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Ben Affleck, o vitorioso rejeitado
Ben Affleck, o vitorioso rejeitado
Em 1997, dois amigos surpreenderam a Academia com seu filme Gênio Indomável. Dirigido por Gus Van Sant, o filme era estrelado e escrito pela dupla Matt Damon e Ben Affleck. O roteiro foi o grande vencedor do Oscar do ano seguinte e alavancou a carreira dos dois jovens. A partir daí, no entanto, Matt Damon conheceu a glória com bons papéis e ótimas críticas, enquanto que Ben Affleck sofreu com os comentários negativos. Até que ele começou a dirigir seus próprios filmes.
O primeiro foi dez anos depois em 2007, quando apresentou ao mundo Medo da Verdade. O primeiro filme que dirigiu teve também roteiro seu, adaptado do romance de Dennis Lehane. Nesse filme, curiosamente, ele também não atuou, preferindo colocar seu irmão Casey Affleck como protagonista. O filme foi lançado diretamente em DVD aqui no Brasil, é verdade. Mas, a história dos dois detetives em busca da pequena Amanda McCready desaparecida é instigante. Affleck já demonstrou na forma de construir esse drama policial que tinha domínio da técnica e sabia conduzir uma história, ainda que simples, de uma maneira que nos deixava presos à tela.
Em 2010 veio Atração Perigosa e Ben Affleck já demonstrou uma evolução. O filme pode não ser uma obra-prima, mas é um excelente filme de ação. Repleto de cenas bem decupadas, envolventes e na dose certa. Dessa vez dividindo o roteiro com Peter Craig e Aaron Stockard, baseado no romance de Chuck Hogan, o diretor promissor resolveu ser protagonista também de sua própria história e não se sai mal. A trama conta a história de Doug MacRay, um ladrão de bancos que sabe planejar um golpe como poucos. Um assalto, no entanto, acaba gerando uma refém, Claire Keesey vivida por Rebecca Hall. Tentando investigar o perigo que ela pode oferecer, Doug acaba se envolvendo com Claire, gerando um conflito pessoal em sua vida, digamos, profissional. Atração Perigosa é um prato cheio para quem gosta de filme de ação. Bem dirigido, escrito e realizado, dá um frescor a um tema já explorado de todas as formas nos cinemas.
E finalmente, em 2012, ele traz Argo. Esse filme que recria um caso inusitado na história dos Estados Unidos, quando a CIA inventa um filme falso como estratégia para tirar seis diplomatas norte-americanos, fugindo de uma revolta no Irã. Apesar da vinda de uma história real, Argo acaba sendo uma metáfora da própria sétima arte. A solução encontrada para a guerra, para os conflitos e pela busca da paz. Como canadenses disfarçados, os norte-americanos acabam se tornando mais do que simples diplomatas extraviados, tornam-se símbolos. Exemplos da soberania de um povo diante de outro com seu imperialismo sempre sufocante. Demonstrando um amadurecimento do seu diretor, Argo é competente em nos envolver naquela história e torcer para que tudo dê certo. Não podemos negar, temos aqui um filme bem feito.
E aí, veio a época de premiações e a polêmica. Argo e Ben Affleck foram indicados a todos os prêmios, sendo favorito e ganhando a maioria deles. Só não foi unanimidade, para não desdizer nosso saudoso Nelson Rodrigues. Para surpresa de todos, a Academia não indicou Affleck na categoria de Melhor Diretor, apesar de Argo continuar seguindo como um dos favoritos. O anúncio surpreendeu a todos e parecia que, com isso, o jovem diretor não iria muito longe em suas pretensões esse ano. Mas aí começaram a vir os prêmios.
No Globo de Ouro, Argo ganhou como Melhor Filme Dramático e Ben Affleck como Melhor Diretor. Até aí, nada estranho, já que a premiação dos críticos correspondentes não era mesmo o melhor parâmetro para academia. Mas, aí vieram os prêmios dos sindicatos. Argo ganhou o Sindicato de Produtores. Ben Affleck ganhou o Sindicato de Diretores. E o filme ainda ganhou como Melhor Elenco no Sindicato de Atores. Para completar, veio o prêmio da crítica especializada. Argo ganhou Melhor Filme e Ben Affleck ganhou Melhor Diretor pelo Critics’ Choice Award, prêmio que reúne críticos dos Estados Unidos e Canadá. Tá, na verdade, esse foi o primeiro prêmio, mas deixei por último para ficar mais orgânico.
Só faltava o último teste antes do Oscar. O prêmio para inglês ver. No BAFTA, Argo e Ben Affleck mantiveram a média e levaram as estatuetas de Melhor Diretor e Melhor Filme quase que fechando a questão. O filme levou ainda o prêmio de melhor montagem e foi a sensação da noite, ainda que Os Miseráveis tenha ficado com quatro prêmios. Argo confirma, então, que é o melhor da temporada, assim como o seu diretor. Pelo menos para a maioria da crítica e profissionais da área. Todas as apostas diriam que não tem como o Oscar não ser dele, se não fosse o pequeno entrave do "esquecimento" da indicação de Affleck a melhor diretor.
Fica a pergunta, então, do que a Academia fará no dia 24 de fevereiro. Claro, como diretor, Ben Affleck não tem como levar, não foi indicado e é impossível ser escolhido. Mas, será que leva como Melhor Filme? Sempre tradicional, raramente a Academia premia como melhor filme uma obra que não teve seu diretor indicado. Porém, assim como tirar norte-americanos do Irã disfarçados de produtores cinematográficos canadenses, nada parece mesmo impossível para Ben Affleck e sua trupe. Então, só nos resta repetir quase roboticamente, "Ar'Go fuck yourself!"
