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Lumi Cavazos
Marco Leonardi
Regina Torné
Como água para chocolate
Como água para chocolate
Filme mexicano produzido e dirigido por Alfonso Arau, teve o privilégio de ter seu roteiro adaptado para o cinema pela mesma autora do livro homônimo, Laura Esquivel. O livro já era um best seller e, com o filme, o sucesso não foi diferente. É uma história sensível, sem sombra de dúvidas, que conquistou públicos no mundo inteiro. Porém, por trás da metáfora de uma época através de um conto de fadas há a incongruência de um príncipe fraco e por vezes até medíocre.
O filme conta a história de Tita, a filha mais nova de uma tradicional família mexicana que é impedida de casar para cuidar de sua mãe na velhice. Contudo, a moça se apaixona e é correspondida por um jovem da região que acaba se casando com sua irmã para ficar perto da mulher amada. Começa, então, um jogo de comunicação de Tita e seu amado Pedro através da comida que a moça faz.
Poderia ser a trama de qualquer melodrama clássico de amor impossível, porém a atmosfera criada pelo diretor e fotógrafo permite intervenções surreais que nos levam à construção da história, principalmente no que tange à comida preparada por Tita e as emoções que passa através dela. Se a garota está triste, basta comer para ficar também. Da mesma forma que ela consegue passar toda a sua sensualidade e amor para Pedro em cada alimento. Além disso, temos a fuga de Gertrudis após pegar fogo no banheiro, por exemplo, e a questão da cebola que inicia o filme. Esse tom surreal que a história traz, pode ser um afastamento para os espectadores mais tradicionais, porém dá um clima ainda mais interessante à história.
Conseguimos nos identificar com Tita e somos convencidos do quanto ela é pura, boa e apaixonante. Conseqüentemente, transferimos para sua mãe todo o ódio de tamanho absurdo, em nossa mentalidade atual, que é impedir uma filha de casar para cuidar de si na velhice. Mais do que isso, dar a outra filha em casamento ao homem que sabe amar a proibida e fazer de tudo para afastá-los. A insanidade é compreensível para a época, a tradição, a posição da mulher como subalterna e mero objeto de negociação. Porém, o que incomoda em toda a narrativa é a postura apática de Pedro, o objeto de desejo de Tita.
Que uma mulher se submeta aos costumes tacanhos de uma época, é compreensível. Mas, um homem aceitar de forma submissa as imposições da mãe de Tita é uma coisa que revolta a ponto de comprometer a apreciação do filme, pois torna a história banal, sem sentido. O motivo de tanto sacrifício, proibições, sofrimentos de nossa protagonista é a submissão de Pedro. E o próprio filme admite isso em duas frases. Quando Tita, em seu desespero, diz a Pedro que preferia que ele a tivesse roubado do que casado com a irmã. Ou quanto John, em sua sabedoria imensa, diz que exigirá que Pedro dê a Tita a posição de destaque que esta merece.
Em contraponto ao personagem de Pedro, há John, o médico americano que traz lucidez para aquela história surreal, mas que não consegue alterar o rumo das coisas. Suas tentativas de trazer Tita novamente para a realidade com suas metáforas sobre o fósforo e o sentido da vida são profundas e nos fazem embarcar em sua história de vida, torcendo por ele. É o primeiro que tem a coragem de dizer aquilo que o espectador gostaria sobre a situação de Tita: isto é um absurdo. Talvez, por ser de uma outra cultura e ver a mulher em outra posição que não a de totalmente submissa à tradição, tanto que demonstra não se importar em casar com uma mulher que não seja virgem.
A sensibilidade do diretor e do fotógrafo em contar essa história através de imagens e planos é de extrema beleza, em um ritmo contido tal qual os sentimentos da protagonista, que, aliás, dá um banho de interpretação. Não é à toa que o filme ganhou o Festival de Gramado, Tóquio e todos os prêmios do México naquela época. Sendo considerado até hoje um marco do cinema latino. Há beleza cinematográfica em sua forma de contar. O enquadramento das cenas da cozinha, destacando os sentimentos com as sensações que a comida traz a quem a come. A cena do bolo sendo passado de mão em mão no casamento e todas as conseqüências. A morte de Nacha, o ataque mexicano, a crise de loucura de Tita, a fuga de Gertrudis. Tudo é composto de uma forma lúdica e bela que traz uma sensação agradável à trama.
Como água para chocolate é um belo filme, mas difícil para nós, espectadores que não vivenciam aquela cultura, aceitar e compreender algumas decisões que são o mote do filme. Ainda assim, é uma história bem contada, que nos encanta por toda sua construção técnica.
