
Mas, afinal, por que ele seria uma boa representação do primeiro dia do CineFuturo? Porque este foi o clima que reinou desde a abertura às 14hs da segunda-feira. Cinema comercial vs cinema de arte, o lugar do público, as questões que regem o nosso cinema e a dominação de Hollywood. O evento já começou inovando, em vez de uma mesa de abertura, tivemos vídeos. Assim, a platéia que foi ao Teatro Castro Alves pode se conectar com os patrocinadores do evento, a Embaixadora Francesa, o Secretário de Cultura da Bahia, o idealizador do evento Walter Lima e, principalmente, Bernardo Bertolucci direto da Itália em um lindo depoimento.

Pegando carona no depoimento de Bertolucci, a organização do evento trouxe uma homenagem à Gustavo Dahl, mostrando uma compilação de depoimentos do cineasta argentino, quase baiano, em diversas edições do seminário de cinema. Em seguida, o cineasta Zelito Viana fez uma rápida apresentação do seu filme: Augusto Boal e o teatro do oprimido, um documentário intenso sobre esse pensador brasileiro que criou uma nova forma de fazer teatro. O filme traz uma retrospectiva de todo seu trabalho, em depoimentos, imagens fotográficas e em vídeo. Além de mostrar toda a repercussão mundial desse formato.
Após a exibição do documentário, pudemos participar de um diálogo empolgante com o próprio Zelito Viana e Maria do Rosário Caetano. A discussão transcendeu o Teatro do Oprimido e a carreira de Zelito Viana para discutir o cinema brasileiro em geral. Refletir é a palavra do Teatro do Oprimido, que mexe com segmentos esquecidos. Inspirados em Augusto Boal que buscava fazer a platéia pensar, muitos pensamentos acalorados surgiram em prol do cinema de arte. Foi interessante acompanhar os depoimentos, perguntas e visões diversas desde estudantes sonhando com a faculdade de cinema, críticos, blogueiros, estudantes de cinema, a profissionais conhecidos como Bertrand Duarte, que perguntou sobre a dificuldade de distribuição a o ator Pisit Mota que levantou a questão de dificuldade de conseguir trabalho no cinema, já que pelo baixo orçamento é mais fácil pagar não atores ou atores já consagrados.

Zelito Viana defendeu o cinema independente, mas ressaltou que a Rede Globo é a única emissora que bem ou mal exibe filmes nacionais, e que fitas como Se Eu Fosse Você, Cilada.com, entre outros, acabam cumprindo um papel no cenário. O que não deixa de ser verdade. Como o próprio cineasta disse: Cadê a Band Filmes, o SBT Filmes? E obras nacionais sendo exibidas nesses canais? Maria do Rosário lembrou ainda da importância do Canal Brasil, outro produto da Rede Globo, e que infelizmente só aparece no pacote mais caro das TVs a cabo. Outro ponto importante a ser ressaltado na conversa, foi o fato da Globo Filmes ter melhorado a imagem do cinema nacional para o grande público que acreditava que filme brasileiro só tinha pornografia.
Após a discussão proveitosa, à noite, aconteceu a exibição de três curtas da Mostra Competitiva, destaque para o curta baiano A morte de D.J. em Paris, de Igor Penna, baseado no romance de Roberto Dummond e o belo A Mula Teimosa e o Controle Remoto, do paulista Hélio Vilella Nunes, que quase sem palavras soube passar muito. Além do longametragem Memórias do Desenvolvimento, cujo diretor Miguel Coyula participará de uma mesa na sexta-feira, houve a exibição ainda do espanhol Finisterrae, em um estilo surreal experimental, onde dois simpáticos fantasmas faziam sua jornada de auto-descobrimento. Destaque para a belíssima fotografia e para o inusitado dos créditos finais em áudio.

Fotos por João Veríssimo do SaladaCultural.