
O Corvo é, então, uma brecha, uma oportunidade que os roteiristas Ben Livingston e Hannah Shakespeare tiveram a genialidade de perceber e pouco talento para desenvolver. Afinal, quer algo mais instigante do que um escritor de mistério com uma morte misteriosa? A imaginação realmente voa longe, mas os roteiristas de O Corvo foram tão pouco criativos quanto o serial killer do filme, apenas copiando os crimes dos livros de Poe para construir uma colcha de retalhos que não consegue uma liga suficientemente forte para nos manter atentos na cadeira durante os 111 minutos de projeção.

O próprio mote inicial de um criminoso inspirado nos livros de Allan Poe o levarem a ser suspeito é frágil. Afinal, um escritor se tornar serial killer já é fantasioso, deixando uma pista tão forte quanto essa, só o tornaria um imbecil e não um gênio do crime. Mas, a própria suspeita não se sustenta e o escritor se torna o principal aliado do detetive Fields, principalmente quanto o criminoso rapta a paixão de Poe, intensificando o jogo de detetive com seu alvo principal. Essa caça ao "tesouro" dá um novo fôlego à trama, apesar de não tornar O Corvo um exemplar próximo de sua inspiração.


O Corvo é, então, uma boa ideia que perdeu uma grande chance de ser melhor desenvolvida. Ainda assim, tem momentos que entretém a contento os amantes do gênero. Não é um desperdício, de fato. É possível criar alguma empatia com os personagens e temer pela jovem Emily, principalmente, em vários momentos. Mas, não nos surpreende, nem nos arrebata em nenhuma cena. Um filme morno, que poderia ser uma grande obra.
Destaque para os créditos finais, sem nenhuma relação estética com a atmosfera ou direção de arte do filme, mas que compõe belas imagens de corvos de metal. E para quem ainda não ligou o nome à pessoa, o título do filme é uma referência ao poema mais famoso do escritor: O Corvo.
O Corvo (The Raven, 2012 / EUA)
Direção: James McTeigue
Roteiro: Ben Livingston e Hannah Shakespeare
Com: John Cusack, Alice Eve, Luke Evans
Duração: 111 min.