Home
classicos
critica
Danny Glover
drama
Laurence Fishburne
livro
Margaret Avery
Oprah Winfrey
Steven Spielberg
Whoopi Goldberg
Willard E. Pugh
A Cor Púrpura
A Cor Púrpura
Em 1985, Steven Spielberg, já consagrado por épicos como Tubarão, E.T. – O Extraterrestre e Os Caçadores da Arca Perdida, surpreendeu ao aventurar-se no terreno desconhecido do drama com A Cor Púrpura. Este mergulho profundo na adaptação do livro de Alice Walker revelou um Spielberg em busca de novos desafios, mas não sem questionamentos críticos.
O cerne da narrativa reside na jornada dolorosa de Celie, interpretada magistralmente por Whoopi Goldberg. A personagem, vítima de abuso e intolerância, enfrenta a dura realidade do sul dos Estados Unidos no início do século XX. Goldberg personifica a transformação de Celie de uma mulher subjugada a uma força resiliente, expressando nuances emocionais com uma sutileza encantadora. No entanto, enquanto protagonista, há uma passividade excessiva de Celie, cujas experiências frequentemente acontecem ao invés de serem impulsionadas por suas ações.
A Cor Púrpura marcou um ponto de virada para Spielberg, que enfrentou seu maior desafio até então. Ao retratar a brutalidade do racismo e da cultura patriarcal, Spielberg se aventurou em águas desconhecidas. E isso é visto em tela, é perceptível a inadequação do diretor a este projeto. Momentos dramáticos são muitas vezes suavizados por escolhas cinematográficas questionáveis. A cena em que Albert aconselha Harpo a "bater nela" é um exemplo, onde a leveza da direção conflita com a gravidade do tema.
Há também falhas no roteiro de Menno Meyjes, que, embora aborde temas importantes como a sororidade e a resistência feminina, não cria uma narrativa mais centrada na protagonista. A redenção de Albert no terceiro ato, repentina e não totalmente justificada, evidencia as lacunas na construção do enredo.
Apesar da narrativa, a estética visual do filme é algo a se ressaltar. Spielberg, apesar de sua então inexperiência em dramas intensos, demonstrou habilidade técnica. A escolha de enquadrar homens de maneira intimidadora, contrastando com a união visual das mulheres, é notável. A fotografia calorosa e os enquadramentos em contraluz criam uma atmosfera espiritual, alinhando-se à parte religiosa da trama.
Quincy Jones, responsável pela trilha sonora, contribui para a atmosfera emotiva do filme. No entanto, em certos momentos, a música me soou inadequadamente otimista, contrastando com a gravidade das situações retratadas.
O ponto alto de A Cor Púrpura indiscutivelmente reside no desempenho excepcional do elenco. Whoopi Goldberg, em sua interpretação cativante de Celie, Oprah Winfrey como a imponente e corajosa Sofia, Margaret Avery encarnando sensualidade como Sugar Avery, e Danny Glover personificando o vil e cruel Albert, todos contribuem para uma tapeçaria complexa de personagens.
A Cor Púrpura realmente marcou um capítulo de aprendizado na carreira de Spielberg, desbravando territórios desconhecidos do drama intenso. No entanto, a inadequação do diretor ao lidar com a gravidade dos temas abordados e os momentos de suavização em escolhas questionáveis de direção que permeiam a narrativa contrastam com a força inegável do elenco e a beleza visual do filme. Uma obra ousada em sua temática, mas não sem suas ressalvas, A Cor Púrpura é uma jornada cinematográfica ambiciosa que, apesar de suas falhas, permanece como um marco na evolução artística de Spielberg.
A Cor Púrpura (The Color Purple, 1985 / EUA)
Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Menno Meyjes
Com: Whoopi Goldberg, Danny Glover, Oprah Winfrey, Margaret Avery, Willard E. Pugh, Laurence Fishburne
Duração: 154 min.
![Ari Cabral](https://lh3.googleusercontent.com/-vneijQd_q4A/T8BP5-dHdnI/AAAAAAAAHjw/2zILJmaRZ7c/s80/ari.jpg)
Ari Cabral
Bacharel em Publicidade e Propaganda, profissional desde 2000, especialista em tratamento de imagem e direção de arte. Com experiência também em redes sociais, edição de vídeo e animação, fez ainda um curso de crítica cinematográfica ministrado por Pablo Villaça. Cinéfilo, aprendeu a ser notívago assistindo TV de madrugada, o único espaço para filmes legendados na TV aberta.
A Cor Púrpura
2024-02-05T10:11:00-03:00
Ari Cabral
classicos|critica|Danny Glover|drama|Laurence Fishburne|livro|Margaret Avery|Oprah Winfrey|Steven Spielberg|Whoopi Goldberg|Willard E. Pugh|
Assinar:
Postar comentários (Atom)
cadastre-se
Inscreva seu email aqui e acompanhe
os filmes do cinema com a gente:
os filmes do cinema com a gente:
No Cinema podcast
anteriores deste site
mais populares do site
-
Contos de Fadas em versões live action modernas, esta é a moda em Hollywood. Começou com Cinderela , veio Chapeuzinho Vermelho , em 2012 t...
-
"Sempre pense antes de agir", esta é a frase que Eugene Brown diz aos seus alunos ao ensinar-lhes xadrez . Uma lição que vai além...
-
Os cinéfilos de Salvador já podem comemorar. Nessa terça-feira, dia 06 de maio, terá a primeira sessão do Cineclube Glauber Rocha . O filme...
-
Martin Scorsese , uma das maiores lendas vivas do cinema , encontrou mais um momento de consagração com Os Infiltrados (2006). Em um casame...
-
Christopher Nolan , o nome por trás de sucessos de bilheteria como A Origem e a trilogia do Cavaleiro das Trevas, já estava tecendo sua magi...
-
Cidade dos Anjos (1998), dirigido por Brad Silberling , é uma refilmagem americana do aclamado filme Asas do Desejo (1987), dirigido por ...
-
Fui ao cinema esperando ver mais uma comédia romântica com temas requentados para Katherine Heigl brilhar fazendo charme. Fui surpreendida. ...
-
Um dia , o que pode ser feito em 24 horas? Amores podem começar e terminar em um piscar de olhos, pessoas nascem e morrem a cada dia , a vid...
-
Não deixa de ser curioso que o filme Getúlio tenha estreado no dia 01 de maio, Dia do Trabalho. O "pai dos pobres" foi, de fato,...