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Jojo Rabbit
Jojo Rabbit
Baseado no livro de Christine Leunens, Jojo Rabbit é um filme delicado que pode ser interpretado por diversas maneiras. Há quem diga que com nazismo não se brinca, mas Taika Waititi usa sua descendência judia para refletir através da ironia. O resultado é competente, principalmente pela qualidade do roteiro.
Quando Elsa, a menina judia, diz a Jojo que ele não é nazista, apenas um menino que gosta da suástica, apresenta um pouco do tom da trama. É a visão romântica de um ingênuo garoto alemão sobre um dos piores momentos da humanidade. Através de sua fantasia infantil com o amigo imaginário Hitler e todo o seu entorno, Jojo vai desvelando as nuanças daquela situação cruel e a falta de lógica do ideal da supremacia ariana e os mitos em relação aos judeus.
Fazer piada com o absurdo é uma maneira inteligente de nos fazer pensar sobre o assunto. Não que alguém acredite que judeus são demônios com chifres e tenham por costume a zoofilia. Mas pode construir um paralelo com todos os absurdos que ouvimos sobre qualquer povo ou grupo. Como os “comunistas que comem criancinhas” ou “as feministas que querem matar os homens” ou “os homossexuais que são promíscuos”. Crer em preconceitos sobre o outro não é um privilégio dos alemães que compraram a ideologia nazista.
Um dos diálogos mais reveladores dessa questão que o filme busca refletir é quando Jojo pergunta como faz para reconhecer um judeu e o soldado alemão diz que é complicado, pois eles podem “se disfarçar de alemães”. Há uma profundidade nessa afirmação irônica que nos mostra não haver, de fato, diferença entre os povos. Isso se confirma em outra situação mais à frente relacionando Elsa à irmã de Jojo.
Com um tom leve e divertido, o roteiro vai nos conduzindo nessa dramedia imprimindo um ritmo ágil com uma direção sensível. A construção do olhar da criança é essencial para que a proposta funcione direito e as escolhas de planos são fundamentais em determinados momentos, como a câmera subjetiva após o acidente. Ou a câmera baixa em uma cena na praça que acerta em não mostrar detalhes que seriam apelativos.
O elenco é outro grande destaque, em especial Scarlett Johansson que interpreta a mãe de Jojo com uma sensibilidade impressionante. Há verdade no drama dessa mulher que não concorda com a política vigente, mas tenta apoiar seu filho e a ilusão dele de um mundo fantástico até mesmo como proteção à sua vida.
Há um limiar, no entanto, nesse humor que acaba incomodando. A própria figura simpática de Hitler como o amigo imaginário de Jojo pode chocar em alguns momentos. E ideia de nazistas bonzinhos também. O filme acaba abrindo margem para algumas confusões de pessoas menos esclarecidas.
De qualquer maneira, Jojo Rabbit é um filme que envolve e até mesmo encanta em algum nível. Tem um roteiro inteligente e ágil, que perde um pouco do ritmo na parte final, mas não deixa de ser uma experiência instigante.
Jojo Rabbit (Jojo Rabbit, 2020 / EUA)
Direção: Taika Waititi
Roteiro: Taika Waititi
Com: Roman Griffin Davis, Thomasin McKenzie, Scarlett Johansson
Duração: 108 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Jojo Rabbit
2020-02-19T21:57:00-03:00
Amanda Aouad
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