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O Voo
O Voo
Depois de se dedicar à captura de movimentos em filmes como Os Fantasmas de Scrooge e O Expresso Polar, Robert Zemeckis volta aos filmes de live action. O último nesse formato tinha sito O Náufrago, filme em que seu protagonista sofre um acidente de avião e tem que passar por um processo de sobrevivência e redescoberta de seus valores. De certa forma, O Voo tem algo dele.
Whip Whitaker, personagem de Denzel Washington, é um piloto de voos comerciais. Em uma trajetória aparentemente simples até Atlanta, o avião perde o controle, mas com muita habilidade ele consegue pousar com danos mínimos. É apontado como herói, já que nenhum outro piloto conseguiria salvar tantas vidas, de mais de cem passageiros apenas quatro e dois da tripulação morreram. Porém, seus exames acusam que havia álcool e cocaína em seu organismo. Entre as tentativas do sindicato de abafar o caso e a consciência de Whip, vamos acompanhando o desenrolar dessa trama.
É interessante que o foco seja essa via dupla do esquema para salvar a companhia e a imagem do sindicato dos pilotos e a questão humana do vício do piloto, sua não-aceitação da doença e a questão ética por trás disso. Chama a atenção a quantidade de vezes que a palavra Deus é citada no filme. Diversas pessoas falam da obra de Deus, da vontade de Deus, ato de Deus. E que, em determinado momento chave, o personagem diga: que Deus me ajude. Ainda assim, em diversos momentos, isso soa como cinismo, vide que os próprios advogados colocando no ato da investigação como uma das possibilidades do acidente ser a vontade de Deus.
Por outro lado, temos o personagem de John Goodman, Harling Mays, que tem sua primeira aparição ao som de "Sympathy For The Devil" (solidariedade ao demônio). É ele quem fornece drogas ao amigo Whip Whitaker e tem momentos quase surreais com isso. As drogas também são o problema da personagem de Kelly Reilly, Nicole, mas ela consegue uma redenção rápida, tentando inclusive levar Whip para reuniões dos alcoólicos anônimos.
Toda essa evidenciação dos detalhes da construção do que seria o certo ou o errado é apenas para preparar o espectador. O Voo parece ter uma mensagem muito clara, uma conscientização bem específica, ainda que o cinismo pareça envolver o protagonista e sua equipe. Ele está o tempo todo brigando com sua própria teimosia e, não por acaso, a primeira coisa que faz ao chegar na fazenda do pai é jogar fora toda e qualquer bebida alcoólica que existe ali. Ele não quer ser pego, não quer ser preso, mas volta a beber assim que descobre que pode sofrer processo com o resultado dos exames. E pede desesperadamente que todos mintam por ele.
Nisso, o roteiro é muito bem desenvolvido, construindo sua teia que nos enreda. Mas, o que chama a atenção mesmo é a força das imagens de tensão, construídas em detalhes. A cena da turbulência é muito bem feita. Sentimos quase o avião tremendo junto, o desespero dos passageiros, a luz que chega aos poucos, a felicidade momentânea. Já o acidente é ainda mais detalhado. Há um desespero no ar, em cada sensação, na construção das situações, nos efeitos das turbinas explodindo, no looping, na asa batendo na igreja, no impacto. O som é outro elemento que chama a atenção aí, com um zunido irritante nos acompanhando até o hospital, para outra boa cena, quando ele acorda.
Pena que esse primor na direção vá caindo à medida em que o filme avança, ficando apenas uma construção bem feita, sem outros grandes momentos, tendo até algumas questões clichês como a forma como música e planos mais lentos vão elevando a expectativa da véspera do depoimento. Mas, a interpretação de Denzel Washington, no entanto, se mantém intensa, com uma boa dosagem entre a prepotência e o desespero em cada nuança de seus vícios e medos. O filme acaba se sustentando na força de seu personagem.
O Voo não deixa, então, de ser um filme instigante. Diferente da maioria dos roteiros desenvolvidos em Hollywood. Fala de vícios, fatalidades, escolhas, mas segue uma lógica própria que, assim como O Náufrago, traz também um processo de sobrevivência e redescoberta de seus valores.
