Aparecida, o Milagre
Em 1717, pescadores encontraram uma santa no rio Paraíba do Sul e ali mesmo aconteceu o seu primeiro milagre. As redes dos pescadores ficaram repletas de peixes, assim como o rio que antes parecia morto. Essa é a história do surgimento de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. Partindo da fé do brasileiro na santa, surge a história de Aparecida, o milagre, dirigido por Tizuka Yamasaki. O filme é claramente pró religião católica, mas não chega a ser um filme ruim apesar de sérios problemas na construção dos efeitos melodramáticos. A diretora, que assinou apenas filmes de Xuxa, os Trapalhões e novelas da Rede Manchete, consegue apresentar um filme que deve emocionar milhares de católicos devotos pelo país. Assim como Nosso Lar emocionou a espíritas.
A trama conta a história de Marcos, um garoto que vê seu pai morrer logo após rezar para Nossa Senhora lhe conceder uma graça e perde, assim, sua fé. Trinta e cinco anos depois, ele é um empresário insensível com problemas com seu filho que quer ser ator. Uma tragédia irá reaproximar pai, filho e Nossa Senhora Aparecida. O roteiro feito a quatro mãos é bem resolvido. Marco Schiavon, autor também do argumento conseguiu criar uma trama bem amarrada e justificada, sem forçar tanto a propaganda pró santa. Uma coisa interessante também no roteiro é a forma como as informações vão sendo passadas, nada é didático. Quando pulamos 35 anos do tempo, não temos aquelas cenas comuns de "você que fez isso e aquilo"... A apresentação da vida de Marcos, seu conflito com o filho, quem é Sônia, o problema no passado de Lucas. Tudo é orgânico e bem desenhado.
Um bom roteiro já me ganha, é sempre a primeira coisa que observo em um filme. E devo dizer que o que estragou esse foi o vício de estratégias televisivas de Tizuka Yamasaki. Em algums momentos, a diretora insere flashbacks que lembram as recapitularizações de telenovelas. Um personagem pára, observando o horizonte, e passamos para seus pensamentos, que são, na verdade, cenas reprisadas. Em novela é necessário, o telespectador pode não ter visto o capítulo anterior. Mas, no filme acabamos de ver a cena. Fica desnecessário e quebra um pouco a emoção verdadeira com estratégias de melodrama barato. Assim também é a cena do acidente. Lucas sair de casa durante o dia e o acidente ser de noite, até entendo, mas ele entrar no túnel em uma noite normal e sair dele em uma chuva torrencial, foi forçado.
Outro problema é o efeito especial na cena do rio. Mal feito, cria um constraste esquisito no momento em que a cabeça da santa é recolocada. Assim como toda a direção e trilha sonora do milagre em si. Ninguém me diga que é spoiler, pois está no título do filme. No geral, a trilha de Paulo Francisco Paes peca pelo excesso. Na cena do milagre então, é exagerado ao extremo. Fica over, assim como as interpretações e marcações de cenas. Fiquei tão presa observando o absurdo de algumas coisas que não consegui me emocionar. O irônico é que está tudo em excesso exatamente para que todos se acabem em lágrimas. O clichê da sequência final, no entanto, é necessário e quase esperado.
A fotografia de Luis Abramo é bem realizada, limpa, com detalhes interessantes como a morte do pai de Marcos. É curioso ver, também, o verdadeiro Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, que recebe a visita de nove milhões de devotos por ano. As atuações também são boas, principalmente Murilo Rosa que consegue passar bem a emoção do seu personagem em todas as viradas da trama. Destaque ainda para Bete Mendes, excelente atriz que consegue me emocionar apenas com o olhar.
