O Corvo
Famoso poeta e escritor americano, Edgar Allan Poe é mais famoso por seus contos policiais macabros. Quis o destino que esse homem que tanto brincou com a morte, tivesse um mistério em seu próprio fim, sendo encontrado no dia três de outubro de 1849, nas ruas de Baltimore, em um estado delirante. O que o levou a falecer, permanece um mistério e serviu como premissa interessante, para um filme nem tanto.
O Corvo é, então, uma brecha, uma oportunidade que os roteiristas Ben Livingston e Hannah Shakespeare tiveram a genialidade de perceber e pouco talento para desenvolver. Afinal, quer algo mais instigante do que um escritor de mistério com uma morte misteriosa? A imaginação realmente voa longe, mas os roteiristas de O Corvo foram tão pouco criativos quanto o serial killer do filme, apenas copiando os crimes dos livros de Poe para construir uma colcha de retalhos que não consegue uma liga suficientemente forte para nos manter atentos na cadeira durante os 111 minutos de projeção.
O ritmo do filme é lento, a narrativa se arrasta e as explicações são didáticas demais em determinados momentos. Falta emoção em cenas como o baile de máscaras, por exemplo, apesar de termos bons momentos nos subsolos da cidade. Temos até alguns bons sustos. Porém, o filme não consegue se construir nesse tom de suspense bem realizado por muito tempo, oscilando entre um humor sem graça, do atrapalhado Poe querendo reconhecimento, e o grotesco do seu fã em seus primeiros crimes, destaque para aquele pêndulo passando no meio do corpo do crítico literário.
O próprio mote inicial de um criminoso inspirado nos livros de Allan Poe o levarem a ser suspeito é frágil. Afinal, um escritor se tornar serial killer já é fantasioso, deixando uma pista tão forte quanto essa, só o tornaria um imbecil e não um gênio do crime. Mas, a própria suspeita não se sustenta e o escritor se torna o principal aliado do detetive Fields, principalmente quanto o criminoso rapta a paixão de Poe, intensificando o jogo de detetive com seu alvo principal. Essa caça ao "tesouro" dá um novo fôlego à trama, apesar de não tornar O Corvo um exemplar próximo de sua inspiração.
John Cusack, apesar de bem caracterizado, não ajuda também na construção do ritmo do filme. Quando lhe é exigido ser sarcástico, com um humor ácido a exemplo de Robert Downey Jr. em Sherlock Holmes, falha, se tornando um chato. E nos momentos de tensão, ele parece Nicolas Cage com sua eterna expressão abobalhada. Há um exagero também na dor, nos momentos chaves, e uma falta de lógica em suas atitudes como gritar desesperado por Emily, a moça vivida por Alice Eve, quando se sabe que isso só ajudaria a chamar a atenção do assassino.
A direção de James McTeigue também não ajuda na construção do bom suspense, nos dando muita informação truncada e poucas pistas para o real envolvimento. O próprio resgate das obras de Allan Poe não soam naturais, parece uma construção macabra de citações sem um sentido lógico. Ainda assim, há bons momentos onde luz e sombra são construídas de uma maneira assustadoramente inteligente. Ou quando a câmera revela aos poucos alguns detalhes de cena. Mas, no geral, é mesmo uma construção morna.
O Corvo é, então, uma boa ideia que perdeu uma grande chance de ser melhor desenvolvida. Ainda assim, tem momentos que entretém a contento os amantes do gênero. Não é um desperdício, de fato. É possível criar alguma empatia com os personagens e temer pela jovem Emily, principalmente, em vários momentos. Mas, não nos surpreende, nem nos arrebata em nenhuma cena. Um filme morno, que poderia ser uma grande obra.
Destaque para os créditos finais, sem nenhuma relação estética com a atmosfera ou direção de arte do filme, mas que compõe belas imagens de corvos de metal. E para quem ainda não ligou o nome à pessoa, o título do filme é uma referência ao poema mais famoso do escritor: O Corvo.
