Grandes Cenas: Sonata de Outono
Hoje vamos estrear mais uma série, a análise fílmica de grandes cenas do cinema. De quinze em quinze dias, sempre as sexta-feiras, teremos no blog um detalhamento de alguma cena que marcou época, deixou registro em nossa memória ou simplesmente gostei muito. E assim, tentar entender por que ela é tão marcante. Se você tem alguma cena preferida e quiser vê-la aqui, deixe a sugestão nos comentários.
Para começar, um filme de Ingmar Bergman de 1978: Sonata de Outono. Como todo filme de Bergman, fala de tensões psicológicas, com mulheres problemáticas. Seria cômico se não fosse trágico, mas a beleza dos filmes de Bergman está exatamente em traduzir as tensões emocionais em cenas magníficas, com interpretações memoráveis.
Sonata de Outono conta o reencontro de Eva com sua mãe Charlotte, uma pianista famosa, após sete anos de distância. Eva cuida agora de sua irmã doente, internada pela mãe em uma clínica especializada. Charlotte é a típica mulher que sabe esconder suas emoções, enquanto Eva é o retrato do sofrimento. A interpretação de Ingrid Bergman e Liv Ullmann rendeu prêmios, e pode ser conferida nessa cena escolhida.
A cena ocorre após meia hora de projeção. A noite, Charlotte vê que Eva está estudando piano e pede que ela interprete um prelúdio de Chopin. Eva fica nervosa, insegura, mas Charlotte insiste e ela acaba tocando.
Os sete minutos da cena praticamente se resumem a três enquadramentos principais, o som do piano e o olhar dessas duas grandes atrizes. Há pouco movimento de câmera, que apenas acompanha Charlotte se dirigindo ao piano e depois sobe de suas mãos para o seu rosto. O restante é de câmera parada com cortes secos para nove enquadramentos diferentes.
A primeira parte consiste em Eva tocando. A câmera parada enquadra seu busto e a partitura. Ela de lado, quase de costas, tímida. Este enquadramento se intercala com Charlotte em plano médio observando a filha tocar. A expressão de Ingrid Bergman diz tudo, sua frustração, pena, melancolia, incômodo ao ouvir aquilo são passados pelo olhar. A sequência deixa uma angústia. São quase dois minutos que parecem intermináveis.
Após finalizar a música, Eva permanece de cabeça baixa, Charlotte não sabe o que dizer e ao ser questionada se gostou, acaba tomando coragem e explica para filha como ouvir Chopin, dando uma verdadeira aula de música. A câmera acompanha Charlotte que sai de seu lugar e senta ao lado da filha. Outro enquadramento estático, vendo as duas de frente, por trás do piano. A aula é constrangedora para Eva, a cena corta para o marido Victor que assiste a tudo sem interferir, mas demonstra sua expressão preocupada. Volta para o mesmo enquadramento e após terminar de explicar, Charlotte vai demonstrar o que falou.
Começa então, a sequência de Charlotte tocando a mesma música e é nítida a diferença da sonoridade da mesma. A melodia ganha vida. A cena começa com o close na mão da personagem e vai subindo até enquadrar seu rosto em close, em uma expressão suave. Em contra-plano, passamos para outro enquadramento fixo, com Charlotte em primeiro plano e Eva ao fundo. O enquadramento causa estranhamento e a expressão de Eva é de pura angústia. Agora é a vez de Liv Ullmann expressar tudo no olhar. O enquadramento permanece até o final da música, quando volta para as mãos da personagem. Depois corta novamente para as duas vistas de frente.
Por fim, Bergman finaliza a cena com um enquadramento de fora da sala, no corredor, um olhar de terceira pessoa, vendo a distância o desenlace daquela família. Típico do diretor que explora tão bem as nuances dessas relações.
Para começar, um filme de Ingmar Bergman de 1978: Sonata de Outono. Como todo filme de Bergman, fala de tensões psicológicas, com mulheres problemáticas. Seria cômico se não fosse trágico, mas a beleza dos filmes de Bergman está exatamente em traduzir as tensões emocionais em cenas magníficas, com interpretações memoráveis.
Sonata de Outono conta o reencontro de Eva com sua mãe Charlotte, uma pianista famosa, após sete anos de distância. Eva cuida agora de sua irmã doente, internada pela mãe em uma clínica especializada. Charlotte é a típica mulher que sabe esconder suas emoções, enquanto Eva é o retrato do sofrimento. A interpretação de Ingrid Bergman e Liv Ullmann rendeu prêmios, e pode ser conferida nessa cena escolhida.
A cena ocorre após meia hora de projeção. A noite, Charlotte vê que Eva está estudando piano e pede que ela interprete um prelúdio de Chopin. Eva fica nervosa, insegura, mas Charlotte insiste e ela acaba tocando.
Os sete minutos da cena praticamente se resumem a três enquadramentos principais, o som do piano e o olhar dessas duas grandes atrizes. Há pouco movimento de câmera, que apenas acompanha Charlotte se dirigindo ao piano e depois sobe de suas mãos para o seu rosto. O restante é de câmera parada com cortes secos para nove enquadramentos diferentes.
A primeira parte consiste em Eva tocando. A câmera parada enquadra seu busto e a partitura. Ela de lado, quase de costas, tímida. Este enquadramento se intercala com Charlotte em plano médio observando a filha tocar. A expressão de Ingrid Bergman diz tudo, sua frustração, pena, melancolia, incômodo ao ouvir aquilo são passados pelo olhar. A sequência deixa uma angústia. São quase dois minutos que parecem intermináveis.
Após finalizar a música, Eva permanece de cabeça baixa, Charlotte não sabe o que dizer e ao ser questionada se gostou, acaba tomando coragem e explica para filha como ouvir Chopin, dando uma verdadeira aula de música. A câmera acompanha Charlotte que sai de seu lugar e senta ao lado da filha. Outro enquadramento estático, vendo as duas de frente, por trás do piano. A aula é constrangedora para Eva, a cena corta para o marido Victor que assiste a tudo sem interferir, mas demonstra sua expressão preocupada. Volta para o mesmo enquadramento e após terminar de explicar, Charlotte vai demonstrar o que falou.
Começa então, a sequência de Charlotte tocando a mesma música e é nítida a diferença da sonoridade da mesma. A melodia ganha vida. A cena começa com o close na mão da personagem e vai subindo até enquadrar seu rosto em close, em uma expressão suave. Em contra-plano, passamos para outro enquadramento fixo, com Charlotte em primeiro plano e Eva ao fundo. O enquadramento causa estranhamento e a expressão de Eva é de pura angústia. Agora é a vez de Liv Ullmann expressar tudo no olhar. O enquadramento permanece até o final da música, quando volta para as mãos da personagem. Depois corta novamente para as duas vistas de frente.
Por fim, Bergman finaliza a cena com um enquadramento de fora da sala, no corredor, um olhar de terceira pessoa, vendo a distância o desenlace daquela família. Típico do diretor que explora tão bem as nuances dessas relações.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Grandes Cenas: Sonata de Outono
2009-05-01T10:15:00-03:00
Amanda Aouad
drama|grandes cenas|Ingmar Bergman|
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