Dois Irmãos: Uma jornada fantástica
Não é novidade que a Pixar sabe criar roteiros com camadas capazes de atingir diversos públicos. Dois irmãos: Uma jornada fantástica mantém a fórmula e ressignifica elementos para nos apresentar uma aventura singela e cheia de emoções sobre dois irmãos, um pai falecido e um mundo mágico esquecido.
O universo ficcional traz a estrutura de nosso mundo atual, só que habitado por criaturas antes mágicas como elfos, centauros, fadas e diversas outras raças que transitam pela cidade como seres humanos quaisquer, utilizando carros, celulares, indo à escola, fazendo exercícios guiados por programas de televisão, entre outros costumes do mundo atual.
A estrutura da narrativa é explicitamente inspirada em missões de RPG. No dia do aniversário do jovem elfo Ian, ele e seu irmão, recebem um inusitado presente do pai falecido, um cajado mágico e uma instrução para uma magia que fará o progenitor retornar a vida por um dia. Fã da história da magia e conhecedor de todas as raças, como um bom jogador de RPG, Barley se empolga, mas não tem o dom. Cabe ao caçula descrente se tornar o mago que existe dentro dele e trazer o pai de volta. Mas claro que nada disso será fácil.
A dinâmica da missão que uma pista leva a outra com desafios e pequenas tarefas a cada passo, reforça a estrutura de um jogo de RPG. Em especial, por causa do mundo ficcional que explora. Mas não chega a ficar esquemático, nem cansativo, porque intercala bem com o aprofundamento da relação entre os irmãos e toda a carga emocional que isso detona.
A relação entre o irmão crente sem poderes e o descrente com poderes não é original, mas gera bons conflitos. Ian nunca conheceu o pai, é o típico garoto inseguro, sem amigos, que sofre no colégio por não se enturmar. A missão acaba sendo também sua oportunidade de auto-conhecimento e crescimento. Já Barley vive no mundo da fantasia, não parece ter um rumo na vida, a missão é uma forma de provar seu valor.
E é nessa relação que a estrutura da trama nos encanta e ajuda a acessar emoções e lembranças relacionadas a nossa própria vida. Há o luto, mas há também a esperança. E a questão da busca por si mesmo, resgate da auto-estima e compreensão de seus valores permeia todo o roteiro, sendo capaz de tocar diversos públicos distintos.
A exploração do mundo mágico e suas criaturas, mesmo que tolhidas em um mundo burocrático e tecnológico, traz um apelo visual para as crianças. Principalmente quando apela para o humor, como um centauro policial que utiliza carro. Ou uma gangue de fadinhas de moto. Isso sem falar em uma certa taverna temática.
Dois irmãos: uma jornada fantástica é uma obra divertida e emocionante como os mais famosos filmes já feitos pela Pixar. Com a possibilidade de nos fazer rir e chorar quase ao mesmo tempo, atingindo os mais diversos públicos. Uma confirmação de que o estúdio ainda é capaz de grandes feitos.
Dois Irmãos: Uma jornada fantástica (Onward, 2020 / EUA)
Direção: Dan Scanlon
Roteiro: Dan Scanlon, Jason Headley, Keith Bunin
Duração: 102 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Dois Irmãos: Uma jornada fantástica
2020-03-02T13:54:00-03:00
Amanda Aouad
animacao|aventura|comedia|critica|Dan Scanlon|infantil|
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