Como água para chocolate (Como agua para chocolate, 1992 / México)
Direção: Alfonso Arau
Roteiro: Laura Esquivel
Com: Marco Leonardi, Lumi Cavazos e Regina Torné
Duração: 105 min.
O filme conta a história de Tita, a filha mais nova de uma tradicional família mexicana que é impedida de casar para cuidar de sua mãe na velhice. Contudo, a moça se apaixona e é correspondida por um jovem da região que acaba se casando com sua irmã para ficar perto da mulher amada. Começa, então, um jogo de comunicação de Tita e seu amado Pedro através da comida que a moça faz.
Poderia ser a trama de qualquer melodrama clássico de amor impossível, porém a atmosfera criada pelo diretor e fotógrafo permite intervenções surreais que nos levam à construção da história, principalmente no que tange à comida preparada por Tita e as emoções que passa através dela. Se a garota está triste, basta comer para ficar também. Da mesma forma que ela consegue passar toda a sua sensualidade e amor para Pedro em cada alimento. Além disso, temos a fuga de Gertrudis após pegar fogo no banheiro, por exemplo, e a questão da cebola que inicia o filme. Esse tom surreal que a história traz, pode ser um afastamento para os espectadores mais tradicionais, porém dá um clima ainda mais interessante à história.
Conseguimos nos identificar com Tita e somos convencidos do quanto ela é pura, boa e apaixonante. Conseqüentemente, transferimos para sua mãe todo o ódio de tamanho absurdo, em nossa mentalidade atual, que é impedir uma filha de casar para cuidar de si na velhice. Mais do que isso, dar a outra filha em casamento ao homem que sabe amar a proibida e fazer de tudo para afastá-los. A insanidade é compreensível para a época, a tradição, a posição da mulher como subalterna e mero objeto de negociação. Porém, o que incomoda em toda a narrativa é a postura apática de Pedro, o objeto de desejo de Tita.
Que uma mulher se submeta aos costumes tacanhos de uma época, é compreensível. Mas, um homem aceitar de forma submissa as imposições da mãe de Tita é uma coisa que revolta a ponto de comprometer a apreciação do filme, pois torna a história banal, sem sentido. O motivo de tanto sacrifício, proibições, sofrimentos de nossa protagonista é a submissão de Pedro. E o próprio filme admite isso em duas frases. Quando Tita, em seu desespero, diz a Pedro que preferia que ele a tivesse roubado do que casado com a irmã. Ou quanto John, em sua sabedoria imensa, diz que exigirá que Pedro dê a Tita a posição de destaque que esta merece.
Em contraponto ao personagem de Pedro, há John, o médico americano que traz lucidez para aquela história surreal, mas que não consegue alterar o rumo das coisas. Suas tentativas de trazer Tita novamente para a realidade com suas metáforas sobre o fósforo e o sentido da vida são profundas e nos fazem embarcar em sua história de vida, torcendo por ele. É o primeiro que tem a coragem de dizer aquilo que o espectador gostaria sobre a situação de Tita: isto é um absurdo. Talvez, por ser de uma outra cultura e ver a mulher em outra posição que não a de totalmente submissa à tradição, tanto que demonstra não se importar em casar com uma mulher que não seja virgem.
A sensibilidade do diretor e do fotógrafo em contar essa história através de imagens e planos é de extrema beleza, em um ritmo contido tal qual os sentimentos da protagonista, que, aliás, dá um banho de interpretação. Não é à toa que o filme ganhou o Festival de Gramado, Tóquio e todos os prêmios do México naquela época. Sendo considerado até hoje um marco do cinema latino. Há beleza cinematográfica em sua forma de contar. O enquadramento das cenas da cozinha, destacando os sentimentos com as sensações que a comida traz a quem a come. A cena do bolo sendo passado de mão em mão no casamento e todas as conseqüências. A morte de Nacha, o ataque mexicano, a crise de loucura de Tita, a fuga de Gertrudis. Tudo é composto de uma forma lúdica e bela que traz uma sensação agradável à trama.
Como água para chocolate é um belo filme, mas difícil para nós, espectadores que não vivenciam aquela cultura, aceitar e compreender algumas decisões que são o mote do filme. Ainda assim, é uma história bem contada, que nos encanta por toda sua construção técnica.
Como água para chocolate (Como agua para chocolate, 1992 / México)
Direção: Alfonso Arau
Roteiro: Laura Esquivel
Com: Marco Leonardi, Lumi Cavazos e Regina Torné
Duração: 105 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Como água para chocolate
2012-05-22T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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