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À Beira do Caminho

À Beira do CaminhoMúsicas de Roberto Carlos, dramas amorosos, órfão na beira da estrada. Os elementos do novo filme de Breno Silveira, diretor de 2 Filhos de Francisco, têm todos os ingredientes de sucesso. Ainda mais sendo protagonizado por dois atores que se entregam completamente a seus papéis. Palmas para João Miguel e o pequeno Vinícius Nascimento, que tornam À Beira do Caminho emocionante.

João Miguel é João. Um caminhoneiro amargurado, que anda com uma foto misteriosa de uma mulher e parece estar em constante depressão. Um dia ele encontra em sua carreta o garoto Duda, que acabou de perder a mãe e quer encontrar seu pai. Dessas duas almas distintas, vai se construindo uma viagem física e emocional repleta de descobrimentos. E claro, tudo isso regado pelas músicas do rei Roberto Carlos que impregna a banda sonora do filme de maneira intra-diegética, ou seja, tanto dentro do universo fílmico quanto fora dele.

À Beira do CaminhoDe uma maneira geral, o filme é competente em construir a relação dos dois personagens. O encontro não é forçado, assim como as dificuldade de João se livrar de Duda são perfeitamente plausíveis. O roteiro de Patrícia Andrade consegue pensar nesses detalhes, conduzindo o road movie de uma forma orgânica e funcional. João é caminhoneiro, terá que ir a algum lugar para levar sua carga, porque não ser o local onde Duda precisa estar? Afinal ele é uma criança, deixá-lo à beira do caminho não seria mesmo muito humano. Ela só perde a mão em alguns resoluções finais, quase deixando cair por terra toda a boa construção até o clímax da trama.

Breno Silveira, por outro lado, também tem ótimos acertos e alguns apelos desnecessários. A começar pela utilização das famosas frases de caminhão para narrar as etapas da viagem emocional de seus protagonistas... Temos que ler coisas como "viver é como desenhar sem borracha", "não há dor que perdure, nem mal que não se cure", entre outras. Apesar de ser criativo, fica forçado. Assim como forçado é toda hora alguém colocar ou falar de uma música de Roberto Carlos. Ela funciona muito melhor quando há uma interação direta com a história como quando o garoto canta "amigo" ou o noivo canta em seu casamento "Nossa canção".

À Beira do CaminhoA necessidade da música acaba atrapalhando cenas incríveis, como uma protagonizada por João Miguel e Dira Paes. Sem a utilização dela, o resultado seria muito melhor, ainda que seja uma bela música. Um exemplo claro disso é outra cena, onde Dira "dança" com Vinícius Nascimento e não há música, apenas os ruídos do som ambiente que deixam o impacto emocional da personagem naquele momento ainda mais forte. Às vezes, não é preciso ter a música como foto-legenda para entender a mensagem, tanto que aquela que dá nome do filme não precisa ser ouvida para que identifiquemos sua função.

A fotografia bastante realista de Lula Oliveira, com as escolhas de Breno Silveira também nos conduzem em uma imersão estética bem estruturada. A cena do primeiro encontro de Duda e João mesmo, é muito bem resolvida. As penumbras, a tensão, os detalhes. A chegada de João em determinada casa também é composta pelos detalhes no jardim, na sala, no quarto. Não é preciso dizer muita coisa para que consigamos entender sua situação. Isso é interessante do filme. Mais do que os, às vezes, forçados flashbacks. Há curiosidade em relação ao passado de João, claro, mas algumas das cenas são colocadas em momentos muito didáticos. Tudo poderia ser mais sutil.

À Beira do CaminhoAinda assim, o filme se torna melhor pela boa atuação e química entre seus protagonistas. Ambos conseguem passar uma verdade inconteste de seus personagens. Simpatizamos com eles, simpatizamos com suas trajetórias, torcemos por seu acalento d´alma. O companheirismo que vai surgindo é belo. Impossível não comparar em determinado momento à Dora e Josué de Central do Brasil. Mas, mesmo com a referência distante, há originalidade nessa relação. E tanto João Miguel, quanto Vinícius Nascimento conseguem construir isso de uma maneira emocionante.

À Beira do Caminho é, então, um bom filme. Escorrega em alguns exageros, em escolhas baseadas em fórmulas ruins do melodrama mais popular. Mas, consegue constituir em sua essência uma viagem bela. Nos sentimos dentro daquele caminhão, junto a eles, procurando a nossa própria essência. Talvez se o filme terminasse antes da última cena fosse ainda melhor. Mas, como diz a frase no caminhão: "Espere o melhor, prepare-se para o pior e aceite o que vier". Aceitemos o que Breno Silveira pode nos oferecer.



À Beira do Caminho (À Beira do Caminho, 2012 / Brasil)
Direção: Breno Silveira
Roteiro: Patrícia Andrade
Com: João Miguel, Vinícius Nascimento, Dira Paes, Ângelo Antônio e Ludmila Rosa
Duração: 102 min

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