Aparecida, o milagre é um filme cantado. Não há nele nenhuma novidade, ao ler a sinopse e ver o trailer você já sabe exatamente o que vem por aí. Ainda assim, possui uma construção honesta, detalhista e que cumpre a sua função. Falar de fé, de mudanças de atitudes e amor é sempre bom. O mundo precisa de histórias assim. É bom parar um pouco e pensar. Mesmo os defeitos não comprometem o objetivo maior. Principalmente se você é o público padrão desse tipo de filme. Nem precisa ser, necessariamente católico. Além do mais, é sempre lindo ouvir a Ave Maria.
A trama conta a história de Marcos, um garoto que vê seu pai morrer logo após rezar para Nossa Senhora lhe conceder uma graça e perde, assim, sua fé. Trinta e cinco anos depois, ele é um empresário insensível com problemas com seu filho que quer ser ator. Uma tragédia irá reaproximar pai, filho e Nossa Senhora Aparecida. O roteiro feito a quatro mãos é bem resolvido. Marco Schiavon, autor também do argumento conseguiu criar uma trama bem amarrada e justificada, sem forçar tanto a propaganda pró santa. Uma coisa interessante também no roteiro é a forma como as informações vão sendo passadas, nada é didático. Quando pulamos 35 anos do tempo, não temos aquelas cenas comuns de "você que fez isso e aquilo"... A apresentação da vida de Marcos, seu conflito com o filho, quem é Sônia, o problema no passado de Lucas. Tudo é orgânico e bem desenhado.
Um bom roteiro já me ganha, é sempre a primeira coisa que observo em um filme. E devo dizer que o que estragou esse foi o vício de estratégias televisivas de Tizuka Yamasaki. Em algums momentos, a diretora insere flashbacks que lembram as recapitularizações de telenovelas. Um personagem pára, observando o horizonte, e passamos para seus pensamentos, que são, na verdade, cenas reprisadas. Em novela é necessário, o telespectador pode não ter visto o capítulo anterior. Mas, no filme acabamos de ver a cena. Fica desnecessário e quebra um pouco a emoção verdadeira com estratégias de melodrama barato. Assim também é a cena do acidente. Lucas sair de casa durante o dia e o acidente ser de noite, até entendo, mas ele entrar no túnel em uma noite normal e sair dele em uma chuva torrencial, foi forçado.
Outro problema é o efeito especial na cena do rio. Mal feito, cria um constraste esquisito no momento em que a cabeça da santa é recolocada. Assim como toda a direção e trilha sonora do milagre em si. Ninguém me diga que é spoiler, pois está no título do filme. No geral, a trilha de Paulo Francisco Paes peca pelo excesso. Na cena do milagre então, é exagerado ao extremo. Fica over, assim como as interpretações e marcações de cenas. Fiquei tão presa observando o absurdo de algumas coisas que não consegui me emocionar. O irônico é que está tudo em excesso exatamente para que todos se acabem em lágrimas. O clichê da sequência final, no entanto, é necessário e quase esperado.
A fotografia de Luis Abramo é bem realizada, limpa, com detalhes interessantes como a morte do pai de Marcos. É curioso ver, também, o verdadeiro Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, que recebe a visita de nove milhões de devotos por ano. As atuações também são boas, principalmente Murilo Rosa que consegue passar bem a emoção do seu personagem em todas as viradas da trama. Destaque ainda para Bete Mendes, excelente atriz que consegue me emocionar apenas com o olhar.
Aparecida, o milagre é um filme cantado. Não há nele nenhuma novidade, ao ler a sinopse e ver o trailer você já sabe exatamente o que vem por aí. Ainda assim, possui uma construção honesta, detalhista e que cumpre a sua função. Falar de fé, de mudanças de atitudes e amor é sempre bom. O mundo precisa de histórias assim. É bom parar um pouco e pensar. Mesmo os defeitos não comprometem o objetivo maior. Principalmente se você é o público padrão desse tipo de filme. Nem precisa ser, necessariamente católico. Além do mais, é sempre lindo ouvir a Ave Maria.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Aparecida, o Milagre
2010-12-18T09:35:00-03:00
Amanda Aouad
cinema brasileiro|critica|drama|filme brasileiro|Murilo Rosa|
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