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120 Batimentos por Minuto

120 Batimentos por Minuto - filme

Doença de homossexual. Era assim que a AIDS era taxada na década de 80 e início da década de 90. Uma espécie de mal que veio para frear os movimentos de liberdade sexual dos anos 70, transformando prazer em medo, sexo em morte. Se os heróis de Cazuza morreram de overdose, ele e outros tantos não resistiram a essa síndrome da imunodeficiência adquirida, que é bom lembrar, até hoje não tem cura.

Por achar que era "doença de gay", muitos preferiam ignorar o mal, com poucas informações à população, descuido com seringas e não distribuição de preservativos. Isso sem falar nas pesquisas de medicamentos. Por isso, surgiu nos Estados Unidos, o grupo ativista Act Up, uma organização não governamental, formada, principalmente por soropositivos que buscam lutar contra o descaso em meio ao caos da epidemia. 120 Batimentos por Minuto nos mostra a versão francesa desse grupo e sua luta contra o governo de François Mitterrand para tentar conscientizar a população ao mesmo tempo em que buscavam formas de sobreviver à doença.

120 Batimentos por Minuto - filmeO que chama a atenção no filme de Robin Campillo é que, apesar de ativista e retratando um momento específico, consegue ser universal e tocar a todos com sua narrativa. Mais do que isso, consegue humanizar essa "massa" homossexual soropositiva dando personalidade e individualização a cada um deles. Mostrando suas dores, mas também seus prazeres.

Com uma linguagem realista e quase documental, o filme nos leva a longas discussões na sede do grupo, com votações e organizações de manifestações. Mas também nos leva para as ruas, para as boates e para a cama, não se furtando a mostrar que, apesar da doença, era possível também viver e amar, com prevenção, claro. Sendo didático em diversos momentos, mas sempre com um molho a mais, como no uso da camisinha mesmo em um sexo oral.

Tal preocupação acaba alongando em demasiado algumas cenas, levando a uma duração de quase duas horas e meia, o que pode afastar parte dos espectadores. O que é uma pena. Pois tal qual a doença que surgiu nos anos 80, esse filme não é apenas para um nicho. É um diálogo potente sobre vida, ignorância e preconceito, construindo uma bela quebra de tabus.

120 Batimentos por Minuto - filmeA linha narrativa principal segue o romance de Nathan e Sean. O primeiro, novato no grupo, o segundo, um dos seus fundadores. Uma forma inteligente de personificar a luta, já que Nathan é soronegativo, demonstrando que não apenas soropositivos participavam das manifestações. E também uma maneira de acompanhar a evolução da doença em uma personagem com uma dose a mais de emoção.

Mas a narrativa não se resume a eles, destacando ainda outras personagens como Hélène e Markus, mãe e o filho em uma luta que envolve a questão das seringas contaminadas. Ou a jovem Sophie e os líderes Thibault e Eva. Apesar de não mostrá-los fora do habitat da organização ou em manifestações, conseguimos nos aproximar também de suas questões.

120 Batimentos por Minuto é um filme que pulsa em um ritmo lento, mas nos traz emoções fortes e alertas importantes em uma época em que coquetéis "milagrosos" fazem os jovens perderem o medo de uma doença ainda sem cura e tão traiçoeira. Uma época também em que, apesar dos direitos conquistados, os LGBTs ainda sofrem tanto preconceito, inclusive em relação à AIDS. O filme de Robin Campillo vem como um alerta e também cumpre a função do grupo ativista Act Up de informar, desmistificar e educar.


120 Batimentos por Minuto (120 battements par minute, 2018 / França)
Direção: Robin Campillo
Roteiro: Robin Campillo, Philippe Mangeot
Com: Nahuel Pérez Biscayart, Arnaud Valois, Adèle Haenel
Duração: 140 min.

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