Grandes Cenas: Fantasia
Em 1940 os estúdios Disney lançaram o seu terceiro longametragem de animação. E para surpresa do mundo não era mais um conto de fadas ou história infantil fofa, mas uma encenação em oito movimentos de músicas clássicas em desenhos criativos, alguns até abstratos. A abertura do filme com "Tocata e Fuga em Ré Menor", de Bach já é impressionante, com silhuetas de uma orquestra em um jogo de luz e sombras incrível. Depois, os desenhos abstratos passeiam pela tela com movimentos diversos.
Com produção do próprio Walt Disney, Fantasia teve onze diretores e vinte e cinco roteiristas divididos entre os oito segmentos do filme, sendo de Joe Grant e Dick Huemer a concepção da história como um todo. As oito partes que compõem o filme trazem "Tocata e Fuga em Ré Menor", de Johann Sebastian Bach, como já citado. "Suíte Quebra-Nozes", de Peter Llich Tchaikovsky; "O Aprendiz de Feiticeiro", de Paul Dukas; "Sagração da Primavera", de Igor Stravinsky; "Sinfonia Pastoral", de Ludwing Van Beethoven; "Dança das Horas", de Almicare Ponchielli; "Noite no Monte Calvo", de Modest Mussorgsky; e "Ave Maria", de Franz Schubert.
Todos com suas particularidades artísticas que fazem do conjunto da obra Fantasia um dos maiores clássicos do nosso cinema até hoje. Mas, para a sessão de hoje, escolhi "O Aprendiz de Feiticeiro", de Paul Dukas para uma análise mais apurada. Como ficha técnica apenas desse segmento temos a direção de James Algar, que também iria dirigir outro clássico da Disney: Bambi. O roteiro por Perce Pearce e Carl Fallberg, que também trabalharam em Bambi e Fantasia 2000. E a direção de arte a cargo de Tom Codrick e Charles Philippi, que fizeram também outros clássicos como Cinderela e A Dama e o Vagabundo, e Zack Schwartz que migrou para o departamento de animação, só voltando a trabalhar na direção de arte de Fantasia 2000.
Mas, porque a escolha desse segmento em específico? Porque acabou sendo a parte mais famosa e repetida em especiais. É nela que Mickey contracena com vassouras encantadas. Ficou tão marcado como símbolo maior do filme que é a capa do mesmo. Claro, Mickey Mouse é o personagem símbolo da Disney, é natural que em meio a tanta abstração, as crianças acabem se apegando aos traços conhecidos. Além disso, toda a composição é muito bem feita.
Mickey é um aprendiz afoito. Cansado de carregar baldes d´água enquanto seu mestre conjura os efeitos mais impressionantes. Realmente, enquanto vemos borboletas mágicas saindo do caldeirão, ele fica ali só enchendo o poço. É quando o mestre sai, deixando seu chapéu e Mickey aproveita para se arriscar no mundo da magia. Ele encanta a vassoura e a faz marcha carregando os baldes, ao som das notas fortes da música.
O jogo de luz e sombras é bastante presente na cena, que é sempre apresentada em penumbra. Vide os dois subindo as escadas com a sombra de ambos na parede. Essas sombras vão ficar cada vez mais definidas, à medida em que as coisas se complicam para Mickey. Afinal, ele deixa a vassoura trabalhando, enquanto dorme na cadeira do mestre. Reparem que já no momento de sonolência, apenas a sombra da vassoura "passa" por ele.
Em seu sono, Mickey acaba sonhando com o universo, criando as sequências mais empolgantes, com estrelas e cometas passando por sua cabeça, enquanto rege, tal qual um maestro, música e luzes. É interessante que, em meio à alucinação de Mickey, o desenho utilize elementos bem próprios de sonhos e realidade. O espaço se torna, de repente, um mar revolto, onde ele brinca com ondas que explodem para todos os lados, o que não deixa de ser uma ligação direta com o que está acontecendo na realidade. Já que, ao dormir, ele deixou a vassoura enchendo o poço, e por não ter discernimento, ela continua enchendo o local que já está transbordando.
A fusão dele regendo as ondas, com a cena dele dormindo na cadeira que já está boiando no meio da sala inundada, é ótima. No desespero, ele tenta parar a vassoura de todos os jeitos. A única forma é destruí-la completamente com um machado. Como não sai do universo infantil, a solução encontrada é utilizar as sombras que já estavam sendo enunciadas. Vemos apenas as sombras de Mickey, do machado e da vassoura sendo destruída. Ou pelo menos, é o que ele pensa.
Mas, a única coisa que ele conseguiu foi multiplicar as vassouras encantadas. Uma composição muito harmônica de diversas vassouras e suas sombras dançando desesperam nosso personagem que é pisoteado por elas. Enquanto elas jogam mais água, ele tenta desesperadamente tirar.
Aprendiz de Feiticeiro, assim como todo o filme Fantasia, abusa das possibilidades estéticas, com reflexos na água, redemoinhos, sombras, cachoeiras. Tudo dentro do ritmo da música, tornando a encenação divertida e emocionante ao mesmo tempo. E claro que para finalizar, é preciso resolver o problema. E isto só acontece quando o verdadeiro mago chega, como um Moisés abrindo o mar, dispersando a água e tornando as vassouras, apenas uma vassoura comum novamente. Detalhe para as expressões de envergonhado de Mickey e para os movimentos de mão do mago que, como um maestro, termina também a música.
