
Coração Valente é o seu ápice. Quem viu o filme sabe o quão bela é a história do escocês William Wallace, interpretado pelo próprio Gibson. Um camponês pacífico que vê sua esposa ser assassinada no dia do casamento e se transforma no maior herói daquele povo. Mais do que ir contra ao exército inglês, Wallace luta pelo direito de ser livre. Uma motivação interna para mostrar que ninguém pode possuir a alma humana.
Quem viu o filme sabe que toda a construção estética, as batalhas, o roteiro são muito bem construídos e transformado em símbolos. E duas cenas são inesquecíveis dentro dessa premissa criada por Wallace: liberdade. A cena final com seu grito incapaz de ser calado e esta cena escolhida para aqui analisar que é a preparação para aquela. É quando ele diz que é melhor morrer tentando do que aceitar ser cativo.

É interessante analisar essa cena pelos olhos de hoje, acostumados a grandes batalhas construídas em computador. Coração Valente foi um dos últimos épicos realizados sem esse recurso. É preciso muito jogo de câmera para dar a sensação de multidão. Principalmente do exército inglês que deveria estar assustadoramente em maior número. A câmera está sempre muito fechada, quase espremendo os soldados de ambos os lados. Ela também nunca está parada, passeia pelos rostos da multidão, sempre muito ágil.

É tudo isso, mas é também um recurso fácil de mostrar a multidão sem detalhes, e com isso dar a sensação de um número ainda maior de pessoas. Percebam que, quando fala, Wallace está só em seu cavalo, com as lanças fazendo corta-luzes em uma divisão ainda de seu discurso. Quando a câmera dá o contraplano para as pessoas, tem duas possibilidades, uma com planos fechados, focando alguns atores, outra com ele em primeiro plano e a multidão atrás. Como ele anda, a câmera não precisa focar essa multidão, gerando a essa sensação de um maior número.

Tudo isso regado à bela trilha de James Horner. Apoteótica, em um crescente também motivacional, pontuando as ações. Isso sem falar no som típico escocês da gaita de fole. Sem dúvidas uma bela cena. Das mais marcantes do cinema.