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Causa e Efeito

Causa e EfeitoDesde que o filme Bezerra de Menezes estreou nos cinemas, acompanho a trajetória dos filmes espíritas brasileiros. E desde lá eu escrevia que a temática tem potencial, mas apesar de algumas boas bilheterias, ainda falta qualidade técnica. Com Causa e Efeito não é diferente. Mas, se ainda não se aproxima do bom filme que foi Chico Xavier, pelo menos tem aspectos melhores que alguns títulos como E a vida continua e As Cartas.

O título já diz a temática principal de Causa e Efeito. Tudo nessa vida tem um motivo, por mais que nossa percepção não compreenda. E toda atitude gera uma consequência. Simples assim. Não é questão de castigo. Sempre uso a metáfora da bola na parede. Ao jogá-la, se ela rebate e cai em sua cabeça, foi culpa da parede?

O roteiro acompanha a trajetória de Paulo, um ex-policial amargurado pela morte da mulher e do filho, que se torna matador contratado por um político corrupto. Mas, sua vida vai mudar ao cruzar com Madalena, uma ex-prostituta jurada de morte por ter engravidado do mesmo político.

Causa e EfeitoAinda que repleto de problemas, o roteiro possui uma construção dramática mínima que prende o interesse do público. Sem pensar muito em diversos detalhes que fazem Paulo se tornar matador, há pontos favoráveis, que após as explicações reencarnatórias fazem sentido. O maior problema do roteiro não está nesse ponto, mas no excesso de rótulos e clichês que tornam muitas situações risíveis.

A começar pela cena de abertura, que poderia ser sensacional, mas se perde em diversos detalhes, principalmente na banda sonora, mas guardemos isso. A construção dramática se baseia em uma cena familiar clássica, tipo comercial de margarina, com Paulo sentado no jardim observando sua esposa e filho brincando de bola na rua. Em paralelo vemos um homem ao volante bebendo e fumando, visivelmente transtornado. Clichê: bebida e cigarro símbolos de vício de pessoas "más", ou no mínimo, "obsediadas". Mas, tudo bem. A cena é toda construída em câmera lenta, para criar o clima de suspense e expectativa para o óbvio: o atropelamento.

Causa e EfeitoMesmo com todos esses clichês e interpretações meio "posers" dos atores, poderia ser uma cena razoável. Mas, tudo se perde no desenho de som. Parece maldição de filme espírita, todos possuem trilhas exageradas, antiquadas até, marcadas de uma maneira tola que em vez de construir a tensão, a esvazia. É o óbvio em excesso. Nada parece funcionar a contento.

O roteiro então pula no tempo e já vemos Paulo um ano depois, lutando contra o motorista e a indústria farmacêutica, porque o filho morreu no acidente, mas a esposa morreu em decorrência da má administração de remédios. Isso fica tão mal explicado que só serve mesmo para introduzir o personagem de Henri Pagnoncelli, o Deputado Gustavo que vai aliciar Paulo para o crime. Essa relação também fica mal explicada no roteiro, já que a primeira missão seria matar um outro político e isso só é visto dois anos depois dele em ação.

Mas, como disse, esquecendo tudo isso e concentrando-se em Paulo após pegar Madalena e se esconder em uma cidadezinha do interior onde seu tio mora, tudo melhora. Ainda aí temos o clichê do nome da moça ser o da mulher bíblica popularmente conhecida como prostituta, entre outros detalhes. Na cidadezinha, vamos ter contato maior com o trio religioso que tem algumas cenas interessantes. O tio de Paulo que é espírita, um pastor e um padre que são amigos e vivem na praça jogando cartas.

Causa e EfeitoEntre erros e acertos do roteiro, a direção e a fotografia tem problemas estruturais, mas não chegam a dar um aspecto tão amador como em outros filmes. Consegue contar a história razoavelmente bem, pecando mais quando entra o "mundo espiritual" e o chroma key. Ou mesmo o efeito que colocam para diferenciar o espírito do encarnado. A parte dos sonhos misturado com viagem astral também tem problemas, principalmente na iluminação.

De qualquer maneira, a trama de Paulo e sua família, com revelações de outras vidas tem seus bons momentos. Pena que a escolha da resolução tenha sido tão fantasiosa e exagerada nos deixando uma última impressão ruim. Agora, ao contrário do que vi muitos criticando, as atuações não são das piores, cumprem o papel sem grande prejuízos, mas também sem destaques.

Mesmo com todos os problemas técnicos, Causa e Efeito acaba me dando esperanças de que com o exercício os produtores espíritas consigam fazer filmes que agradem a todos. Até hoje, o melhor do "subgênero" foi dirigido por um ateu (Daniel Filho em Chico Xavier). Talvez se conseguirem se preocupar menos com a questão doutrinária e mais com a linguagem cinematográfica, consigam chegar em um meio termo. Pois é possível passar a mensagem sem precisar ser tão didático ou explícito. Assim como os fundamentos principais da linguagem precisam ser respeitados e bem executados. Afinal, ainda é cinema.


Causa e Efeito (2014 / Brasil)
Direção: André Marouço
Roteiro: André Marouço
Com: Matheus Prestes, Luiz Serra, Rosi Campos, Henri Pagnoncelli, Naruna Costa
Duração: 105 min.

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