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Grandes Cenas: Amadeus

Amadeus - Tom HulceO que faz de uma cena inesquecível pode ser diversos aspectos. Mesmo uma aparente construção simples pode marcar. Quando penso no filme Amadeus, obra-prima de Milos Forman, uma das cenas que logo vem a mente é o primeiro encontro de Mozart com o Imperador Joseph II. A peculiaridade da forma como o compositor chega, o rei tocando piano, a sua forma desajeitada e principalmente, o olhar de Salieri contribuem para a dinâmica e recordação da cena.

Amadeus é um filme que fala de ciúme, de uma luta interna de Salieri para destruir aquele a quem mais admira, pelo simples fato de que queria ser ele. A curva dramática dessa cena específica mostra claramente esse embate unilateral. Isto porque Mozart é completamente alheio à disputa estabelecida, ele exala um talento natural e o expõe de forma ingênua, simples. Em uma cena anterior, Salieri compôs uma marchinha, lentamente, pensando muito antes de cada nota, e, satisfeito, ele agradece a Deus pelo dom que tem. Na cena em questão, no entanto, ele vai perceber que seu dom não é nada perto do talento de Mozart.

AmadeusNervoso para conhecer o rei, Mozart observa o salão, que tem sua entrada fechada pelos guardas. Ao fundo ouve-se a melodia da marchinha composta por Salieri, que o rei está treinando. Mozart entra e cumprimenta alegremente um conselheiro por engano. Todos constrangidos apontam para o homem sentado ao piano, o rapaz, então, espera que ele se levante e beija a mão do Imperador Joseph II. A arrumação da corte de um lado, o rei no meio e Mozart no outro, já demonstra o embate, mas o rapaz não se importa com a situação, observando a tudo, deslumbrado. Os cortes rápidos ajudam a construir o clima da cena, nervoso, constrangedor. Mozart, apesar do nervosismo em conhecer o monarca, permanece com o sorriso ingênuo, sem se importar por estar sendo analisado por todos.

Uma conversa se segue sobre a contratação de Mozart para a produção de uma ópera. Ele sugere que seja em alemão, o que desagrada ao maestro. Uma situação constrangedora se segue, com Mozart explicando sua idéia. O rei acaba concordando em ser uma ópera em alemão. A troca de planos aqui, continua rápida, dinâmica. Sempre colocando Mozart sozinho, enquanto que os demais personagens estão sempre agrupados.

AmadeusAntes de se despedir, Mozart diz que não precisa da partitura da marchinha composta por Salieri, pois já a decorou. Todos desdenham da possibilidade dele já saber tocar ouvindo apenas uma vez. Mozart, então, senta ao piano e toca perfeitamente a música. Se não bastasse, ele começa a sugerir alterações naquilo que considera estar imperfeito. É, então, que Salieri começa a se corroer por dentro. A câmera começa a mostrá-lo em destaque, sozinho, sua fisionomia se alterando. A melodia composta naquele instante com grande facilidade por Mozart chama a atenção de todos ao redor do salão. O diretor faz questão de mostrar as pessoas sendo atraídas pela música. Mozart parece se divertir em cena, totalmente à vontade, ao contrário dos momentos anteriores, onde encontrava-se tenso, sem jeito. Os conselheiros ficam constrangidos e o rei sorri para aquele garoto simples com tanta facilidade para a música.

A interpretação de Tom Hulce e F. Murray Abraham contribui para expor toda a tensão, mas é no texto e no talento de Mozart comparado com as limitações naturais de Salieri que está a magia dessa cena.


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