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As Montanhas Se Separam

As Montanhas Se Separam - filme

A cena inicial de As Montanhas Se Separam nos remete aos filmes de Bollywood. Um grupo de jovens dançando alegres a música Go West do Pet Shop Boys. Mas, na verdade, na letra da dupla britânica está toda a chave do filme de Zhangke Jia, que só nos impacta completamente na cena final.

A trama gira em torno de Shen Tao, focando em três épocas distintas. No ano de 1999, quando ainda uma jovem ingênua e cheia de sonhos, divide a atenção de dois amigos: Zhang, um rico herdeiro, e Liangzi, um simples metalúrgico. E nos anos de 2014 e 2025 onde podemos acompanhar as consequências de suas decisões na juventude, junto com a transformação da própria China, a promessa de novo mundo da Austrália e outras questões financeiras e políticas.

As Montanhas Se Separam - filmeApesar disso, não há no roteiro uma estrutura aristotélica de causa e consequência, nem sucessão de atos com um encaminhamento lógico. São momentos, pequenos conflitos, que nos dão a ideia do todo. Principalmente ligados à música que, na verdade, é uma versão de uma obra do grupo Village People. O west da letra era o Oeste Norte-Americano. Já da dupla inglesa a alusão é à União Soviética que se desfazia em 1992 (a versão do Pet Shop Boys é de 1993). No filme, esse oeste poderia ser a Austrália, ou melhor.

Na verdade, Velho Oeste, União Soviética ou Austrália são apenas metáforas de um sonho ingênuo de uma vida melhor. O desbravamento do desconhecido, a sensação de que a grama é sempre mais verde no outro lado da cerca. O filme reforça isso principalmente na imagem da personagem Zhang, o rico capitalista que acha que o dinheiro pode resolver tudo. "Ele é da elite", ironiza Liangzi em diversos momentos.

Há problemas no filme. A própria construção das personagens é caricata, principalmente na primeira parte. Shen Tao é ingênua demais, infantil demais, parece uma menininha no jardim de infância que finge não ver a disputa dos dois amigos. Já o Zhang é tolo ao tentar usar o seu dinheiro para resolver tudo. E Liangzi também não fica atrás, ainda que use de outros artifícios. A segunda parte da trama é um recorte mal costurado onde tramas ficam em aberto, outras mal explicadas. E a terceira parte parece descolada do tom do resto da obra.

As Montanhas Se Separam - filmeAinda assim, há poesia e uma busca por externar sentimentos que vão além do superficial. Em imagens, o diretor vai construindo a essência do que quer passar. O local em que o grupo sempre vai para passar o tempo, à beira de um rio congelado que dá a sensação de paz e constante transformação. A estrutura cíclica da imagem que sempre nos mostra um prédio específico da cidade nos dando essa sensação de reconhecimento. E as relações arquetípicas de algumas personagens, como a professora de Dollar na terceira parte.

Mas, o filme nos arrebata mesmo é na cena final e todo o significado que carrega, junto com a música, não por acaso, aqui a legenda traduz a letra para deixar tudo mais claro. Nos traz essa lição de vida, após vinte e cinco anos de trajetória de uma família. Os sonhos deixados para trás, a ingenuidade perdida, mas sem um gosto amargo. Acima de tudo, um amadurecimento e uma forma de lidar com tudo isso.

As Montanhas Se Separam traz os três gêneros literários em seu texto. O épico ao narrar uma saga. O dramático, afinal, é construído através de ações. E o lírico, em sua composição estética e maneira de lidar com as cenas mais significativas como a já citada final, que, de alguma forma, resume as mais de duas horas que acompanhamos.


As Montanhas Se Separam (Shan he gu ren, 2015 / China)
Direção: Zhangke Jia
Roteiro: Zhangke Jia
Com: Tao Zhao, Yi Zhang, Jing Dong Liang
Duração: 131 min.

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