![Amadeus - Tom Hulce](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjaqkNYgFGSA_KyVcqljHx_xshVrCdu7IsqM5qcsrlfACF_-rNQRmbA-Shfn1x6qDyCJ720j-PXcJv5jwuRVqJkT7bVF4SIbAYpa6sTIsTUnNEsXP7ZcpBOaaQU59ftSfiMW11abkZ8q8I3/s1600/amadeus-milos-forman-tom-hulce.jpg)
O que faz de uma
cena inesquecível pode ser diversos aspectos. Mesmo uma aparente construção simples pode marcar. Quando penso no
filme Amadeus, obra-prima de
Milos Forman, uma das cenas que logo vem a mente é o primeiro encontro de
Mozart com o Imperador Joseph II. A peculiaridade da forma como o compositor chega, o rei tocando
piano, a sua forma desajeitada e principalmente, o olhar de
Salieri contribuem para a dinâmica e recordação da cena.
Amadeus é um filme que fala de ciúme, de uma luta interna de
Salieri para destruir aquele a quem mais admira, pelo simples fato de que queria ser ele. A curva dramática dessa cena específica mostra claramente esse embate unilateral. Isto porque
Mozart é completamente alheio à disputa estabelecida, ele exala um
talento natural e o expõe de forma ingênua, simples. Em uma cena anterior,
Salieri compôs uma marchinha, lentamente, pensando muito antes de cada nota, e, satisfeito, ele agradece a Deus pelo dom que tem. Na cena em questão, no entanto, ele vai perceber que seu dom não é nada perto do talento de
Mozart.
![Amadeus](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiArjzoUJ-Sd3zcHF0Lrlq9PEv6h5KNtNUqU44k5LQ5aTrOwLl83wLat_VJWQgnHeTLyv9R5ifRWhYQLd9A1fMYWCfJKK0hkL52p0AipX3knZRmmSPIBCKYhQbpKGLIjdOgh8FZevL8Qvc/s320/mozart+amadeus+filme.bmp)
Nervoso para conhecer o rei,
Mozart observa o salão, que tem sua entrada fechada pelos guardas. Ao fundo ouve-se a melodia da marchinha composta por
Salieri, que o rei está treinando.
Mozart entra e cumprimenta alegremente um conselheiro por engano. Todos constrangidos apontam para o homem sentado ao
piano, o rapaz, então, espera que ele se levante e beija a mão do Imperador Joseph II. A arrumação da corte de um lado, o
rei no meio e
Mozart no outro, já demonstra o embate, mas o rapaz não se importa com a situação, observando a tudo, deslumbrado. Os cortes rápidos ajudam a construir o clima da cena, nervoso, constrangedor.
Mozart, apesar do nervosismo em conhecer o monarca, permanece com o sorriso ingênuo, sem se importar por estar sendo analisado por todos.
Uma conversa se segue sobre a contratação de
Mozart para a produção de uma ópera. Ele sugere que seja em alemão, o que desagrada ao
maestro. Uma situação constrangedora se segue, com
Mozart explicando sua idéia. O rei acaba concordando em ser uma
ópera em alemão. A troca de planos aqui, continua rápida, dinâmica. Sempre colocando
Mozart sozinho, enquanto que os demais personagens estão sempre agrupados.
![Amadeus](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj95r3wHDGvL2Otj7vSp8D1_I8WxhCBjyocuDqOOOkasaCiIBy_3DWKNjZL5Qxq6msCF74ES9A5bB61MgAt9RXaU9FhZabbagzlMXStyc0aKXf2NAzQc2kUEtbkhQk8nx7O9DJpowbLc0iA/s320/amadeus-salieri.jpg)
Antes de se despedir,
Mozart diz que não precisa da partitura da marchinha composta por Salieri, pois já a decorou. Todos desdenham da possibilidade dele já saber tocar ouvindo apenas uma vez.
Mozart, então, senta ao
piano e toca perfeitamente a música. Se não bastasse, ele começa a sugerir alterações naquilo que considera estar imperfeito. É, então, que
Salieri começa a se corroer por dentro. A câmera começa a mostrá-lo em destaque, sozinho, sua fisionomia se alterando. A melodia composta naquele instante com grande facilidade por
Mozart chama a atenção de todos ao redor do salão. O diretor faz questão de mostrar as pessoas sendo atraídas pela música.
Mozart parece se divertir em cena, totalmente à vontade, ao contrário dos momentos anteriores, onde encontrava-se tenso, sem jeito. Os conselheiros ficam constrangidos e o rei sorri para aquele garoto simples com tanta facilidade para a
música.
A interpretação de Tom Hulce e F. Murray Abraham contribui para expor toda a tensão, mas é no texto e no talento de
Mozart comparado com as limitações naturais de
Salieri que está a magia dessa
cena.