Com produção do próprio Walt Disney, Fantasia teve onze diretores e vinte e cinco roteiristas divididos entre os oito segmentos do filme, sendo de Joe Grant e Dick Huemer a concepção da história como um todo. As oito partes que compõem o filme trazem "Tocata e Fuga em Ré Menor", de Johann Sebastian Bach, como já citado. "Suíte Quebra-Nozes", de Peter Llich Tchaikovsky; "O Aprendiz de Feiticeiro", de Paul Dukas; "Sagração da Primavera", de Igor Stravinsky; "Sinfonia Pastoral", de Ludwing Van Beethoven; "Dança das Horas", de Almicare Ponchielli; "Noite no Monte Calvo", de Modest Mussorgsky; e "Ave Maria", de Franz Schubert.
Todos com suas particularidades artísticas que fazem do conjunto da obra Fantasia um dos maiores clássicos do nosso cinema até hoje. Mas, para a sessão de hoje, escolhi "O Aprendiz de Feiticeiro", de Paul Dukas para uma análise mais apurada. Como ficha técnica apenas desse segmento temos a direção de James Algar, que também iria dirigir outro clássico da Disney: Bambi. O roteiro por Perce Pearce e Carl Fallberg, que também trabalharam em Bambi e Fantasia 2000. E a direção de arte a cargo de Tom Codrick e Charles Philippi, que fizeram também outros clássicos como Cinderela e A Dama e o Vagabundo, e Zack Schwartz que migrou para o departamento de animação, só voltando a trabalhar na direção de arte de Fantasia 2000.
Mas, porque a escolha desse segmento em específico? Porque acabou sendo a parte mais famosa e repetida em especiais. É nela que Mickey contracena com vassouras encantadas. Ficou tão marcado como símbolo maior do filme que é a capa do mesmo. Claro, Mickey Mouse é o personagem símbolo da Disney, é natural que em meio a tanta abstração, as crianças acabem se apegando aos traços conhecidos. Além disso, toda a composição é muito bem feita.
Mickey é um aprendiz afoito. Cansado de carregar baldes d´água enquanto seu mestre conjura os efeitos mais impressionantes. Realmente, enquanto vemos borboletas mágicas saindo do caldeirão, ele fica ali só enchendo o poço. É quando o mestre sai, deixando seu chapéu e Mickey aproveita para se arriscar no mundo da magia. Ele encanta a vassoura e a faz marcha carregando os baldes, ao som das notas fortes da música.
O jogo de luz e sombras é bastante presente na cena, que é sempre apresentada em penumbra. Vide os dois subindo as escadas com a sombra de ambos na parede. Essas sombras vão ficar cada vez mais definidas, à medida em que as coisas se complicam para Mickey. Afinal, ele deixa a vassoura trabalhando, enquanto dorme na cadeira do mestre. Reparem que já no momento de sonolência, apenas a sombra da vassoura "passa" por ele.
Em seu sono, Mickey acaba sonhando com o universo, criando as sequências mais empolgantes, com estrelas e cometas passando por sua cabeça, enquanto rege, tal qual um maestro, música e luzes. É interessante que, em meio à alucinação de Mickey, o desenho utilize elementos bem próprios de sonhos e realidade. O espaço se torna, de repente, um mar revolto, onde ele brinca com ondas que explodem para todos os lados, o que não deixa de ser uma ligação direta com o que está acontecendo na realidade. Já que, ao dormir, ele deixou a vassoura enchendo o poço, e por não ter discernimento, ela continua enchendo o local que já está transbordando.
A fusão dele regendo as ondas, com a cena dele dormindo na cadeira que já está boiando no meio da sala inundada, é ótima. No desespero, ele tenta parar a vassoura de todos os jeitos. A única forma é destruí-la completamente com um machado. Como não sai do universo infantil, a solução encontrada é utilizar as sombras que já estavam sendo enunciadas. Vemos apenas as sombras de Mickey, do machado e da vassoura sendo destruída. Ou pelo menos, é o que ele pensa.
Mas, a única coisa que ele conseguiu foi multiplicar as vassouras encantadas. Uma composição muito harmônica de diversas vassouras e suas sombras dançando desesperam nosso personagem que é pisoteado por elas. Enquanto elas jogam mais água, ele tenta desesperadamente tirar.
Aprendiz de Feiticeiro, assim como todo o filme Fantasia, abusa das possibilidades estéticas, com reflexos na água, redemoinhos, sombras, cachoeiras. Tudo dentro do ritmo da música, tornando a encenação divertida e emocionante ao mesmo tempo. E claro que para finalizar, é preciso resolver o problema. E isto só acontece quando o verdadeiro mago chega, como um Moisés abrindo o mar, dispersando a água e tornando as vassouras, apenas uma vassoura comum novamente. Detalhe para as expressões de envergonhado de Mickey e para os movimentos de mão do mago que, como um maestro, termina também a música.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Grandes Cenas: Fantasia
2013-01-13T13:31:00-03:00
Amanda Aouad
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