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Augusto Boal e o Teatro do Oprimido
Augusto Boal e o Teatro do Oprimido
Há dois filmes dentro de Augusto Boal e o Teatro do Oprimido, e os dois dialogam perfeitamente bem. A conversa com o diretor Zelito Viana só confirmou essa sensação após a projeção. Segundo o diretor, a idéia era fazer um filme documental mostrando o processo de criação do Teatro do Oprimido, algo mais ilustrativo, o Augusto Boal trabalhando, as companhias de teatro encenando, etc. Mas, quis o destino que o autor falecesse e Viana ficou com aquelas imagens, sem saber o melhor momento para lançar e como lançar aquele documentário. A solução foi resgatar essa figura especial da cultura brasileira, buscando novos depoimentos, histórias e até mesmo, a famosa música de Chico Buarque em sua homenagem: Meu Caro Amigo.
Augusto Boal e o Teatro do Oprimido, então, começa como um documentário clássico, formado por depoimentos diversos explicando o que é afinal o Teatro do Oprimido. Entre depoimentos do próprio Augusto, Ferreira Gullar, Edu Lobo, Chico Buarque, entre outros, vemos em tela um resgate da própria história do teatro brasileiro. O surgimento do teatro de Arena, o Teatro Opinião, as experimentações do teatro invisível, até o livro lançado por Boal que a princípio se chamaria "Poética do Oprimido", mas o editor sugeriu que virasse "Teatro do Oprimido", para não fazer confusão nas livrarias. Surgia assim uma técnica que seria comparada a Brecht e Stanislavski.
Explicada a idéia do teatro que abre caminhos sem ter um caminho certo, buscando idéias em todos para transformação do mundo, é hora de ver isso em prática. O documentário, então, se transforma, esquecendo um pouco os depoimentos de estúdio para percorrer o mundo mostrando as transformações em cena. O roteiro foca, principalmente na Índia e em Moçambique, onde vemos a encenação de peças itinerantes, com a platéia sendo chamada para interagir com a história, além de ensaios nos Estados Unidos. O filme demonstra bem o sucesso que a técnica faz em todo o mundo, dando uma dimensão do que possa ser a obra de Augusto Boal.
Além de acompanhar as transformações no mundo, o filme demonstra três setores sociais que se beneficiam do Teatro do Oprimido. As escolas públicas, onde os alunos aprendem a ter voz. As prisões, ajudando os presos a não perderem sua humanidade, já que ali eles perdem até mesmo o direito a um nome, se tornando um número, segundo depoimento no filme. É interessante, ver também a comparação dos presos com os alunos, que podem ser representados como presos também, em salas de aula com grades e pátios parecidos com os de penitenciárias. E por fim, o trabalho feito em Centros de Saúde Mental.
O Teatro do Oprimido mexe com segmentos esquecidos. Um dos momentos mais marcantes do filme é quando se conta a história de uma peça feita por empregadas domésticas. Em um jogral, Augusto Boal e Zelito Viana contam um caso de uma moça que após a experiência de encenar a peça em um teatro chora copiosamente de emoção. E a emoção que ela sentia não era exatamente de estar encenando uma peça, mas de descobrir sua essência. Ela não era apenas uma empregada doméstica e, sim, uma mulher. É essa transformação que Boal queria ver nas pessoas. Era um idealista, que incomodou muitos, chegando a ser exilado na época da ditadura militar.
Augusto Boal e o Teatro do Oprimido é uma grande homenagem que Zelito Viana faz a esse artista brasileiro, que merece ser visto, lido e conhecido por todos. Não por acaso, a Caixa Cultural irá digitalizar todo o seu acervo e disponibilizar na internet. Zelito Viana, o homem que já produziu grandes obras como Cabra Marcado para Morrer e dirigiu tantas outras como Morte e Vida Severina, sabe reconhecer a importância desse talento, em um filme inspirado e inspirador.
Filme visto no CineFuturo 2011 - Seminário de Cinema da Bahia.
Augusto Boal e o Teatro do Oprimido, então, começa como um documentário clássico, formado por depoimentos diversos explicando o que é afinal o Teatro do Oprimido. Entre depoimentos do próprio Augusto, Ferreira Gullar, Edu Lobo, Chico Buarque, entre outros, vemos em tela um resgate da própria história do teatro brasileiro. O surgimento do teatro de Arena, o Teatro Opinião, as experimentações do teatro invisível, até o livro lançado por Boal que a princípio se chamaria "Poética do Oprimido", mas o editor sugeriu que virasse "Teatro do Oprimido", para não fazer confusão nas livrarias. Surgia assim uma técnica que seria comparada a Brecht e Stanislavski.
Explicada a idéia do teatro que abre caminhos sem ter um caminho certo, buscando idéias em todos para transformação do mundo, é hora de ver isso em prática. O documentário, então, se transforma, esquecendo um pouco os depoimentos de estúdio para percorrer o mundo mostrando as transformações em cena. O roteiro foca, principalmente na Índia e em Moçambique, onde vemos a encenação de peças itinerantes, com a platéia sendo chamada para interagir com a história, além de ensaios nos Estados Unidos. O filme demonstra bem o sucesso que a técnica faz em todo o mundo, dando uma dimensão do que possa ser a obra de Augusto Boal.
Além de acompanhar as transformações no mundo, o filme demonstra três setores sociais que se beneficiam do Teatro do Oprimido. As escolas públicas, onde os alunos aprendem a ter voz. As prisões, ajudando os presos a não perderem sua humanidade, já que ali eles perdem até mesmo o direito a um nome, se tornando um número, segundo depoimento no filme. É interessante, ver também a comparação dos presos com os alunos, que podem ser representados como presos também, em salas de aula com grades e pátios parecidos com os de penitenciárias. E por fim, o trabalho feito em Centros de Saúde Mental.
O Teatro do Oprimido mexe com segmentos esquecidos. Um dos momentos mais marcantes do filme é quando se conta a história de uma peça feita por empregadas domésticas. Em um jogral, Augusto Boal e Zelito Viana contam um caso de uma moça que após a experiência de encenar a peça em um teatro chora copiosamente de emoção. E a emoção que ela sentia não era exatamente de estar encenando uma peça, mas de descobrir sua essência. Ela não era apenas uma empregada doméstica e, sim, uma mulher. É essa transformação que Boal queria ver nas pessoas. Era um idealista, que incomodou muitos, chegando a ser exilado na época da ditadura militar.
Augusto Boal e o Teatro do Oprimido é uma grande homenagem que Zelito Viana faz a esse artista brasileiro, que merece ser visto, lido e conhecido por todos. Não por acaso, a Caixa Cultural irá digitalizar todo o seu acervo e disponibilizar na internet. Zelito Viana, o homem que já produziu grandes obras como Cabra Marcado para Morrer e dirigiu tantas outras como Morte e Vida Severina, sabe reconhecer a importância desse talento, em um filme inspirado e inspirador.
Filme visto no CineFuturo 2011 - Seminário de Cinema da Bahia.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Augusto Boal e o Teatro do Oprimido
2011-07-26T13:44:00-03:00
Amanda Aouad
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