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Cidadão Kane
Rosebud. Esta palavra balbuciada por Charles Foster Kane no seu leito de morte é o que puxa o fio narrativo da trama de Cidadão Kane, filme roteirizado, dirigido e protagonizado por Orson Welles que é um marco da história do cinema mundial.
A obra inova em diversos aspectos da linguagem cinematográfica, mas essa escolha narrativa acaba sendo a isca para entrarmos na trama de uma maneira definitiva. Um magnata da comunicação acaba de morrer, rememorar sua história, ou mesmo contá-la na ordem cronológica seria apenas um lugar comum. O próprio filme traz uma reportagem impessoal sobre sua vida que pouco empolga.
Mas ele morreu balbuciando uma palavra que ninguém conhece. O mistério é o plus. O conflito está instalado. Investigar sua vida para descobrir o significado da palavra é o objetivo do jornalista. E também do espectador que se envolve nesse processo. O que deixa ainda mais interessante o arco é que o jornalista não descobre, mas o espectador sim, em uma última cena, de maneira quase displicente que quase dá uma frustração pela revelação do que seja.
Quase porque há diversas camadas ali. Saber o que significava Rosebud não era, de fato, o mais importante. Ainda que algumas interpretações possam vir disso também. Mas a jornada era o que verdadeiramente nos instigava. A busca, a investigação, a pesquisa que vai revelando o homem por trás do fictício empresário que parece com diversos nomes que conhecemos. É isso que nos prende durante toda a projeção.
E a maneira como Orson Welles nos conta isso faz com que a obra se torne um clássico eterno. A entrada do flashback, por exemplo, hoje pode parecer bobagem, mas ali surge como uma novidade que complexificava a trama como nunca se vira até então. A montagem em paralelo entre passado e presente ajuda na progressão narrativa, deixando tudo mais instigante.
A passagem de tempo também é construída de maneira rica, como na famosa sequência do café da manhã do casal. À medida que o tempo passa eles vão se distanciando fisicamente com a ampliação da mesa na mesma proporção em que a conversa vai diminuindo, colocando visualmente um afastamento também simbólico com o desgaste do relacionamento.
A fotografia e as escolhas de construção cênica são outro ponto forte da obra, como o jogo com a profundidade de campo na cena em que Foster lê com seus advogados sobre o litígio de seu patrimônio e vai diminuindo literalmente em cena a medida em que anda até a janela no final da sala. Ou quando caminha pela mansão pouco antes de morrer e passa por um jogo de espelho que o reproduz e divide em diversos reflexos.
São diversos detalhes que vão construindo inovações na linguagem e tornam Cidadão Kane uma obra-prima do cinema mundial. Um filme revisitado em diversos momentos da história que serve de inspiração e estudo para gerações. Não por acaso, sem querer desmerecer o belo filme de John Ford, sua derrota no Oscar de 1942 para Como era Verde o meu Vale até hoje é considerada uma das maiores injustiças da Academia de Cinema de Hollywood.
Cidadão Kane (Citizen Kane, 1942 / Estados Unidos)
Direção: Orson Welles
Roteiro: Orson Welles e Herman J. Mankiewicz
Com: Orson Welles, Joseph Cotten, Dorothy Comigore, Everett Sloan, Agnes Moorehead
Duração: 119 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Cidadão Kane
2023-11-06T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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