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Júlia Murat
Lisa Fávero
Sonia Guedes
Histórias que só existem quando lembradas
Histórias que só existem quando lembradas
Histórias que só existem quando lembradas. Só o título já dá um texto. Afinal, quantas coisas ficam perdidas na memória, nos relatos e deixam de existir? Mais grave quando são pessoas e até mesmo lugares inteiros.
O filme de Júlia Murat é ousado ao trazer poesia ao esquecimento. Uma vila esquecida, onde os moradores se esqueceram até de morrer e onde a rotina não muda. Toda madrugada Madalena acorda para fazer pão. Um pão quentinho que leva para a venda de Antonio, e onde discutem religiosamente todos os dias sobre onde o produto deve ficar. Depois é hora de ir pra missa, e almoçar todos juntos, até o retorno para a casa.
A rotina é quebrada com a chegada de Rita. Uma moça que vem não se sabe de onde, nem por que. Uma mochileira, uma fotógrafa, que fica curiosa com a relação daquelas pessoas. Ela se hospeda com Madalena e passa a acompanhar sua rotina, interagir com os demais, tomar cachaça e tirar fotos. E claro, ela também ouve música em seu fone de ouvido, desde antigas como Fita Amarela de Noel Rosa até as músicas eletrônicas mais modernas.
Talvez, desenvolver melhor essa personagem fosse uma missão do roteiro, já que ficamos meio sem entender sua atitude acomodada ao se prender àquele lugar. Mas, isso também faz parte da vida. A falta de explicação e compreensão de muitas coisas. Um olhar de fora, em uma realidade tão viva e mais comum do que imaginamos.
Até por isso, Júlia Murat escolhe em uma composição poética, sem pressa. Os planos são quase poses fotográficas. Tudo é muito contemplativo. Há um destaque no olhar. Os personagens se observam muito. E quando Rita chega, tudo isso é acentuado. Cada morador olha para a moça com expressões incrivelmente sensíveis. Há um misto de curiosidade, de incompreensão, incômodo e ao mesmo tempo, felicidade por alguém ainda vir conferir que eles existem.
A relação de Rita com Madalena vai se construindo de uma maneira bela. Os poucos diálogos, as observações, os aprendizados de uma e outra. A questão da privacidade exigida por Rita antes da senhora entrar no quarto, que ela não segue por estar em sua própria casa. E que contrasta com a própria atitude de Rita simplesmente invadindo a rotina da senhora, observando seu ritual da madrugada, tirando fotos e até pegando sem pedir licença o lampião. Acaba sendo um espelho interessante.
A fotografia por todo esse clima de silêncio e contemplação, ainda se beneficia da falta da luz elétrica. O lampião levado por Madalena em sua rotina diária nos dá belos contrastes de luz e sombra, além de ajudar no clima bucólico de toda aquela história. Da mesma forma que os encontros de Rita com um dos moradores para tomar cachaça perto, fica mais intimista.
Histórias que só existem quando lembradas é isso. Uma cidade, pessoas e suas histórias que só passam a existir para nós, porque Rita chegou lá e os fez lembrar que ainda estavam vivos. Tão vivos que eram até capazes de finalmente morrer, ou simplesmente comemorar com uma festa divertida.
Histórias que só existem quando lembradas (Histórias que só existem quando lembradas, 2011 / Brasil)
Direção: Júlia Murat
Roteiro: Julia Murat, Maria Clara Escobar, Felipe Sholl
Com: Sonia Guedes, Lisa E. Fávero, Luiz Serra, Ricardo Merkin, Antonio dos Santos, Nelson Justiniano, Maria Aparecida Campos, Manoelina dos Santos, Evanilde Souza, Julião Rosa, Elias dos Santos, Pedro Igreja
Duração: 98 min.
O filme de Júlia Murat é ousado ao trazer poesia ao esquecimento. Uma vila esquecida, onde os moradores se esqueceram até de morrer e onde a rotina não muda. Toda madrugada Madalena acorda para fazer pão. Um pão quentinho que leva para a venda de Antonio, e onde discutem religiosamente todos os dias sobre onde o produto deve ficar. Depois é hora de ir pra missa, e almoçar todos juntos, até o retorno para a casa.
A rotina é quebrada com a chegada de Rita. Uma moça que vem não se sabe de onde, nem por que. Uma mochileira, uma fotógrafa, que fica curiosa com a relação daquelas pessoas. Ela se hospeda com Madalena e passa a acompanhar sua rotina, interagir com os demais, tomar cachaça e tirar fotos. E claro, ela também ouve música em seu fone de ouvido, desde antigas como Fita Amarela de Noel Rosa até as músicas eletrônicas mais modernas.
Talvez, desenvolver melhor essa personagem fosse uma missão do roteiro, já que ficamos meio sem entender sua atitude acomodada ao se prender àquele lugar. Mas, isso também faz parte da vida. A falta de explicação e compreensão de muitas coisas. Um olhar de fora, em uma realidade tão viva e mais comum do que imaginamos.
Até por isso, Júlia Murat escolhe em uma composição poética, sem pressa. Os planos são quase poses fotográficas. Tudo é muito contemplativo. Há um destaque no olhar. Os personagens se observam muito. E quando Rita chega, tudo isso é acentuado. Cada morador olha para a moça com expressões incrivelmente sensíveis. Há um misto de curiosidade, de incompreensão, incômodo e ao mesmo tempo, felicidade por alguém ainda vir conferir que eles existem.
A relação de Rita com Madalena vai se construindo de uma maneira bela. Os poucos diálogos, as observações, os aprendizados de uma e outra. A questão da privacidade exigida por Rita antes da senhora entrar no quarto, que ela não segue por estar em sua própria casa. E que contrasta com a própria atitude de Rita simplesmente invadindo a rotina da senhora, observando seu ritual da madrugada, tirando fotos e até pegando sem pedir licença o lampião. Acaba sendo um espelho interessante.
A fotografia por todo esse clima de silêncio e contemplação, ainda se beneficia da falta da luz elétrica. O lampião levado por Madalena em sua rotina diária nos dá belos contrastes de luz e sombra, além de ajudar no clima bucólico de toda aquela história. Da mesma forma que os encontros de Rita com um dos moradores para tomar cachaça perto, fica mais intimista.
Histórias que só existem quando lembradas é isso. Uma cidade, pessoas e suas histórias que só passam a existir para nós, porque Rita chegou lá e os fez lembrar que ainda estavam vivos. Tão vivos que eram até capazes de finalmente morrer, ou simplesmente comemorar com uma festa divertida.
Histórias que só existem quando lembradas (Histórias que só existem quando lembradas, 2011 / Brasil)
Direção: Júlia Murat
Roteiro: Julia Murat, Maria Clara Escobar, Felipe Sholl
Com: Sonia Guedes, Lisa E. Fávero, Luiz Serra, Ricardo Merkin, Antonio dos Santos, Nelson Justiniano, Maria Aparecida Campos, Manoelina dos Santos, Evanilde Souza, Julião Rosa, Elias dos Santos, Pedro Igreja
Duração: 98 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Histórias que só existem quando lembradas
2013-01-14T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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