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Honestino
Honestino
O cinema nasceu documental representando um registro de uma época. É memória em imagem e som que resgata a História, registra uma época. Mas como fazer um documentário sobre uma pessoa que deixou poucos registros em vida? É com esse desafio que Aurélio Michiles encara a missão de contar a história de Honestino Guimarães, líder estudantil que foi morto pela ditadura militar no Brasil.
Com pouco material de arquivo, Michiles recorreu a reconstituição e trouxe o ator Bruno Gagliasso para interpretar o protagonista. Com habilidade, a mistura entre ficção e documentário acaba sendo muito bem sucedida, trazendo sendo o espírito do jovem idealista sem forçar cenas muito encenadas. De alguma maneira, o ator encarna a memória do revolucionário sem nos deixar sentir a encenação.
O roteiro nos apresenta a vida de Honestino desde o movimento estudantil de 68, no qual era presidente da UNE, passando por suas cinco prisões até o sequestro em 1973 do qual não saiu com vida. Mesclando depoimentos, poucas imagens de arquivos e as encenações de Bruno, vamos nos sentido cada vez mais próximos daquele jovem antes quase desconhecido.
É emocionante em especial as falas da filha e do neto, demonstrando a dimensão de uma ausência presente. Ela que, muito pequena, não tem lembranças do pai em si, mas de histórias contadas e uma foto perdida no tempo. Aquele limiar em que nossa memória nos engana e não sabemos mais se lembramos de algo vivido ou que de tanto falado construindo em nossa mente.
Já o neto que tem no avô quase uma lenda, acaba sendo também um vetor de reconhecimento da plateia desbravando aquela história pouco falada com a mesma curiosidade de um desconhecido. Mas ao mesmo tempo há o peso do sangue que ajuda a construir a emoção de algumas cenas em específico.
Auxiliado pelas lembranças da família e personagens que o conheceram. A história de Honestino é também uma parte para falar do todo. Uma maneira de refletir mais uma vez sobre esse momentos históricos tão incômodo do nosso país. Uma reflexão sobre a luta e sonho de um Brasil mais democrático e justo para todos que, infelizmente parece tão distante.
Mais do que isso, nesse momento, o filme é também uma reflexão sobre a forma cíclica com que a história parece nos surpreender tanto positiva quando negativamente. Em uma época em que muitos parecem negar os horrores de um governo ditatorial, questionando valores e dores que não são tão simplistas quanto lados opostos, bem e mal.
A história de Honestino é um retrato de um país que não valoriza sua História. Sem registros, sem memórias, sem lembranças, corremos o risco de repetir os erros do passado. Ainda bem que o cinema está aí, para nos lembrar disso.
Filme Visto no 20º Fest Aruanda em João Pessoa – Paraíba
Honestino (Brasil/ 2025)
Direção: Aurélio Michiles
Roteiro: Aurélio Michiles
Com:Bruno Gagliasso
Duração: 85 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Honestino
2025-12-22T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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