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Cine Futuro e a diversidade de filmes
Cine Futuro e a diversidade de filmes
Depois de quatro dias discutindo cinema e política, o CineFuturo apresentou a mesa Cinema Político mediado por Ivana Bentes com a presença do cubano Miguel Coyula e Peter Joseph. A constante do tema durante todo o seminário é bastante compreensível, pois, como os três foram unânimes em falar, cinema é sempre política. Mesmo os blockbusters americanos estão expondo um estilo de vida, uma ideologia que é passada pela força dessa linguagem audiovisual. Isso é essencial para entendermos que cinema é esse que estamos fazendo e querendo. O problema é quando a discussão esquece o cinema e fica apenas na discussão política.
A expectativa em relação ao embate Cuba vs Estados Unidos, na verdade, não aconteceu, pela natureza dos dois palestrantes. A começar, ambos falavam em inglês, o que demonstra a dominação da língua na cultura de ambos. Miguel Coyula é um cubano que acreditou na ideologia da revolução quando pequeno, mas começou a fazer cinema e conseguiu uma bolsa de estudos em Nova York. Já Peter Joseph é um americano consciente dos problemas mundiais e que não se considera um cineasta, mas um músico que começou fazendo filmes como uma catarse. Coube a Ivana, como mediadora, conduzir a discussão, primeiro pensando na linguagem cinematográfica em si, depois pensando nesse mundo, nas soluções e caminhos que podemos ter. E nesse ponto, a segunda parte acabou sendo voltada, devido às dúvidas, receios e alertas em relação ao movimento Zeitgeist, que não deixa de ser mais um movimento norte-americano, como lembrou uma pessoa na plateia, para controlar o mundo.
Os dois explicaram suas referências, Coyula nos desenhos japoneses, Joseph na música, e falaram do poder da internet, que dá uma voz extra à comunidade, já que antes a fonte de informação mundial vinha de uma única fonte. Mas, Coyula alertou que nem todo o mundo é assim, já que em Cuba, por exemplo, a internet é para poucos e controlada pelo governo. Já na questão de ideologia passada, Ivana Bentes questionou sobre o que é mostrado no filme de ambos, Memórias do Desenvolvimento que mostra uma espécie de fuga para Marte e Zeitgeist que mostra um mundo utópico, mas que é impossível começar do zero. Joseph defendeu-se dizendo que é, na verdade, apenas um ponto de partida, um exemplo de sociedade ideal para que possamos nos organizar aos poucos, com cidades inteligentes e auto-geridas. Já Coyula falou que colocou aquele personagem que queria ir para Marte apenas como um contraste de seu personagem que não acreditava mais em nada. Mas, que provavelmente, se eles fossem para Marte, continuaria insatisfeito.
Miguel Coyula disse ainda que acredita que a revolução cubana não deu certo por causa da natureza humana que não pode ser controlada. No início, todos acreditaram e gostaram, mas aos poucos a inquietação começou a fazer surgir as diferenças, criando os problemas de falta de liberdade. Já Peter Joseph diz que somos condicionados pela cultura, então, é um processo. É otimizar a tecnologia que já está aí. A discussão continuou com a platéia nas alternativas para um mundo melhor, sempre mantendo esse tom. E esse foi o último debate do CineFuturo.
A partir da tarde, o Festival mostrou curtas europeus. Hoje foi o primeiro programa com oito filmes e amanhã será exibido o segundo programa com mais sete filmes. Uns muitos bons como Ampelmann (Lights) de Giulo Ricciarelli, que conta a saga de um policial de uma cidadezinha que resolve organizar o "trânsito" de uma ponte com um semáforo, ou Maria´s Way de Anne Milne, um documentário que acompanha uma senhora à beira do Caminho de Santiago vendendo selos de confirmação de passagem pelo local. Além da programação de filme da noite. Assim como as atividades nos demais espaços. No ICBA, continuou a Retrospectiva Bertolucci com a exibição de O Último Imperador, A Estratégia da Aranha e Amore e Rabbia. Na Alexandre Robatto, teve a exibição de animações francesas. E na Walter da Silveira, na Mostra Amor à Francesa, Guarda-chuvas do Amor e Duas Garotas Românticas.
