falecida esposa e a falta que sente dela. Mesmo noiva, Annie acaba se encantando por aquele homem e não resiste em escrever-lhe uma carta que, como muitas que recebe, é ignorada por Sam, mas seu filho Jonah tem a certeza de que encontrou sua nova mãe e tentará juntá-los.
Construída a partir da narrativa paralela das duas personagens em cidades em extremos opostos dos Estados Unidos, o filme não tem vilões, nem conflitos que compliquem a relação de ambos além dos encontros e desencontros que a situação já permite. É uma estrutura mirabolante que tinha tudo para dar errado, mas por algum motivo nos faz crer ser possível. Uma predestinação irracional como muitas vezes é o amor.
Nora Ephron aproxima os dois de maneira muito hábil através de elementos sutis como colocar Annie de maneira natural em uma noite descascando uma maçã com uma tira inteira e cenas depois fazer Sam contar a Jonah que sua mãe fazia isso. Há junções também de enquadramentos como se colocasse os dois lado a lado em situações diversas. Isso sem falar na primeira vez que Sam vê Annie no aeroporto sem saber que é a mesma mulher da carta e sente-se atraído por ela. Meg Ryan e Tom Hanks quase não contracenam, mas conseguem construir uma química impressionante nos fazendo crer que foram mesmo feitos um para o outro, tanto que a diretora repetiu o casal em seu filme seguinte Mensagem para Você.
Mas o plus da trama é mesmo a relação com o clássico Tarde Demais para Esquecer, filme que Annie e sua amiga veem repetidas vezes chorando e sonhando com o amor mágico e verdadeiro que só os filmes trazem. A ideia de marcar no topo do Empire State tal qual o casal Nickie e Terry desencadeia as diversas citações à obra, todas hilárias como a irmã de Sam contando a trama em prantos ou a namoradinha do menino conhecendo o filme ou ainda Annie e a amiga assistindo e repetindo as falas decoradas.
O filme tem bom ritmo que nos embala. Trabalha muito bem os momentos cômicos, equilibrando com os românticos. Os diálogos são bem construídos com toques de ironia e um ritmo ágil que ajuda na composição das cenas, algo que já foi comprovado em outros roteiros de Nora Ephron, como Harry e Sally. A direção utiliza ainda elementos gráficos como o mapa para desenhar as distâncias percorridas.
Comédias românticas existem muitas, mas Sintonia de Amor é daquelas obras que marcam. Uma história divertida que nos faz sonhar com o amor perfeito.
Sintonia de Amor (Sleepless in Seattle, 1993 / EUA)
Direção: Nora Ephron
Roteiro: Nora Ephron, David S. Ward, Jeff Arch
Com: Tom Hanks, Meg Ryan, Ross Malinger, Bill Pullman
Duração: 105 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Sintonia de Amor
2018-09-02T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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