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Os Oito Odiados

Os Oito Odiados - filmeAntes de ser cineasta, Quentin Tarantino é um cinéfilo. Seus filmes são mais do que realizações de obras, são realizações de sonhos, dá para sentir em cada frame o quanto ele se diverte filmando. Como se empolga com a narrativa, com os diálogos, com a concepção de mundo e personagens.

Talvez por isso a violência seja sempre tão exacerbada em seus filmes, mas também talvez por isso, ela seja tão plástica e represente sempre algo a mais, uma crítica à sociedade na maioria das vezes. Tarantino coloca a palavra "nigger" em seus diálogos porque sabe que está ali não reforçando, mas ridicularizando, o racismo. Assim como ridiculariza a natureza humana sempre tão capaz de falhar diante da cobiça. E claro, a violência.

Os Oito Odiados - filmeOitavo filme de sua impecável filmografia, Os Oito Odiados traz referências de todos os outros filmes seus, mas também demonstra amadurecimento e evolução de sua própria técnica. Não digo com isso que seja o melhor filme feito pelo cineasta, mas se torna forte candidato a um dos melhores da lista. E é interessante que boa parte da obra se passe em um único cenário e tenha tanta ação e tensão, como seu primeiro filme Cães de Aluguel.

Na trama, um caçador de recompensas com uma prisioneira procurada, acaba tendo que parar em uma estalagem no meio da estrada por causa de uma nevasca, já trazendo como novos passageiros outro caçador de recompensas e um suposto xerife da cidade de destino. E, no local, já estão mais quatro pessoas, todas também com histórias e possibilidades de engano. O fato é que as oito personagens, e nisso acabamos liberando o cocheiro O.B., podem mentir, trapacear e se demonstrar algo que não dizem ser.

Os Oito Odiados - filmeÉ como um jogo de detetive, ou um jogo de xadrez. As peças estão ali trancafiadas em um local e tudo pode acontecer. Esse jogo de tensão é misturado a ótimos diálogos com muita ironia e retirada de máscaras. A estrutura do roteiro vai nos conduzindo de uma maneira muito fluida, não nos fazendo perceber o tempo. Dividido em capítulos, temos inclusive a inserção de um narrador, com a voz do próprio Tarantino, intervindo em alguns momentos, para explicar, recapitular ou simplesmente colocar ainda mais ironia na trama.

É interessante que Tarantino se mantenha no Velho Oeste, revivendo esse gênero à sua própria forma. Um mundo sem lei parece um cenário propício para suas histórias. Mas, o que ele sempre mostrou em seus filmes é que a lei não parece mesmo algo com que o ser humano se preocupe em qualquer época que esteja. Mais do que isso, cada um faz a sua própria lei, mesmo o pior dos bandidos segue alguma lógica.

Os Oito Odiados - filmeIsso acaba sendo a premissa da trama, já que a bandida Daisy Domergue é procurada viva ou morta. Se o caçador de recompensas John Ruth seguisse os demais, não existiria filme. Mas, ele acredita que não cabe a ele matar um bandido, mas levá-lo para o seu julgamento e morte certa na forca. Esse é o seu código, e ele o segue à risca, mesmo que não seja o caminho mais fácil. Não deixa de ser uma estrutura também irônica.

E, claro, tudo isso não valeria muito, mesmo com o talento de Tarantino, se não tivéssemos um grande elenco encabeçando esse quebra-cabeças. É impressionante como todos funcionam muito bem em cena, ainda que não tenha uma interpretação que se destaque completamente. Há química entre eles, todas as personalidades são dúbias e ao mesmo tempo bem trabalhadas. Saímos da sessão tendo a sensação de conhecer todos eles com certa intimidade.

Isso é o principal em um bom filme. Ele é vivo. Nos parece real, palpável, crível, por mais incrível que sua história e suas personagens pareçam. A trama pulsa em tela e pulsamos junto com ela. É bom começar um ano com uma obra assim.


Os Oito Odiados (The Hateful Eight, 2015 / EUA)
Direção: Quentin Tarantino
Roteiro: Quentin Tarantino
Com: Samuel L. Jackson, Kurt Russell, Jennifer Jason Leigh, Walton Goggins, Demián Bichir, Tim Roth, Michael Madsen, Bruce Dern, James Parks, Channing Tatum
Duração: 187 min.

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