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Sonhos e imagens, responsabilidades e culpas, amores, traições e rejeições. Albatroz, novo filme do diretor Daniel Augusto que entra em cartaz no dia 07 de março é um pouco de tudo isso em sua busca quase insana por não ser compreendido.
Bebendo na fonte de diretores como David Lynch, Cronenberg e até Bergman, o diretor de Não Pare na Pista, constrói sua narrativa de maneira não-linear valorizando a composição estética e sensações da profusão de imagens desconectas que emulam um sonho, ou melhor um pesadelo.
Simão, o protagonista, vai retomando aos poucos sua consciência e à medida que suas lembranças vão se encaixando, vão sendo também oferecidas ao espectador, que precisa ir juntando as peças, sem uma certeza de que tudo será explicado, nem mesmo o que é sonho, fantasia ou realidade.
A proposta é instigante e tem bons momentos, o problema acontece quando ele tenta explicar o experimento em um tom over caricato de um grupo de cientistas liderado por Andreia Horta. A atriz constrói um estereótipo de “cientista maluca” digno de filmes B estadunidenses que acaba prejudicando parte da imersão. Tudo piora quando surge a personagem de Marcelo Serrado que “encomenda” o experimento.
O plot do fotógrafo que flagra com sua câmera um linchamento e é condenado pela opinião pública por ter fotografado o corrido, em vez de ajudar a vítima, instiga e poderia render ótimas reflexões. Mas a proposta do roteiro não-linear que valoriza mais o suspense do que esse fato acaba não dando espaço para isso. De qualquer maneira, a própria composição estética desse jogo do que é ou não "fotografável" gera efeitos sensoriais que nos envolve, ampliando a experiência.
Alexandre Nero se destaca como esse homem perturbado pela confusão mental em que se vê envolvido, seja por lembranças, imagens desconectas e experiências sem explicação. Andreia Beltrão e Camila Morgado oscilam entre um certo realismo e uma caricatura que podem casar com a proposta, já que esse limiar entre o real e o sonho faz parte da narrativa. Maria Flor, no entanto, tem pouco material para trabalhar sua personagem, que poderia ser melhor explorada.
O filme é construído com um tom de suspense, envolvendo acidentes, teorias da conspiração, crime passional e poucas informações. Receita certa para gerar curiosidade e nos deixar presos à tela apesar de algumas inconsistências e escolhas duvidosas, principalmente no tom com que constrói o time de cientistase a explicação para o experimento.
No final, Albatroz é uma grande confusão fílmica, mas que tem valor experimental e instiga em boa parte do tempo. Causa estranhamento e traz algumas inconsistências que não fazem muito sentido. Ainda assim, consegue ser uma experiência válida.
Albatroz (Albatroz, 2019 / Brasil)
Direção: Daniel Augusto
Roteiro: Braulio Mantovani
Com: Alexandre Nero, Andréa Beltrão, Maria Flor, Camila Morgado, Andreia Horta, Marcelo Serrado
Duração: 93 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Albatroz
2019-03-06T13:44:00-03:00
Amanda Aouad
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