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Django Livre

Django LivreCinéfilo e fã confesso dos western spaghetti, que já homenageou em alguns filmes como o último Bastardos Inglórios, Quentin Tarantino finalmente chega ao velho oeste para um filme completo. E traz no título uma homenagem especial a um herói conhecido. Claro que o Django de 1966 (e outras continuações), que carregava um caixão pelo velho oeste, não tem relação com esse escravo de agora, mas não apenas Franco Nero aparece na trama com uma piada sobre isso, como a sua música tema abre a aventura.

Django Livre, claro, como uma boa obra de Tarantino, é uma história de vingança. O protagonista vivido por Jamie Foxx é libertado pelo personagem de Christoph Waltz, o alemão Dr. King Schultz e tem como missão se vingar pelos sofrimentos vividos durante a época de escravo, além de resgatar sua amada esposa que está desaparecida. Pelo caminho, ele se transforma em um caçador de recompensas e vai parar em Candyland, propriedade do temido Calvin Candie, interpretado por Leonardo DiCaprio, atual proprietário da bela Broomhilda, esposa de Django.

Django LivreMais do que o argumento, o que encanta nos filmes de Tarantino é mesmo o desenvolvimento do roteiro. A forma como o diretor / roteirista consegue encadear suas tramas, os diálogos, as referências. As ironias são o ponto alto de qualquer um dos seus filmes e com Django Livre não é diferente. O maior pecado deste filme, no entanto, está em sua montagem. Na primeira obra sem sua montadora Sally Menke, Tarantino pesa a mão em muitos planos desnecessários, alongando piadas que já estavam encerradas e perdendo o ritmo da trama com uma narrativa extremamente longa.

Django LivreEm dois momentos, essa questão da montagem é mais visível. Em uma piada quase desnecessária da Ku Klux Klan, a sequência se alonga desnecessariamente, repetindo a piada e demorando um tempo extra que acaba cansando. Da mesma forma que o terceiro ato acaba sendo demasiadamente esticado, perdendo muito da emoção das viradas que ali acontecem. O sofrimento de algumas cenas também poderia ser melhor construído, com na primeira aparição de Leonardo DiCaprio e uma certa luta.

Django LivreMas, isso não torna Django Livre um filme ruim. A marca de Tarantino está ali e temos momentos muito bem conduzidos, a começar pela primeira cena. É fenomenal todo o diálogo de apresentação do personagem de Christoph Waltz. Nos dá um certo déjà vu de Bastardos Inglórios, é verdade. Mas, como é gostoso acompanhar o show de atuação que é esse grande ator. As falas irônicas e a forma surreal como ele se encontra com Django é de bater palmas. Talvez esse início tão bem desenvolvido tenha aumentado as expectativas para o restante da trama, tornando-a menos do que o esperado.

E não é porque Christoph Waltz dá um show a parte que os demais atores também não tem o seu valor. Leonardo DiCaprio está mesmo um vilão incrível, com nuanças muito bem construídas. Nos dá raiva, assim como de seu capacho vivido por Samuel L. Jackson, o personagem mais asqueroso da trama. O protagonista Jamie Foxx também não decepciona, dando uma carga dramática, um ódio contido e uma dose de sadismo condizente com os heróis tarantinescos. Sua sede de vingança nos conduz em sua jornada por justiça.

Django LivreE já que estamos falando de marcas de Tarantino, não posso deixar de citar a trilha sonora. Resgatando o tema de Django, já citado, o filme traz também referências a músicas italianas diversas, em uma ligação clara ao western spaghetti. E como a história é a trama de um protagonista negro, em sua auto-afirmação enquanto raça, a inclusão de hip hop se encaixa como uma luva. Ainda que Django Livre não tenha uma intenção mais séria de protesto. Os elementos se juntam ali, para nos fazer pensar. As torturas, a voz quase solitária do personagem de Christoph Waltz e sua forma de tratar os negros, a repulsa pelos acontecimentos em Candyland, principalmente em determinada cena com cachorros.

Tudo funciona para nos ajudar a pensar. Mas, não é o foco principal de uma trama que é acima de tudo, entretenimento. Não por acaso, Tarantino não se furta a algumas referências e brincadeiras, mesmo em momentos mais sérios como "pare de tocar Beethoven". Vindo do diretor, é válido lembrar, por exemplo, de Laranja Mecânica ao ver a cena e o que estava acontecendo com o personagem antes de gritar isso.

No final, temos em Django Livre um ótimo filme. Não tão impactante, criativo ou especial quanto outros da filmografia do diretor. Ainda assim, uma bela obra que poderia ser menor, mais focada e sem a sensação de repetição de fórmulas já consagradas.

Ah, após os créditos tem uma piadinha final...



Django Livre (Django Unchained, 2013 / EUA)
Direção: Quentin Tarantino
Roteiro: Quentin Tarantino
Com: Jamie Foxx, Christoph Waltz, Leonardo DiCaprio, Samuel L. Jackson, Dennis Christopher, Kerry Washington e Franco Nero
Duração: 165 min

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