Anjos da Noite: O Despertar
Em 2003, Underworld chegou as telas com mais uma trama de vampiros e lobisomens em guerra. Encabeçando a aventura, está a vampira Selene, interpretada por Kate Beckinsale. Por trás de sua caça por lycans e paixão por um híbrido, há uma mitologia interessante sobre o primeiro imortal, Alexander Corvinus, que deu origem às duas raças inimigas. O segundo filme continuou a trama, o terceiro retornou no tempo para nos mostrar o início de tudo e parecia que ficaria por aí. Mas, existe o quarto filme, Anjos da Noite: O Despertar, que traz de volta a bela Selene, em uma trama rasa, quase esquecendo a mitologia, mas com muita ação para distrair qualquer pensamento crítico em relação ao filme.
A história escrita por quatro pessoas pode ser resumida em algumas palavras, tão poucas que se eu explicar muito acabo revelando spoilers. De maneira inteligente, há um prólogo resumindo a série até aqui. Assim, o filme fica acessível a qualquer pessoa que nunca tenha visto os demais filmes. Nessa explicação inicial, ficamos sabendo também o que Selene sabe até então. Estamos em um mundo pós-revelação de vampiros e lycans para humanidade, onde os governantes humanos acreditam terem finalmente aniquilado essa raça. Dentro de um laboratório de pesquisas avançadas, Selene acorda após doze anos e descobre que ela e outra cobaia serviram de testes diversos para encontrar uma vacina contra o vírus das duas raças. Começa então, uma fuga desesperada, para salvar a própria pele e da pequena cobaia, Eva, que acaba de descobrir ser sua filha. O resto é muita correria, tiros, lutas e surras. Nunca Selene apanhou tanto na vida.
Vi muitas pessoas falando mal do roteiro e não entendendo porque precisou de quatro pessoas para isso. Bom, essas pessoas que reclamaram provavelmente não são roteiristas, porque não é apenas função deste profissional escrever uma história e falas para os personagens. Cada cena é arquitetada primeiro por eles, para depois chegar ao diretor. E acreditem, dá muito mais trabalho escrever cenas de ação que outras. Porque é muito fácil tudo ficar parecendo um grande show pirotécnico que se arrasta até chegar ao final da trama. Mas, incrivelmente, apesar de um argumento quase chulo, Anjos da Noite: O Despertar tem uma boa economia narrativa. As horas passam sem que possamos sentir, entretidos pela jornada de Selene e Eva. Nem sentimos falta do hibrido Michael, pois além do personagem ser bem chatinho, a vampira agora conta com a ajuda do detetive Sebastian e do vampiro David, bem mais interessantes.
O que vale aqui é mesmo a ação. Bem arquitetada e com fortes emoções, a dupla de direção sueca Mans Marlind e Bjorn Stein consegue bons feitos no balé em geral, seja com carros, balas ou garras. É possível sentir a tensão constante e a situação de perigo dos protagonistas. Já o 3D é quase um acessório de luxo que não faz muita falta. Para um filme que se concentra na ação, os diretores conseguem outro bom feito que é manter seus personagens dignos, sem exageros, nem tons errados. A começar pela protagonista Kate Beckinsale, sempre fria e objetiva, mas que demonstra um abalo em sua proteção ao conhecer a filha e ouvir que Michael está morto, por exemplo. A garotinha India Eisley também não faz feio e ainda temos o plus de Stephen Rea como um vilão aquém do seu talento, mas também digno. Michael Ealy como o detetive e Theo James como David figuram como muitos outros em cena.
Aos que estejam se perguntando, "como assim, vampira grávida de um lobisomem?", O Despertar não entra nesse mérito, é verdade. Não dá tempo diante de tanta correria e perigo iminente. Mas, a mitologia que cerca a série Underworld é muito clara ao construir seus seres. Eles são filhos de Alexander Corvinus, um ser humano imortal que gerou essas duas criaturas, um vampiro e outro lobisomem. Há pais e filhos em diversos níveis. E se eles vieram de um mesmo ser, juntos poderiam criar uma nova vida, por que não? Mas, não tentem quebrar a cabeça com isso, um conselho, porque o filme simplesmente não lhe dá brechas para isso. As coisas simplesmente são e somos levados pelo fluxo em meio a tiros e gritos.
No geral, Underworld Awakening é um entretenimento interessante, que nos deixa atentos, envolvidos com a protagonista que já conhecemos e perplexos com algumas cenas de ação. Há momentos vergonhosos como a aparição de Michael (feita por um dublê já que Scott Speedman não está no filme), erros pontuais como o mistério que envolve o laboratório, e alguns bons momentos como quando Selene encontra a filha pela primeira vez, em um suspense genuíno. Mas, não tem nada que possa nos surpreender de fato ou convencer de que seja um excelente e inesquecível filme. Paradoxalmente, é uma aventura encantadora.