O Corvo (The Raven, 2012 / EUA)
Direção: James McTeigue
Roteiro: Ben Livingston e Hannah Shakespeare
Com: John Cusack, Alice Eve, Luke Evans
Duração: 111 min.
O Corvo é, então, uma brecha, uma oportunidade que os roteiristas Ben Livingston e Hannah Shakespeare tiveram a genialidade de perceber e pouco talento para desenvolver. Afinal, quer algo mais instigante do que um escritor de mistério com uma morte misteriosa? A imaginação realmente voa longe, mas os roteiristas de O Corvo foram tão pouco criativos quanto o serial killer do filme, apenas copiando os crimes dos livros de Poe para construir uma colcha de retalhos que não consegue uma liga suficientemente forte para nos manter atentos na cadeira durante os 111 minutos de projeção.
O ritmo do filme é lento, a narrativa se arrasta e as explicações são didáticas demais em determinados momentos. Falta emoção em cenas como o baile de máscaras, por exemplo, apesar de termos bons momentos nos subsolos da cidade. Temos até alguns bons sustos. Porém, o filme não consegue se construir nesse tom de suspense bem realizado por muito tempo, oscilando entre um humor sem graça, do atrapalhado Poe querendo reconhecimento, e o grotesco do seu fã em seus primeiros crimes, destaque para aquele pêndulo passando no meio do corpo do crítico literário.
O próprio mote inicial de um criminoso inspirado nos livros de Allan Poe o levarem a ser suspeito é frágil. Afinal, um escritor se tornar serial killer já é fantasioso, deixando uma pista tão forte quanto essa, só o tornaria um imbecil e não um gênio do crime. Mas, a própria suspeita não se sustenta e o escritor se torna o principal aliado do detetive Fields, principalmente quanto o criminoso rapta a paixão de Poe, intensificando o jogo de detetive com seu alvo principal. Essa caça ao "tesouro" dá um novo fôlego à trama, apesar de não tornar O Corvo um exemplar próximo de sua inspiração.
John Cusack, apesar de bem caracterizado, não ajuda também na construção do ritmo do filme. Quando lhe é exigido ser sarcástico, com um humor ácido a exemplo de Robert Downey Jr. em Sherlock Holmes, falha, se tornando um chato. E nos momentos de tensão, ele parece Nicolas Cage com sua eterna expressão abobalhada. Há um exagero também na dor, nos momentos chaves, e uma falta de lógica em suas atitudes como gritar desesperado por Emily, a moça vivida por Alice Eve, quando se sabe que isso só ajudaria a chamar a atenção do assassino.
A direção de James McTeigue também não ajuda na construção do bom suspense, nos dando muita informação truncada e poucas pistas para o real envolvimento. O próprio resgate das obras de Allan Poe não soam naturais, parece uma construção macabra de citações sem um sentido lógico. Ainda assim, há bons momentos onde luz e sombra são construídas de uma maneira assustadoramente inteligente. Ou quando a câmera revela aos poucos alguns detalhes de cena. Mas, no geral, é mesmo uma construção morna.
O Corvo é, então, uma boa ideia que perdeu uma grande chance de ser melhor desenvolvida. Ainda assim, tem momentos que entretém a contento os amantes do gênero. Não é um desperdício, de fato. É possível criar alguma empatia com os personagens e temer pela jovem Emily, principalmente, em vários momentos. Mas, não nos surpreende, nem nos arrebata em nenhuma cena. Um filme morno, que poderia ser uma grande obra.
Destaque para os créditos finais, sem nenhuma relação estética com a atmosfera ou direção de arte do filme, mas que compõe belas imagens de corvos de metal. E para quem ainda não ligou o nome à pessoa, o título do filme é uma referência ao poema mais famoso do escritor: O Corvo.
O Corvo (The Raven, 2012 / EUA)
Direção: James McTeigue
Roteiro: Ben Livingston e Hannah Shakespeare
Com: John Cusack, Alice Eve, Luke Evans
Duração: 111 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Corvo
2012-05-23T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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