Apostando no talento e timing cômico da atriz Ingrid Guimarães, De Pernas para o Ar nunca foi uma comédia típica. Na verdade, desde o primeiro filme, a obra se destacou como uma comédia romântica que brinca com o mote sexual e traz questões do universo feminino.
Segunda franquia do cinema nacional a chegar a um terceiro filme, acaba caindo no mesmo problema de repetição de fórmula e uma certa sensação de que não há fôlego para explorar muito mais daquele universo, mas também traz algumas questões instigantes como o arco entre Alice e a jovem empresária que surge no mercado, fazendo-a se sentir ameaçada.
Alice continua workaholic e sua empresa, a Sexy Delícia, já é uma realidade internacional com diversas filiais, o que a fez ficar cada vez mais longe da família. Sem conseguir conciliar trabalho e vida pessoal, ela resolve se aposentar, mas, claro, que a dinâmica desenvolvida nos filmes anteriores vai se repetir. O fato de deixar Alice aposentada por um tempo, tentando viver uma rotina de mãe, esposa e dona de casa faz a narrativa dar um foco maior nessas questões familiares. O relacionamento com o marido João continua sendo difícil, com ele sempre reclamando de falta de atenção e o fato de suas questões ficarem sempre em segundo plano. Agora, o filho adolescente faz eco ao pai, deixando tudo ainda mais dramático.
Há uma insistência em construção de estereótipos, exagerando os excessos de Alice e as situações tragicômicas. Mas há também outros pontos de vista femininos que ajudam a quebrar isso, o que traz camadas à obra e a tornam mais complexa que as anteriores, ainda que pareça muitas vezes engessada e menos divertida.
Primeiro, a mãe de Alice, que ao assumir a empresa, consegue dosar bem trabalho e lazer, para ela e para os funcionários. A cena em que ela dá folga ao grupo por ter batido a meta, por exemplo, demonstra bem a diferença da maneira exagerada de Alice encarar o trabalho. Segundo, a jovem Leona, que chega como uma ameaça, mas vai ensinar a Alice o óbvio, mulheres não precisam competir entre si, há espaço para todas. Essa é uma questão que sempre está em pauta, já que a sociedade e a mídia tendem a criar rixas entre mulheres de sucesso em uma mesma área. E o filme consegue construir um arco interessante nesse sentido, ajudando na valorização da mulher e buscando quebrar essa sensação de solidão que muitas vezes acomete aquelas que são bem sucedidas.
No final do primeiro De Pernas pro Ar, o filho de Alice, ainda pequeno, diz para a mãe ao negar o videogame que, as vezes é bom, mas brincar sempre sozinho é chato. E é isso que o filme continua querendo demonstrar, é possível encontrar o prazer sozinho, mas compartilhar isso com alguém que se ama é muito melhor. Como foi dito, uma típica comédia romântica que, mais do que rir, pretende fazer seu público sonhar.
De Pernas pro Ar 3 (De Pernas pro Ar 3, 2019 / Brasil)
Direção: Julia Rezende
Roteiro: Marcelo Saback, Rene Belmonte, Ingrid Guimarães
Com: Ingrid Guimarães, Denise Weinberg, Bruno Garcia, Samya Pascotto, Cristina Pereira, Stepan Nercessian, Maria Paula
Duração: 108 min.