Anjos da Noite: O Despertar (Underworld Awakening: 2012 / EUA)
Direção: Mans Marlind e Bjorn Stein
Roteiro: J. Michael Straczynski, Allison Burnett, John Hlavin, Len Wiseman
Com: Kate Beckinsale, Theo James, India Eisley, Michael Ealy
Duração: 88 min.
A história escrita por quatro pessoas pode ser resumida em algumas palavras, tão poucas que se eu explicar muito acabo revelando spoilers. De maneira inteligente, há um prólogo resumindo a série até aqui. Assim, o filme fica acessível a qualquer pessoa que nunca tenha visto os demais filmes. Nessa explicação inicial, ficamos sabendo também o que Selene sabe até então. Estamos em um mundo pós-revelação de vampiros e lycans para humanidade, onde os governantes humanos acreditam terem finalmente aniquilado essa raça. Dentro de um laboratório de pesquisas avançadas, Selene acorda após doze anos e descobre que ela e outra cobaia serviram de testes diversos para encontrar uma vacina contra o vírus das duas raças. Começa então, uma fuga desesperada, para salvar a própria pele e da pequena cobaia, Eva, que acaba de descobrir ser sua filha. O resto é muita correria, tiros, lutas e surras. Nunca Selene apanhou tanto na vida.
Vi muitas pessoas falando mal do roteiro e não entendendo porque precisou de quatro pessoas para isso. Bom, essas pessoas que reclamaram provavelmente não são roteiristas, porque não é apenas função deste profissional escrever uma história e falas para os personagens. Cada cena é arquitetada primeiro por eles, para depois chegar ao diretor. E acreditem, dá muito mais trabalho escrever cenas de ação que outras. Porque é muito fácil tudo ficar parecendo um grande show pirotécnico que se arrasta até chegar ao final da trama. Mas, incrivelmente, apesar de um argumento quase chulo, Anjos da Noite: O Despertar tem uma boa economia narrativa. As horas passam sem que possamos sentir, entretidos pela jornada de Selene e Eva. Nem sentimos falta do hibrido Michael, pois além do personagem ser bem chatinho, a vampira agora conta com a ajuda do detetive Sebastian e do vampiro David, bem mais interessantes.
O que vale aqui é mesmo a ação. Bem arquitetada e com fortes emoções, a dupla de direção sueca Mans Marlind e Bjorn Stein consegue bons feitos no balé em geral, seja com carros, balas ou garras. É possível sentir a tensão constante e a situação de perigo dos protagonistas. Já o 3D é quase um acessório de luxo que não faz muita falta. Para um filme que se concentra na ação, os diretores conseguem outro bom feito que é manter seus personagens dignos, sem exageros, nem tons errados. A começar pela protagonista Kate Beckinsale, sempre fria e objetiva, mas que demonstra um abalo em sua proteção ao conhecer a filha e ouvir que Michael está morto, por exemplo. A garotinha India Eisley também não faz feio e ainda temos o plus de Stephen Rea como um vilão aquém do seu talento, mas também digno. Michael Ealy como o detetive e Theo James como David figuram como muitos outros em cena.
Aos que estejam se perguntando, "como assim, vampira grávida de um lobisomem?", O Despertar não entra nesse mérito, é verdade. Não dá tempo diante de tanta correria e perigo iminente. Mas, a mitologia que cerca a série Underworld é muito clara ao construir seus seres. Eles são filhos de Alexander Corvinus, um ser humano imortal que gerou essas duas criaturas, um vampiro e outro lobisomem. Há pais e filhos em diversos níveis. E se eles vieram de um mesmo ser, juntos poderiam criar uma nova vida, por que não? Mas, não tentem quebrar a cabeça com isso, um conselho, porque o filme simplesmente não lhe dá brechas para isso. As coisas simplesmente são e somos levados pelo fluxo em meio a tiros e gritos.
No geral, Underworld Awakening é um entretenimento interessante, que nos deixa atentos, envolvidos com a protagonista que já conhecemos e perplexos com algumas cenas de ação. Há momentos vergonhosos como a aparição de Michael (feita por um dublê já que Scott Speedman não está no filme), erros pontuais como o mistério que envolve o laboratório, e alguns bons momentos como quando Selene encontra a filha pela primeira vez, em um suspense genuíno. Mas, não tem nada que possa nos surpreender de fato ou convencer de que seja um excelente e inesquecível filme. Paradoxalmente, é uma aventura encantadora.
Anjos da Noite: O Despertar (Underworld Awakening: 2012 / EUA)
Direção: Mans Marlind e Bjorn Stein
Roteiro: J. Michael Straczynski, Allison Burnett, John Hlavin, Len Wiseman
Com: Kate Beckinsale, Theo James, India Eisley, Michael Ealy
Duração: 88 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Anjos da Noite: O Despertar
2012-03-07T08:13:00-03:00
Amanda Aouad
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