O primeiro foi dez anos depois em 2007, quando apresentou ao mundo Medo da Verdade. O primeiro filme que dirigiu teve também roteiro seu, adaptado do romance de Dennis Lehane. Nesse filme, curiosamente, ele também não atuou, preferindo colocar seu irmão Casey Affleck como protagonista. O filme foi lançado diretamente em DVD aqui no Brasil, é verdade. Mas, a história dos dois detetives em busca da pequena Amanda McCready desaparecida é instigante. Affleck já demonstrou na forma de construir esse drama policial que tinha domínio da técnica e sabia conduzir uma história, ainda que simples, de uma maneira que nos deixava presos à tela.
Em 2010 veio Atração Perigosa e Ben Affleck já demonstrou uma evolução. O filme pode não ser uma obra-prima, mas é um excelente filme de ação. Repleto de cenas bem decupadas, envolventes e na dose certa. Dessa vez dividindo o roteiro com Peter Craig e Aaron Stockard, baseado no romance de Chuck Hogan, o diretor promissor resolveu ser protagonista também de sua própria história e não se sai mal. A trama conta a história de Doug MacRay, um ladrão de bancos que sabe planejar um golpe como poucos. Um assalto, no entanto, acaba gerando uma refém, Claire Keesey vivida por Rebecca Hall. Tentando investigar o perigo que ela pode oferecer, Doug acaba se envolvendo com Claire, gerando um conflito pessoal em sua vida, digamos, profissional. Atração Perigosa é um prato cheio para quem gosta de filme de ação. Bem dirigido, escrito e realizado, dá um frescor a um tema já explorado de todas as formas nos cinemas.
E finalmente, em 2012, ele traz Argo. Esse filme que recria um caso inusitado na história dos Estados Unidos, quando a CIA inventa um filme falso como estratégia para tirar seis diplomatas norte-americanos, fugindo de uma revolta no Irã. Apesar da vinda de uma história real, Argo acaba sendo uma metáfora da própria sétima arte. A solução encontrada para a guerra, para os conflitos e pela busca da paz. Como canadenses disfarçados, os norte-americanos acabam se tornando mais do que simples diplomatas extraviados, tornam-se símbolos. Exemplos da soberania de um povo diante de outro com seu imperialismo sempre sufocante. Demonstrando um amadurecimento do seu diretor, Argo é competente em nos envolver naquela história e torcer para que tudo dê certo. Não podemos negar, temos aqui um filme bem feito.
E aí, veio a época de premiações e a polêmica. Argo e Ben Affleck foram indicados a todos os prêmios, sendo favorito e ganhando a maioria deles. Só não foi unanimidade, para não desdizer nosso saudoso Nelson Rodrigues. Para surpresa de todos, a Academia não indicou Affleck na categoria de Melhor Diretor, apesar de Argo continuar seguindo como um dos favoritos. O anúncio surpreendeu a todos e parecia que, com isso, o jovem diretor não iria muito longe em suas pretensões esse ano. Mas aí começaram a vir os prêmios.
No Globo de Ouro, Argo ganhou como Melhor Filme Dramático e Ben Affleck como Melhor Diretor. Até aí, nada estranho, já que a premiação dos críticos correspondentes não era mesmo o melhor parâmetro para academia. Mas, aí vieram os prêmios dos sindicatos. Argo ganhou o Sindicato de Produtores. Ben Affleck ganhou o Sindicato de Diretores. E o filme ainda ganhou como Melhor Elenco no Sindicato de Atores. Para completar, veio o prêmio da crítica especializada. Argo ganhou Melhor Filme e Ben Affleck ganhou Melhor Diretor pelo Critics’ Choice Award, prêmio que reúne críticos dos Estados Unidos e Canadá. Tá, na verdade, esse foi o primeiro prêmio, mas deixei por último para ficar mais orgânico.
Só faltava o último teste antes do Oscar. O prêmio para inglês ver. No BAFTA, Argo e Ben Affleck mantiveram a média e levaram as estatuetas de Melhor Diretor e Melhor Filme quase que fechando a questão. O filme levou ainda o prêmio de melhor montagem e foi a sensação da noite, ainda que Os Miseráveis tenha ficado com quatro prêmios. Argo confirma, então, que é o melhor da temporada, assim como o seu diretor. Pelo menos para a maioria da crítica e profissionais da área. Todas as apostas diriam que não tem como o Oscar não ser dele, se não fosse o pequeno entrave do "esquecimento" da indicação de Affleck a melhor diretor.
Fica a pergunta, então, do que a Academia fará no dia 24 de fevereiro. Claro, como diretor, Ben Affleck não tem como levar, não foi indicado e é impossível ser escolhido. Mas, será que leva como Melhor Filme? Sempre tradicional, raramente a Academia premia como melhor filme uma obra que não teve seu diretor indicado. Porém, assim como tirar norte-americanos do Irã disfarçados de produtores cinematográficos canadenses, nada parece mesmo impossível para Ben Affleck e sua trupe. Então, só nos resta repetir quase roboticamente, "Ar'Go fuck yourself!"
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Ben Affleck, o vitorioso rejeitado
2013-02-17T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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