Nos últimos filmes da mostra competitiva de curtas, tivemos Acercadacana de Felipe Calheiros, um interessante documentário sobre o problema da terra e Olho de Boi de Diego Lisboa, um dos melhores curtas exibidos contando a história de um garoto enfrentando seus medos, seja em casa com o pai autoritário ou na rua com a gangue inimiga. Destaque para a participação do músico Carlinhos Brown, em uma surpreendente interpretação, só não foi perfeita por uma risada desproporcional. O nome "olho de boi", é explicada na história, são sementes de proteção. A fé e a vida pelo ponto de vista de uma criança são o tema do filme.
O longametragem Eu, também de Álvaro Pastor e Antonio Naharro traz uma bonita história sobre Daniel, um garoto com Síndrome de Down que consegue ir à faculdade e descobre o amor, mesmo que não seja correspondido. Por fim, a noite terminou em festa baiana com a avant première de O Homem Que Não Dormia. O TCA estava completamente lotado para ver o filme de Edgard Navarro, o que não deixa de incomodar, pois fica parecendo que o público audiovisual baiano só se interessa por si mesmo, já que nos outros dias, as salas não chegaram à metade de sua capacidade. Às 17h, já não haviam ingressos nem mesmo para quem pagou o Seminário, devido a superlotação da sala. Eu sabia que tinha que trocar cedo, mas não imaginei que fosse tanto. Apesar do tumulto inicial, muitos conseguiram entrar depois e a Truque Produtora Cinematográfica (agora aportuguesada já que antes se chamava Truq Cinema e Vídeo) pode comemorar na figura de sua presidente Sylvia Abreu mais um longametragem baiano feito com muita dificuldade. No palco, ela pediu que as leis de incentivos olhassem mais para o cinema baiano. Em um discurso mais emocional, Edgard Navarro vibrou por ter conseguido exorcizar essa história que o acompanhava há quarenta anos. Foi uma noite de festa entre amigos. Agora é ver se O Homem Que Não Dormia consegue a mesma trajetória de Eu me Lembro, vencedor de sete prêmios no Festival de Brasília.
Fotos de divulgação do CineFuturo.
A expectativa em relação ao embate Cuba vs Estados Unidos, na verdade, não aconteceu, pela natureza dos dois palestrantes. A começar, ambos falavam em inglês, o que demonstra a dominação da língua na cultura de ambos. Miguel Coyula é um cubano que acreditou na ideologia da revolução quando pequeno, mas começou a fazer cinema e conseguiu uma bolsa de estudos em Nova York. Já Peter Joseph é um americano consciente dos problemas mundiais e que não se considera um cineasta, mas um músico que começou fazendo filmes como uma catarse. Coube a Ivana, como mediadora, conduzir a discussão, primeiro pensando na linguagem cinematográfica em si, depois pensando nesse mundo, nas soluções e caminhos que podemos ter. E nesse ponto, a segunda parte acabou sendo voltada, devido às dúvidas, receios e alertas em relação ao movimento Zeitgeist, que não deixa de ser mais um movimento norte-americano, como lembrou uma pessoa na plateia, para controlar o mundo.
Os dois explicaram suas referências, Coyula nos desenhos japoneses, Joseph na música, e falaram do poder da internet, que dá uma voz extra à comunidade, já que antes a fonte de informação mundial vinha de uma única fonte. Mas, Coyula alertou que nem todo o mundo é assim, já que em Cuba, por exemplo, a internet é para poucos e controlada pelo governo. Já na questão de ideologia passada, Ivana Bentes questionou sobre o que é mostrado no filme de ambos, Memórias do Desenvolvimento que mostra uma espécie de fuga para Marte e Zeitgeist que mostra um mundo utópico, mas que é impossível começar do zero. Joseph defendeu-se dizendo que é, na verdade, apenas um ponto de partida, um exemplo de sociedade ideal para que possamos nos organizar aos poucos, com cidades inteligentes e auto-geridas. Já Coyula falou que colocou aquele personagem que queria ir para Marte apenas como um contraste de seu personagem que não acreditava mais em nada. Mas, que provavelmente, se eles fossem para Marte, continuaria insatisfeito.
