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Pense como Eles
Pense como Eles
Revisitar Pense como Eles, comédia romântica dirigida por Tim Story e inspirada no best-seller de Steve Harvey (Act Like a Lady, Think Like a Man), é como abrir um manual de batalha dos sexos cuidadosamente embalado para o consumo popular. Mas, mais do que isso, é mergulhar em um universo onde a dinâmica entre homens e mulheres ganha vida através de arquétipos reconhecíveis, situações quase caricatas, mas interpretadas com tanta energia e carisma que o filme acaba conquistando, mesmo quando tropeça em clichês.
Com um elenco majoritariamente negro — o que já é um diferencial importante dentro do padrão hollywoodiano de comédias românticas — Pense como Eles consegue entregar um entretenimento eficaz enquanto, de forma leve, ressignifica papéis que normalmente seriam preenchidos por protagonistas brancos. É impossível falar do filme sem destacar isso: a representatividade racial aqui não está apenas no fundo, mas no centro da narrativa. Kevin Hart, Regina Hall, Taraji P. Henson, Michael Ealy, Meagan Good, Romany Malco, Gabrielle Union, entre outros, compõem um grupo diverso, talentoso e carismático, cujas histórias entrelaçadas nos convidam a acompanhar uma comédia de costumes, mas com ritmo e voz própria.
A estrutura do filme se sustenta sobre um jogo dramático esperto: as mulheres descobrem o livro de conselhos amorosos de Steve Harvey e começam a aplicá-lo em seus relacionamentos. Ao perceberem a mudança de comportamento das parceiras, os homens decidem contra-atacar com o mesmo livro, gerando uma guerra silenciosa de estratégias sentimentais. Essa premissa, que poderia ser apenas um artifício narrativo limitado, se transforma em combustível para uma narrativa coral onde cada casal representa uma “categoria” amorosa — o homem imaturo, a mulher independente, o solteirão convicto, a romântica frustrada e por aí vai.
A direção de Tim Story é funcional. Ele sabe conduzir bem o ritmo, mantendo o timing cômico em alta e valorizando a química entre os atores. Não é uma direção inventiva e há pouca ousadia visual ou estrutura narrativa diferenciada, mas é competente naquilo que se propõe: fazer com que o público se reconheça e se divirta. A montagem ágil e a trilha sonora pop ajudam a manter o dinamismo, evitando que as histórias paralelas percam força.
Kevin Hart, em particular, rouba a cena sempre que aparece. Seu personagem, Cedric, é o mais extravagante e verborrágico do grupo. Um tipo que poderia facilmente se tornar cansativo, mas Hart dosa exagero com timing cômico, criando um alívio bem-vindo entre os dramas afetivos dos demais. Michael Ealy e Taraji P. Henson, por outro lado, trazem camadas emocionais mais densas, protagonizando os momentos mais sensíveis do filme, como quando seu casal finalmente confronta suas vulnerabilidades em uma cena intimista no restaurante. É uma sequência que, mesmo em meio ao tom leve da produção, revela maturidade dramática e honestidade, tornando-se um dos momentos mais marcantes.
Se há algo que enfraquece o conjunto, no entanto, é justamente a adesão incondicional ao manual de fórmulas das comédias românticas americanas. Os arquétipos, embora eficazes, por vezes se aproximam demais do estereótipo. A mulher “bem-sucedida demais para amar”, o homem “cronicamente irresponsável”, o amigo divorciado que odeia casamento — todos estão lá, como peças de um quebra-cabeça já conhecido. Embora o roteiro tente subverter algumas expectativas, principalmente no segundo ato, o final feliz geral e previsível acaba diluindo a potência crítica que o enredo poderia ter atingido.
Outro ponto que merece atenção é o didatismo com que o livro de Steve Harvey é inserido na trama. Em certos momentos, a narrativa abre espaço para, literalmente, dar conselhos, como se estivéssemos assistindo a uma versão dramatizada de um talk show. Essa quebra no fluxo narrativo incomoda quem busca um envolvimento mais orgânico com os personagens. Ainda assim, é preciso reconhecer que a ideia central de transformar um livro de autoajuda em comédia romântica foi executada com muito mais competência do que se poderia imaginar.
No fim das contas, Pense como Eles funciona porque sabe rir de si mesmo. Não se leva excessivamente a sério, mas também não subestima a inteligência do espectador. O roteiro, assinado por Keith Merryman e David A. Newman, dosa bem humor e afeto, permitindo que o público se identifique com as situações retratadas, mesmo que já as tenha visto em outras produções. É como uma conversa entre amigos: cheia de exageros, piadas e verdades enviesadas, mas sempre com empatia.
Talvez o maior trunfo de Pense como Eles seja o de transformar o previsível em algo palatável, divertido e, em certos momentos, surpreendentemente honesto. Não é um filme que muda paradigmas, mas é um filme que entende os seus. E às vezes, isso já é bastante para que ele seja relevante.
Pense como Eles (Think Like a Man, 2012 / Estados Unidos)
Direção: Tim Story
Roteiro: Keith Merryman, David A. Newman
Com: Michael Ealy, Jerry Ferrara, Meagan Good, Regina Hall, Kevin Hart, Taraji P. Henson, Romany Malco, Gabrielle Union
Duração: 123 min.

Ari Cabral
Bacharel em Publicidade e Propaganda, profissional desde 2000, especialista em tratamento de imagem e direção de arte. Com experiência também em redes sociais, edição de vídeo e animação, fez ainda um curso de crítica cinematográfica ministrado por Pablo Villaça. Cinéfilo, aprendeu a ser notívago assistindo TV de madrugada, o único espaço para filmes legendados na TV aberta.
Pense como Eles
2025-06-23T08:30:00-03:00
Ari Cabral
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