O Sobrevivente
Desde que conheci Jogos Vorazes tinha vontade de rever um filme dos anos 80 baseado no livro "O Concorrente" (The Running Man, no original) de Stephen King. Estrelado por Arnold Schwarzenegger, o filme O Sobrevivente de 1987 é uma Sessão da Tarde datada, é verdade, mas ainda tem alguma coisa interessante naquela crítica à televisão e a sociedade mundial.
Em um futuro distante, os Estados Unidos estão divididos por zonas e a televisão é controlada pelo governo. A arte é censurada e o programa de maior sucesso se chama "The Running Man", onde prisioneiros fogem de "caçadores" em uma corrida mortal. Nesse mundo, encontra-se Ben Richards (Arnold Schwarzenegger), um ex-soldado piloto de uma missão de massacre que se recusa a matar inocentes e, com isso, é preso e utilizado como bode expiatório do ocorrido para a população. Assim, ele acaba sendo enviado para o programa de televisão junto a dois companheiros de cadeia William Laughlin (Yaphet Kotto) e Harold Weiss (Marvin J. McIntyre), se envolvendo ainda com a garota Amber Mendez (Maria Conchita Alonso), e juntos, terão que sobreviver a vários caçadores e às manipulações da mídia.
Tem um pouco de tudo aqui. A base parece mesmo ser 1984 de George Orwell, mas é possível comparar com histórias como Jogos Vorazes, Gladiador e Gamer, por exemplo. Há aqui uma crítica clara à sociedade e a manipulação da televisão. Tão clara que chega a ser didática em alguns pontos, como na conversa dos integrantes da "resistência", falando da alienação dos dias atuais, do câncer que é a televisão. Isso sem falar dos estereótipos como o apresentador Damon Killian (Richard Dawson), sem escrúpulos e sem coração, sempre visando a alta audiência e o lucro.
A manipulação da televisão também é maximizada, beirando ao ridículo. Tudo soa falso, desde as reações da plateia até os vídeos encenados. Mas, é interessante a forma como o filme de Paul Michael Glaser demonstra a visão completamente entregue daquele público crente, que facilmente está torcendo pelo caçador e de repente se irrita porque ele não foi morto. Ou que vibra com determinadas derrotas no jogo sem raciocinar o que de fato aconteceu. Serão sempre massa de manobra, não importa o que aconteça.
Agora, apesar de os elementos estarem ali, o filme possui várias falhas técnicas, a começar pelo roteiro onde nada flui naturalmente, as etapas da jornada de Ben Richards são todas manipulações baratas, principalmente pela forma como a direção trabalha esse texto. A cena no helicóptero é teatral, a situação na cadeia é até bem realizada, mas demora muito e não justifica tanto, as primeiras cenas de Ben com a garota Amber é pastelão, tudo parece apenas desculpas para juntar os dois e os outros companheiros naquele jogo televisivo. A própria construção das motivações e mudanças de pensamentos de Amber são mal feitas, assim como as mudanças de reações da platéia. A virada do jogo de Ben não é tão bem construída quanto a da garota de Jogos Vorazes, por exemplo. Além disso, o filme tem uma montagem pouco funcional e a trilha sonora é das mais irritantes, com um som techno dos anos 80 que quebra o clima de várias cenas.
Arnold Schwarzenegger era estrela em plena ascensão aqui, após filmes como Conan, Exterminador do Futuro e O Predador, mas sua atuação é tão caricata quanto o resto do texto e personagens. Agora há de se fazer justiça que a responsabilidade não é apenas de sua frágil atuação. Chega a ser irritante em alguns momentos, principalmente pela construção do seu personagem completamente típico, um soldado justo e bondoso que se torna o vilão aos olhos da população manipulada, mas vai provar seu valor. Interessante perceber que, até quando parece interessante, a construção de Paul Michael Glaser parece seguir uma cartilha. Em determinado momento, o personagem de Schwarzenegger precisa falar com os manipuladores através de uma câmera que está presa na parede, ou seja, eles o veriam em um ângulo inclinado de cima para baixo, diminuindo o personagem. Ele, então, arranca a câmera e a coloca na altura da cintura para poder falar sendo gravado em um ângulo de baixo para cima, ou seja, superior. Uma forma cartilhar de demonstrar que o jogo estava sendo virado, mas ainda assim, um movimento interessante.
O Sobrevivente é isso, um filme datado, com vários problemas técnicos, mas que esconde dentro dele uma história interessante que poderia ser melhor explorada. O que de certa forma foi, em todos os outros filmes que o sucederam. Atualmente, funciona mais como curiosidade.
O Sobrevivente (The Running Man, 1987 / EUA)
Direção: Paul Michael Glaser
Roteiro: Steven E. de Souza
Com: Arnold Schwarznegger, Maria Conchita Alonso e Yaphet Kotto.
