
João Miguel é João. Um caminhoneiro amargurado, que anda com uma foto misteriosa de uma mulher e parece estar em constante depressão. Um dia ele encontra em sua carreta o garoto Duda, que acabou de perder a mãe e quer encontrar seu pai. Dessas duas almas distintas, vai se construindo uma viagem física e emocional repleta de descobrimentos. E claro, tudo isso regado pelas músicas do rei Roberto Carlos que impregna a banda sonora do filme de maneira intra-diegética, ou seja, tanto dentro do universo fílmico quanto fora dele.

Breno Silveira, por outro lado, também tem ótimos acertos e alguns apelos desnecessários. A começar pela utilização das famosas frases de caminhão para narrar as etapas da viagem emocional de seus protagonistas... Temos que ler coisas como "viver é como desenhar sem borracha", "não há dor que perdure, nem mal que não se cure", entre outras. Apesar de ser criativo, fica forçado. Assim como forçado é toda hora alguém colocar ou falar de uma música de Roberto Carlos. Ela funciona muito melhor quando há uma interação direta com a história como quando o garoto canta "amigo" ou o noivo canta em seu casamento "Nossa canção".

A fotografia bastante realista de Lula Oliveira, com as escolhas de Breno Silveira também nos conduzem em uma imersão estética bem estruturada. A cena do primeiro encontro de Duda e João mesmo, é muito bem resolvida. As penumbras, a tensão, os detalhes. A chegada de João em determinada casa também é composta pelos detalhes no jardim, na sala, no quarto. Não é preciso dizer muita coisa para que consigamos entender sua situação. Isso é interessante do filme. Mais do que os, às vezes, forçados flashbacks. Há curiosidade em relação ao passado de João, claro, mas algumas das cenas são colocadas em momentos muito didáticos. Tudo poderia ser mais sutil.

À Beira do Caminho é, então, um bom filme. Escorrega em alguns exageros, em escolhas baseadas em fórmulas ruins do melodrama mais popular. Mas, consegue constituir em sua essência uma viagem bela. Nos sentimos dentro daquele caminhão, junto a eles, procurando a nossa própria essência. Talvez se o filme terminasse antes da última cena fosse ainda melhor. Mas, como diz a frase no caminhão: "Espere o melhor, prepare-se para o pior e aceite o que vier". Aceitemos o que Breno Silveira pode nos oferecer.
À Beira do Caminho (À Beira do Caminho, 2012 / Brasil)
Direção: Breno Silveira
Roteiro: Patrícia Andrade
Com: João Miguel, Vinícius Nascimento, Dira Paes, Ângelo Antônio e Ludmila Rosa
Duração: 102 min