
Imagine um mundo sem ciência, ou melhor, onde os poucos cientistas que ainda restam trabalham para o governo fabricando armas. Assim é a realidade distópica de Abril e o Mundo Extraordinário, em que, em 1941, a França ainda é governada por Napoleão V e o mundo ainda é mantido à base do vapor.
A ideia instiga e os temas levantados como preservação da natureza, relações humanas e ética na ciência também. O problema é que o roteiro de Franck Ekinci e Benjamin Legrand não chega a aprofundar muito isso, nos dando uma aventura regular através da jovem Abril que, com seu gato Darwin, tenta encontrar a fórmula do Elixir da Vida, ao mesmo tempo em que tenta descobrir o que aconteceu com os cientistas do mundo, incluindo seus pais.

Ainda assim, a animação possui bons momentos. Alguns extremamente fortes como quando Abril é arrumada para ser enviada a um orfanato, ou quanto o gato Darwin quase morre. Há ainda boas cenas de ação como quando eles fogem da polícia ou a cena da casa andante.

Não deixa de ser curioso ver esse mundo imaginário, onde em plena década de quarenta ainda não existe rádio, televisão, ou mesmo luz elétrica. Onde as árvores viraram raridades de museu e o mundo disputa em guerra a floresta que permanece apenas no Canadá.
É interessante ver que um mundo sem ciência parece assustador, mas que, apesar de tudo, o homem continua sonhando com a vida eterna, sem doenças e sem riscos. A busca pelo elixir que os pais de Abril, e depois ela, buscavam demonstra o medo da morte ou do fim, já que muitos dos cientistas não acreditam em vida além daqui.
Uma pena, no entanto, que a animação construa isso de maneira superficial, reduzindo a uma aventura de bem contra o mal, com algumas atrapalhações no caminho. Ainda assim, é uma aventura bem feita.
Visto no Festival Varilux de Cinema Francês 2016.
Abril e o mundo extraordinário (Avril et le monde truqué, 2016 / França)
Direção: Franck Ekinci, Christian Desmares
Roteiro: Franck Ekinci, Benjamin Legrand
Duração: 106 min.