Educação
Antes de mais nada, vai um desabafo: sinceramente eu não sei o que estava na cabeça da Academia de Hollywood ao incluir este filme entre os cinco indicados a melhor roteiro adaptado. Nick Hornby construiu um roteiro totalmente previsível e cheio de clichês baseado nas memórias de Lynn Barber. Nem mesmo a virada final salva o longa. Chega a dar um desânimo. Não que a história de Jenny não mereça ser contada, o argumento é bom, faz pensar, refletir sobre a utilidade da educação ao contrastar com o desejo de aproveitar a vida. Mas dizer que o roteiro é um dos cinco melhores do ano é forçar muito.
Analisando friamente a projeção, vamos então para o que tem de melhor nela: Carey Mulligan. A garota conseguiu dosar muito bem o drama de sua personagem, uma estudante dedicada e pressionada ao extremo por seu pai que a quer ver na Universidade de Oxford, e que de repente conhece, digamos assim, o lado bom da vida. Tudo era cinza para Jenny até conhecer David, um sedutor homem mais velho que tem uma lábia invejável e consegue tudo o que quer no papo. Para vocês terem uma idéia, no aniversário de Jenny ela ganha o mesmo presente do pai e do pretendente a namoradinho: um dicionário de latim, matéria em que ela ainda não está cem por cento para ser aceita na universidade. Por outro lado, David lhe mostra um mundo de diversões, concertos, torneios, viagens e presentes que toda garota gostaria de ter. Tudo vai acontecendo até o momento crítico em que ela vai ter que decidir qual vida é melhor para ela.
Nisso reside o outro ponto positivo do filme, a reflexão. Quantas pessoas já se perguntaram qual o sentido de estudar tanto, juntar dinheiro em nome de uma segurança na velhice? O contraste das dúvidas da adolescente com a vida de sua professora são bastante profundos, nos levando a refletir sobre as nossas próprias vidas. São poucas as cenas, mas sugestivas e instigantes. Só não entendi muito bem a função de Emma Thompson no elenco com apenas três cenas lamentáveis. A professora vivida por Olivia Williams já cumpria perfeitamente esse papel de reflexão. Uma pena o desperdício de uma atriz tão potente como Thompson. Já Alfred Molina (o pai) e Peter Sarsgaard (David) compoem muito bem os dois pontos de apoio da protagonista e ajudam no processo decisivo do filme.
A direção da dinamarquesa Lone Scherfig é segura, coerente, traduzindo bem o aspecto retrô, já que a história se passa na década de 60. Tem cenas sutis como o primeiro encontro de David e Jenny no meio da chuva, o aniversário da garota ou o momento chave, que traz uma tensão brilhante ao revelar aos poucos o fato.
Quando tudo parece se encaminhar para um ponto, vem a virada, previsível para os mais atentos em perfil de personagem, mas forte. Porém, nem isso salva o vazio que o roteiro deixa. É quase uma crônica do cotidiano, que muitos podem dizer que também é válida. Concordo, tudo é válido nessa vida. E Educação não chega a ser um filme ruim, tem pontos interessantes, envolve o espectador. Mas daí a figurar como melhor filme e melhor roteiro, acho um pouco de exagero.
Analisando friamente a projeção, vamos então para o que tem de melhor nela: Carey Mulligan. A garota conseguiu dosar muito bem o drama de sua personagem, uma estudante dedicada e pressionada ao extremo por seu pai que a quer ver na Universidade de Oxford, e que de repente conhece, digamos assim, o lado bom da vida. Tudo era cinza para Jenny até conhecer David, um sedutor homem mais velho que tem uma lábia invejável e consegue tudo o que quer no papo. Para vocês terem uma idéia, no aniversário de Jenny ela ganha o mesmo presente do pai e do pretendente a namoradinho: um dicionário de latim, matéria em que ela ainda não está cem por cento para ser aceita na universidade. Por outro lado, David lhe mostra um mundo de diversões, concertos, torneios, viagens e presentes que toda garota gostaria de ter. Tudo vai acontecendo até o momento crítico em que ela vai ter que decidir qual vida é melhor para ela.
Nisso reside o outro ponto positivo do filme, a reflexão. Quantas pessoas já se perguntaram qual o sentido de estudar tanto, juntar dinheiro em nome de uma segurança na velhice? O contraste das dúvidas da adolescente com a vida de sua professora são bastante profundos, nos levando a refletir sobre as nossas próprias vidas. São poucas as cenas, mas sugestivas e instigantes. Só não entendi muito bem a função de Emma Thompson no elenco com apenas três cenas lamentáveis. A professora vivida por Olivia Williams já cumpria perfeitamente esse papel de reflexão. Uma pena o desperdício de uma atriz tão potente como Thompson. Já Alfred Molina (o pai) e Peter Sarsgaard (David) compoem muito bem os dois pontos de apoio da protagonista e ajudam no processo decisivo do filme.
A direção da dinamarquesa Lone Scherfig é segura, coerente, traduzindo bem o aspecto retrô, já que a história se passa na década de 60. Tem cenas sutis como o primeiro encontro de David e Jenny no meio da chuva, o aniversário da garota ou o momento chave, que traz uma tensão brilhante ao revelar aos poucos o fato.
Quando tudo parece se encaminhar para um ponto, vem a virada, previsível para os mais atentos em perfil de personagem, mas forte. Porém, nem isso salva o vazio que o roteiro deixa. É quase uma crônica do cotidiano, que muitos podem dizer que também é válida. Concordo, tudo é válido nessa vida. E Educação não chega a ser um filme ruim, tem pontos interessantes, envolve o espectador. Mas daí a figurar como melhor filme e melhor roteiro, acho um pouco de exagero.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Educação
2010-02-27T10:24:00-03:00
Amanda Aouad
Carey Mulligan|cinema europeu|critica|drama|Emma Thompson|Nick Hornby|Oscar 2010|
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