O Voo (Flight, 2012 / EUA)
Direção: Robert Zemeckis
Roteiro: John Gatins
Com: Denzel Washington, Nadine Velazquez, Don Cheadle, John Goodman
Duração: 138 min.
Whip Whitaker, personagem de Denzel Washington, é um piloto de voos comerciais. Em uma trajetória aparentemente simples até Atlanta, o avião perde o controle, mas com muita habilidade ele consegue pousar com danos mínimos. É apontado como herói, já que nenhum outro piloto conseguiria salvar tantas vidas, de mais de cem passageiros apenas quatro e dois da tripulação morreram. Porém, seus exames acusam que havia álcool e cocaína em seu organismo. Entre as tentativas do sindicato de abafar o caso e a consciência de Whip, vamos acompanhando o desenrolar dessa trama.
É interessante que o foco seja essa via dupla do esquema para salvar a companhia e a imagem do sindicato dos pilotos e a questão humana do vício do piloto, sua não-aceitação da doença e a questão ética por trás disso. Chama a atenção a quantidade de vezes que a palavra Deus é citada no filme. Diversas pessoas falam da obra de Deus, da vontade de Deus, ato de Deus. E que, em determinado momento chave, o personagem diga: que Deus me ajude. Ainda assim, em diversos momentos, isso soa como cinismo, vide que os próprios advogados colocando no ato da investigação como uma das possibilidades do acidente ser a vontade de Deus.
Por outro lado, temos o personagem de John Goodman, Harling Mays, que tem sua primeira aparição ao som de "Sympathy For The Devil" (solidariedade ao demônio). É ele quem fornece drogas ao amigo Whip Whitaker e tem momentos quase surreais com isso. As drogas também são o problema da personagem de Kelly Reilly, Nicole, mas ela consegue uma redenção rápida, tentando inclusive levar Whip para reuniões dos alcoólicos anônimos.
Toda essa evidenciação dos detalhes da construção do que seria o certo ou o errado é apenas para preparar o espectador. O Voo parece ter uma mensagem muito clara, uma conscientização bem específica, ainda que o cinismo pareça envolver o protagonista e sua equipe. Ele está o tempo todo brigando com sua própria teimosia e, não por acaso, a primeira coisa que faz ao chegar na fazenda do pai é jogar fora toda e qualquer bebida alcoólica que existe ali. Ele não quer ser pego, não quer ser preso, mas volta a beber assim que descobre que pode sofrer processo com o resultado dos exames. E pede desesperadamente que todos mintam por ele.
Nisso, o roteiro é muito bem desenvolvido, construindo sua teia que nos enreda. Mas, o que chama a atenção mesmo é a força das imagens de tensão, construídas em detalhes. A cena da turbulência é muito bem feita. Sentimos quase o avião tremendo junto, o desespero dos passageiros, a luz que chega aos poucos, a felicidade momentânea. Já o acidente é ainda mais detalhado. Há um desespero no ar, em cada sensação, na construção das situações, nos efeitos das turbinas explodindo, no looping, na asa batendo na igreja, no impacto. O som é outro elemento que chama a atenção aí, com um zunido irritante nos acompanhando até o hospital, para outra boa cena, quando ele acorda.
Pena que esse primor na direção vá caindo à medida em que o filme avança, ficando apenas uma construção bem feita, sem outros grandes momentos, tendo até algumas questões clichês como a forma como música e planos mais lentos vão elevando a expectativa da véspera do depoimento. Mas, a interpretação de Denzel Washington, no entanto, se mantém intensa, com uma boa dosagem entre a prepotência e o desespero em cada nuança de seus vícios e medos. O filme acaba se sustentando na força de seu personagem.
O Voo não deixa, então, de ser um filme instigante. Diferente da maioria dos roteiros desenvolvidos em Hollywood. Fala de vícios, fatalidades, escolhas, mas segue uma lógica própria que, assim como O Náufrago, traz também um processo de sobrevivência e redescoberta de seus valores.
O Voo (Flight, 2012 / EUA)
Direção: Robert Zemeckis
Roteiro: John Gatins
Com: Denzel Washington, Nadine Velazquez, Don Cheadle, John Goodman
Duração: 138 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
O Voo
2013-02-07T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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