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Suburbicon: Bem-vindos ao Paraíso
Suburbicon: Bem-vindos ao Paraíso
A hipocrisia do American Way of Life sempre foi alvo dos textos dos irmãos Coen. Ao resgatar esse antigo roteiro, George Clooney, com a ajuda de seu parceiro Grant Heslov, buscou um molho a mais, provavelmente, inspirados pela "era" Trump e conseguiu construir uma trama de suspense instigante, ainda que pudesse aprofundar ainda mais sua crítica.
Estamos na década de cinquenta, em um bairro no subúrbio dos Estados Unidos que vende a ideia de ser pacato e tranquilo. Tudo muda quando a família Mayers se muda para lá. O motivo: eles são negros e os brancos locais não são tão afeitos à mistura racial. Como se racismo e intolerância não fossem pouco, a ironia do texto nos mostra que, enquanto eles se preocupam com uma família verdadeiramente pacata e tranquila, na casa ao lado, absurdos acontecem.
A ironia está clara e em diversos momentos a montagem constrói paralelos entre a família acuada com uma multidão aos gritos em sua porta e a escalada violenta que acontece na casa dos Lodge. Em uma noite, dois homens estranhos invadem a residência da família, todos brancos, é bom ressaltar, causando uma tragédia familiar. E isso é apenas o começo de uma trama sórdida que ainda dará muito o que falar.
A questão é que, apesar da montagem e da progressão dramática, essa comparação acaba sendo muito sutil diante do tema. A família Mayers não é explorada, pouco aparece, tornando-se apenas um pano de fundo irônico para a trama da família Lodge que também não é tão aprofundada quanto poderia, tornando muitas atitudes quase gratuitas ou exageradas, principalmente na parte final.
Talvez, o gesto mais sutil e ao mesmo tempo profundo do roteiro esteja na aproximação dos dois meninos da trama. Nicky Lodge e Andy Mayers trocam algumas palavras e vão construindo uma amizade que se inicia com um outro símbolo estadunidense: o beisebol. Na simplicidade dos dois garotos, a esperança de um futuro onde as pessoas possam se tratar como iguais, acaba sendo uma perspectiva positiva apesar de tudo.
O filme traz algumas ironias dramáticas muito bem construídas como a cena final da personagem de Matt Damon, que fazem o filme crescer em perspectiva. A direção de arte também chama a atenção, não apenas pela reconstrução de época como pela idealização desse bairro paradisíaco que vai se transformando aos poucos em uma praça de guerra, com direito a trincheiras simbólicas e tudo mais na construção dos muros de madeira entre as casas. O elenco estelar também se destaca, mas é no garotinho Noah Jupe, que interpreta o Nicky, que encontramos os melhores momentos, com emoções diversas de seus olhares.
Lembrando em muitos pontos o filme Beleza Americana e trazendo também muito das marcas dos irmãos Coen, Suburbicon poderia ser melhor, aprofundando o tema que traz, principalmente, por ser algo ainda tão presente décadas depois. De qualquer maneira é um filme bem feito e que instiga em diversos aspectos.
Suburbicon: Bem-vindos ao Paraíso (Suburbicon, 2017 / EUA)
Direção: George Clooney
Roteiro: Joel Coen, Ethan Coen, George Clooney, Grant Heslov
Com: Matt Damon, Julianne Moore, Oscar Isaac, Karimah Westbrook, Leith M. Burke, Noah Jupe
Duração: 105 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Suburbicon: Bem-vindos ao Paraíso
2018-01-07T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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