Moscou por Coutinho
Desde Cabra marcado para morrer o que sempre admirei no trabalho de Eduardo Coutinho foi a sua capacidade de extrair histórias das pessoas, tornando-as interessantes. Uma cena que ficou marcada em minha memória foi a filha de uma catadora de lixo no média metragem Boca de lixo, cantando em frente a sua casinha, contrastando o sonho impossível com a realidade dura. São poesias reais, que o diretor consegue construir com sua sensibilidade.
Após explorar o país, os temas e até mesmo a construção metalinguísta de O Fim e o Princípio, Coutinho começou a questionar o real e o ficcional em um documentário, criando filmes cada vez mais experimentais. Após o excelente Jogo de Cena, ficamos esperando qual seria seu próximo passo. Aí, vem Moscou e fica a pergunta de até que ponto vale experimentar em nome de algo que não sabemos bem o que seja?
Para sua nova experiência, recorreu ao teatro. A peça “As Três Irmãs”, de Anton Tchekhov conta a história das irmãs russas Olga, Maria e Irina, que moram numa província a centenas de quilômetros de Moscou, cujos sonhos são voltar à terra natal para visitar o túmulo da mãe, cujo rosto esvai-se em seus pensamentos.
A idéia era mostrar os ensaios do grupo Galpão, sob a direção de Enrique Diaz, para a montagem da peça três irmãs de Anton Tchekhov em três semanas. Em nenhum momento o texto seria encenado completamente. Fragmentos foram mostrados e construídos de forma desordenada no filme. Há também cenas de exercícios iniciais com os atores, onde eles expõem uma lembrança forte e o que os incomoda naquele momento. Em um desses exercícios está a cena mais interessante do filme, quando dois atores cantam Como Vai Você, completamente no escuro. A cada verso que um fala acende um fósforo criando um efeito muito interessante.
O filme tem um problema que acho fundamental, ele perde o caráter de entrevista, ponto forte do diretor, tornando os exercícios repetitivos e o filme cansativo. É difícil e poucos resistem. Eu gostei do experimento por amor ao teatro, pelo belo texto de Tchekhov que já conhecia e pelo jogo de cena que o diretor constrói ao mesclar o ensaio no palco, com a primeira leitura à mesa, ou mesmo no olhar de uma segunda câmera que mostra a equipe filmando. Mas, é perceptível o ritmo lento que o constrói, tornando a experiência monótona.
Dentre as cenas da montagem, a que destaco é o jogral dos dois atores que interpretam Andrei, o irmão das três, ao redor da mesa. Além da força da descarga emocional do personagem naquele momento, que questiona as irmãs com todas as suas frustações, defendendo a esposa Natasha, há a comparação na interpretação dos dois, um mais emotivo, outro mais contido.
No fim, temos uma experiência interessante, uma investigação sobre a arte de interpretar, mas que como filme fica parecendo que falta algo.
Após explorar o país, os temas e até mesmo a construção metalinguísta de O Fim e o Princípio, Coutinho começou a questionar o real e o ficcional em um documentário, criando filmes cada vez mais experimentais. Após o excelente Jogo de Cena, ficamos esperando qual seria seu próximo passo. Aí, vem Moscou e fica a pergunta de até que ponto vale experimentar em nome de algo que não sabemos bem o que seja?
Para sua nova experiência, recorreu ao teatro. A peça “As Três Irmãs”, de Anton Tchekhov conta a história das irmãs russas Olga, Maria e Irina, que moram numa província a centenas de quilômetros de Moscou, cujos sonhos são voltar à terra natal para visitar o túmulo da mãe, cujo rosto esvai-se em seus pensamentos.
A idéia era mostrar os ensaios do grupo Galpão, sob a direção de Enrique Diaz, para a montagem da peça três irmãs de Anton Tchekhov em três semanas. Em nenhum momento o texto seria encenado completamente. Fragmentos foram mostrados e construídos de forma desordenada no filme. Há também cenas de exercícios iniciais com os atores, onde eles expõem uma lembrança forte e o que os incomoda naquele momento. Em um desses exercícios está a cena mais interessante do filme, quando dois atores cantam Como Vai Você, completamente no escuro. A cada verso que um fala acende um fósforo criando um efeito muito interessante.
O filme tem um problema que acho fundamental, ele perde o caráter de entrevista, ponto forte do diretor, tornando os exercícios repetitivos e o filme cansativo. É difícil e poucos resistem. Eu gostei do experimento por amor ao teatro, pelo belo texto de Tchekhov que já conhecia e pelo jogo de cena que o diretor constrói ao mesclar o ensaio no palco, com a primeira leitura à mesa, ou mesmo no olhar de uma segunda câmera que mostra a equipe filmando. Mas, é perceptível o ritmo lento que o constrói, tornando a experiência monótona.
Dentre as cenas da montagem, a que destaco é o jogral dos dois atores que interpretam Andrei, o irmão das três, ao redor da mesa. Além da força da descarga emocional do personagem naquele momento, que questiona as irmãs com todas as suas frustações, defendendo a esposa Natasha, há a comparação na interpretação dos dois, um mais emotivo, outro mais contido.
No fim, temos uma experiência interessante, uma investigação sobre a arte de interpretar, mas que como filme fica parecendo que falta algo.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Moscou por Coutinho
2009-09-08T09:15:00-03:00
Amanda Aouad
cinema brasileiro|critica|documentario|Sala de Arte|
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