Miguel Coyula disse ainda que acredita que a revolução cubana não deu certo por causa da natureza humana que não pode ser controlada. No início, todos acreditaram e gostaram, mas aos poucos a inquietação começou a fazer surgir as diferenças, criando os problemas de falta de liberdade. Já Peter Joseph diz que somos condicionados pela cultura, então, é um processo. É otimizar a tecnologia que já está aí. A discussão continuou com a platéia nas alternativas para um mundo melhor, sempre mantendo esse tom. E esse foi o último debate do CineFuturo.
A partir da tarde, o Festival mostrou curtas europeus. Hoje foi o primeiro programa com oito filmes e amanhã será exibido o segundo programa com mais sete filmes. Uns muitos bons como Ampelmann (Lights) de Giulo Ricciarelli, que conta a saga de um policial de uma cidadezinha que resolve organizar o "trânsito" de uma ponte com um semáforo, ou Maria´s Way de Anne Milne, um documentário que acompanha uma senhora à beira do Caminho de Santiago vendendo selos de confirmação de passagem pelo local. Além da programação de filme da noite. Assim como as atividades nos demais espaços. No ICBA, continuou a Retrospectiva Bertolucci com a exibição de O Último Imperador, A Estratégia da Aranha e Amore e Rabbia. Na Alexandre Robatto, teve a exibição de animações francesas. E na Walter da Silveira, na Mostra Amor à Francesa, Guarda-chuvas do Amor e Duas Garotas Românticas.
Nos últimos filmes da mostra competitiva de curtas, tivemos Acercadacana de Felipe Calheiros, um interessante documentário sobre o problema da terra e Olho de Boi de Diego Lisboa, um dos melhores curtas exibidos contando a história de um garoto enfrentando seus medos, seja em casa com o pai autoritário ou na rua com a gangue inimiga. Destaque para a participação do músico Carlinhos Brown, em uma surpreendente interpretação, só não foi perfeita por uma risada desproporcional. O nome "olho de boi", é explicada na história, são sementes de proteção. A fé e a vida pelo ponto de vista de uma criança são o tema do filme.
O longametragem Eu, também de Álvaro Pastor e Antonio Naharro traz uma bonita história sobre Daniel, um garoto com Síndrome de Down que consegue ir à faculdade e descobre o amor, mesmo que não seja correspondido. Por fim, a noite terminou em festa baiana com a avant première de O Homem Que Não Dormia. O TCA estava completamente lotado para ver o filme de Edgard Navarro, o que não deixa de incomodar, pois fica parecendo que o público audiovisual baiano só se interessa por si mesmo, já que nos outros dias, as salas não chegaram à metade de sua capacidade. Às 17h, já não haviam ingressos nem mesmo para quem pagou o Seminário, devido a superlotação da sala. Eu sabia que tinha que trocar cedo, mas não imaginei que fosse tanto. Apesar do tumulto inicial, muitos conseguiram entrar depois e a Truque Produtora Cinematográfica (agora aportuguesada já que antes se chamava Truq Cinema e Vídeo) pode comemorar na figura de sua presidente Sylvia Abreu mais um longametragem baiano feito com muita dificuldade. No palco, ela pediu que as leis de incentivos olhassem mais para o cinema baiano. Em um discurso mais emocional, Edgard Navarro vibrou por ter conseguido exorcizar essa história que o acompanhava há quarenta anos. Foi uma noite de festa entre amigos. Agora é ver se O Homem Que Não Dormia consegue a mesma trajetória de Eu me Lembro, vencedor de sete prêmios no Festival de Brasília.
Fotos de divulgação do CineFuturo.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Cine Futuro e a diversidade de filmes
2011-07-30T14:13:00-03:00
Amanda Aouad
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