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Cine Futuro 2011 - um balanço

Cine Futuro - Diego Lisboa - Olho de BoiO CineFuturo terminou ontem com um saldo positivo. Apesar de um público menor no auditório do TCA, como ressaltou José Araripe, as discussões foram proveitosas, participativas e teve o plus da internet, já que o Irdeb exibiu ao vivo as palestras e as pessoas podiam participar com perguntas pelo Twitter.

Uma crítica que faria seria ao excesso de discussões em torno da política. Claro que, como falei anteriormente, Cinema é sempre política, mesmo quando falamos em indústria do entretenimento, mas senti falta um pouco de discussões mais vanguardistas. Parecia que estávamos todos estacionados no tempo, na década de 60. Mesmo nos temas que pareciam tratar de assuntos mais contemporâneos como Cinema Transcendental, fomos para o Cinema de Godard. No diálogo com Peter Joseph, o tema "O Cinema na Era da Viralidade" foi esquecido e a discussão girou em torno do movimento Zeitgeist. Já no KIVIDEOBIOPSICOMASSAFOLK, ficamos conhecendo mais de Gláuber Rocha que dos experimentos do professor Gilberto Vasconcelos. Não digo com isso, que não foi proveitoso, mas que poderia ser mais diversificado, como diversificados foram os filmes exibidos.


Nesse quesito, O Cine Futuro 2011 está de parabéns, vimos obras experimentais, novas linguagens, filmes clássicos, animações stop motion com frescor de novidade e belíssimos exemplares da sétima arte que jamais teríamos acesso aqui em Salvador sem eventos como esse. No sábado, uma nova sessão com sete curtas europeus foram exibidos. Alguns muito bons como Hanoi - Warsaw de Catalina Molina sobre imigrantes ilegais do Vietnã na Polônia. O filme é tenso, retratando de uma forma realista a situação de um povo, mas através de uma personagem ingênua e tola. Outro muito bom foi a animação Les Escargots de Joseph que construiu uma simbologia muito boa para a expressão "olhando para o próprio umbigo", em uma linguagem surrealista interessante e bem visual. Impressionante como uma animação Stop Motion pode ser tão inovadora.


À noite foi de premiação e encerramento. Nonato Freire, apresentador de todo o Festival fez uma performance interessante junto ao ator Fernando Marinho em uma homenagem a Federico Fellini, diretor italiano, que ganhou um clipe de filmes marcantes ao som de Marinho, ao vivo, no piano. O vídeo de Bernardo Bertolluci, homenageado do seminário, também foi reexibido para quem não tinha visto no primeiro dia. Por fim tivemos o anúncio dos dois curta-metragens vencedores da mostra competitiva, com reexibição dos mesmos.

Cine Futuro - Olho de BoiOlho de Boi, de Diego Lisboa, conta a história do pequeno Junca, garoto que só quer fazer bonito na escola com seu sapato velho/novo. Mas, a vida na comunidade onde mora não é fácil, tem a rivalidade com a turma da rua de baixo, mais velhos, que o ameaçam, seu pai, em sua rudeza e autoritarismo, e sua própria fé, que vacila em vários momentos. Olho de Boi é um filme sensível, que constrói em uma linguagem simples como pode ser dura a vida de uma criança, sem grandes sonhos ou perspectivas. Junca não consegue ter fé, não uma fé religiosa apenas, mas uma fé na vida. Duas pessoas tentam lhe dar o caminho das pedras, o Papai Noel – Eziel, vivido por Evandro Silva, que lhe mostra que tudo depende de um ponto de vista. E o "preto velho" vivido por Carlinhos Brown em uma interpretação surpreendente: "É preciso acreditar, pequenininho". Diego Lisboa ainda brinca com a linguagem real e fictícia na neve / chuva e cavalo / bicicleta, além claro da ironia final da placa na porta. Um filme muito bem realizado, sem dúvidas. Que mereceu o prêmio de melhor curta baiano.

Cine Futuro - Haruo OharaHaruo Ohara, de Rodrigo Grota do Paraná, venceu como melhor curta nacional principalmente por sua fotografia esplêndida. Em uma encenação do real, Grota reconstitui o que seria a vida do japonês Haruo Ohara, que registrou sua vida na comunidade japonesa no Paraná enquando esteve vivo. Contando até mesmo com um depoimento real do agricultor e fotógrafo, o filme procura encenar os momentos dos famosos cliques com uma beleza ímpar. A reconstituição de época é muito bem feita, nos levando para dentro da comunidade de imigrantes. Um dos momentos mais impressionantes é quando Rodrigo Grota utiliza o olho de uma garotinha para refletir imagens, como se nos mostrasse a pureza dessa criança no momento sublime de registro de uma época. Destaque ainda para a beleza de uma sala vazia.

Cine Futuro - Esc4EscapeNão era meu preferido, mas merece o prêmio bela beleza, resgate e simbologia. Sinto apenas por outro curta baiano, o Esc4escape de Alexandre Guena. Acredito que seja papel também do curta-metragem experimentar. E este curta me sensibilizou pelo jogo de sons e imagens construindo sensações diversas. A direção de arte é um destaque do filme, além das atuações e situações inusitadas como o protesto na reitoria da UFBa. Dinâmico, bem realizado, causou impacto, pelo menos em mim. Fica a minha menção honrosa.

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