Duração: 101 min.
Em um futuro distante, os Estados Unidos estão divididos por zonas e a televisão é controlada pelo governo. A arte é censurada e o programa de maior sucesso se chama "The Running Man", onde prisioneiros fogem de "caçadores" em uma corrida mortal. Nesse mundo, encontra-se Ben Richards (Arnold Schwarzenegger), um ex-soldado piloto de uma missão de massacre que se recusa a matar inocentes e, com isso, é preso e utilizado como bode expiatório do ocorrido para a população. Assim, ele acaba sendo enviado para o programa de televisão junto a dois companheiros de cadeia William Laughlin (Yaphet Kotto) e Harold Weiss (Marvin J. McIntyre), se envolvendo ainda com a garota Amber Mendez (Maria Conchita Alonso), e juntos, terão que sobreviver a vários caçadores e às manipulações da mídia.
Tem um pouco de tudo aqui. A base parece mesmo ser 1984 de George Orwell, mas é possível comparar com histórias como Jogos Vorazes, Gladiador e Gamer, por exemplo. Há aqui uma crítica clara à sociedade e a manipulação da televisão. Tão clara que chega a ser didática em alguns pontos, como na conversa dos integrantes da "resistência", falando da alienação dos dias atuais, do câncer que é a televisão. Isso sem falar dos estereótipos como o apresentador Damon Killian (Richard Dawson), sem escrúpulos e sem coração, sempre visando a alta audiência e o lucro.
A manipulação da televisão também é maximizada, beirando ao ridículo. Tudo soa falso, desde as reações da plateia até os vídeos encenados. Mas, é interessante a forma como o filme de Paul Michael Glaser demonstra a visão completamente entregue daquele público crente, que facilmente está torcendo pelo caçador e de repente se irrita porque ele não foi morto. Ou que vibra com determinadas derrotas no jogo sem raciocinar o que de fato aconteceu. Serão sempre massa de manobra, não importa o que aconteça.
Agora, apesar de os elementos estarem ali, o filme possui várias falhas técnicas, a começar pelo roteiro onde nada flui naturalmente, as etapas da jornada de Ben Richards são todas manipulações baratas, principalmente pela forma como a direção trabalha esse texto. A cena no helicóptero é teatral, a situação na cadeia é até bem realizada, mas demora muito e não justifica tanto, as primeiras cenas de Ben com a garota Amber é pastelão, tudo parece apenas desculpas para juntar os dois e os outros companheiros naquele jogo televisivo. A própria construção das motivações e mudanças de pensamentos de Amber são mal feitas, assim como as mudanças de reações da platéia. A virada do jogo de Ben não é tão bem construída quanto a da garota de Jogos Vorazes, por exemplo. Além disso, o filme tem uma montagem pouco funcional e a trilha sonora é das mais irritantes, com um som techno dos anos 80 que quebra o clima de várias cenas.
Arnold Schwarzenegger era estrela em plena ascensão aqui, após filmes como Conan, Exterminador do Futuro e O Predador, mas sua atuação é tão caricata quanto o resto do texto e personagens. Agora há de se fazer justiça que a responsabilidade não é apenas de sua frágil atuação. Chega a ser irritante em alguns momentos, principalmente pela construção do seu personagem completamente típico, um soldado justo e bondoso que se torna o vilão aos olhos da população manipulada, mas vai provar seu valor. Interessante perceber que, até quando parece interessante, a construção de Paul Michael Glaser parece seguir uma cartilha. Em determinado momento, o personagem de Schwarzenegger precisa falar com os manipuladores através de uma câmera que está presa na parede, ou seja, eles o veriam em um ângulo inclinado de cima para baixo, diminuindo o personagem. Ele, então, arranca a câmera e a coloca na altura da cintura para poder falar sendo gravado em um ângulo de baixo para cima, ou seja, superior. Uma forma cartilhar de demonstrar que o jogo estava sendo virado, mas ainda assim, um movimento interessante.
O Sobrevivente é isso, um filme datado, com vários problemas técnicos, mas que esconde dentro dele uma história interessante que poderia ser melhor explorada. O que de certa forma foi, em todos os outros filmes que o sucederam. Atualmente, funciona mais como curiosidade.
O Sobrevivente (The Running Man, 1987 / EUA)
Direção: Paul Michael Glaser
Roteiro: Steven E. de Souza
Com: Arnold Schwarznegger, Maria Conchita Alonso e Yaphet Kotto.
Duração: 101 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Sobrevivente
2012-05-19T11:16:00-03:00
Amanda Aouad
acao|Arnold Schwarzenegger|critica|ficcao cientifica|
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