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Blade Runner 2049

Blade Runner 2049 - filme

Há de se admirar Blade Runner 2049 por não cair nas armadilhas que costumam cair continuações e releituras, principalmente de ficcções científicas dos anos 80, onde o deslumbre com as novas tecnologias constroem filmes de ação vazios ou repetições desnecessárias.

Blade Runner 2049 precisava existir? Não. O Blade Runner de 1982 se bastava, claro, mesmo que a versão final do diretor Ridley Scott tenha aberto algumas discussões. Porém, ao decidir construir essa continuação, os roteiristas Hampton Fancher e Michael Green, assim como o diretor Denis Villeneuve trouxeram novidades que acrescentam à mitologia original de uma maneira satisfatória. Amplia a discussão e nos ajuda a apreciar a experiência.

Blade Runner 2049 - filmeA começar pela atmosfera do universo ficcional. Ainda temos uma Los Angeles chuvosa e uma sensação de melancolia no ar. A principal questão ainda é o que nos faz humanos? E a partir disso qual a natureza das memórias. A novidade descoberta pelo personagem de Ryan Gosling só amplia essa discussão. E a maneira como o roteiro conduz isso, independente das reviravoltas, nos ajudam a pensar.

Blade Runner não é um filme de ação, como não o era o filme de Ridley Scott. É um noir futurista, com uma construção de um detetive falho, investigando o submundo. O ritmo é lento, segue uma progressão dramática própria, onde o próprio detetive se coloca como alvo de questões existenciais e descobertas que abalam suas certezas. Há muita semelhança entre o personagem Rick Deckard de Harrison Ford e K de Ryan Gosling.

Denis Villeneuve não se deslumbra com a tecnologia para ampliar esse mundo distópico criado por Ridley Scott em 1982. Há avanços dentro da própria diegese da obra, afinal se passaram trinta anos. As máquinas se aprimoraram, o cenário foi ampliado. A inserção da inteligência artificial da namorada virtural de K, por exemplo, é um acessório que instiga, afinal, ele já é um androide. A linha entre o humano e o não-humano fica ainda mais tênue.

Blade Runner 2049 - filmeE é curioso como o diretor trabalha esses elementos em diversos momentos. Como quando a garota virtual toma banho de chuva na primeira vez que sai de casa. Ou na cena em que K se esconde em uma boate onde hologramas de Elvis Presley e Marilyn Monroe fazem suas performances no palco. O que é mais real? O que existiu em carne e osso? Ou o que foi construído? O próprio fato do holograma estar falhando nos traz a sensação da falha na memória que é discutida.

Chama a atenção também da mudança na fotografia entre os dois espaços. Um escuro e chuvoso. Outro quente, predominantemente vermelho, ainda que com uma espécie de tempestade de areia eterna. A vida parece pulsar de maneira distinta ali, naquele espaço vazio, com resquícios de um cataclismo nuclear.

A saga de K como esse novo Blade Runner, um androide "domesticado", caçando sua própria espécie, e suas descobertas nos instiga, porque vai além de uma caçada cega. São os questionamentos a partir do novo fato que movem o protagonista e nos fazem seguir com ele. Memórias que são suas, independentemente de implantadas ou vividas. Experiências que se ampliam e o fazem se sentir humano, especial. Como Rick Deckard achava que Rachel era no filme de 1982, antes mesmo de discutir sua própria natureza.

Blade Runner 2049 é uma experiência que amplia nossa percepção daquele mundo e nos faz pensar ainda mais nas questões levantadas anteriormente. Um filme bem feito que cumpre bem o seu papel.


Blade Runner 2049 (Blade Runner 2049, 2017 / EUA)
Direção: Denis Villeneuve
Roteiro: Hampton Fancher, Michael Green
Com: Harrison Ford, Ryan Gosling, Ana de Armas, Robin Wright, Jared Leto
Duração: 163 min.

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