A Fuga
Dizem que de boas intenções, o inferno está cheio. Pois é, A Fuga é daqueles filmes cheios de boas intenções. Uma boa ideia, um bom argumento, mas que se perde em um roteiro frágil e uma direção engessada.
A trama deveria ser sobre dois irmãos que acabaram de assaltar um cassino e estão tentando chegar à fronteira. Um acidente de carro atrapalha os planos e eles têm que se dividir em plena nevasca canadense, envolvendo-se com outras pessoas. Porém, a trama acaba sendo mais do que isso. Acaba sendo também o drama de um ex-boxeador que acaba da sair da prisão onde esteve sabe-se lá por quê. E de uma jovem policial, filha do xerife de uma cidadezinha na fronteira, que é humilhada pelo pai, também sem motivos aparentes.
A divisão de foco entre os três núcleos, prejudica o roteiro que oscila em vários momentos e se perde em sua conclusão. Deixa pontas soltas, modifica personalidades de personagens, reconstrói dramas inexplicáveis e acaba sendo muito barulho por nada. Principalmente, se a gente levar em conta o estopim de tudo: o assalto ao cassino.
O diretor Stefan Ruzowitzky parecia ter tudo nas mãos. Após chamar a atenção do mundo com Os Falsários, o austríaco tinha um bom elenco nas mãos e uma boa história. Só que nem ele nem o roteirista Zach Dean conseguiram desenvolver bem o que tinha, apresentando uma obra frágil. Ainda assim, Ruzowitzky imprime bons momentos, principalmente na apresentação da trama e de seus personagens. O acidente de carro é bem feito, o plot do policial, a despedida dos irmãos. Assim como o boxeador Jay tem uma apresentação tensa, saindo da cadeia, ligando para os pais, cobrando satisfações do antigo treinador. Só a policial Hanna é que já começa com o pé esquerdo, com diálogos horríveis com o pai.
O problema é que tudo a partir de então, fica fake, sem substância, principalmente na jornada do personagem de Eric Bana. Por mais que Addison tivesse um passado que justificasse algumas atitudes, é estranho ver um homem que pede perdão ao assassinar a primeira vítima ser tão frio e cruel em outros momentos. Isso sem falar na quase risível luta com um índio que lhe custa o dedo mindinho. Mas, o pior mesmo está nos diálogos traçados com uma garotinha em certa cabana com frases como "então, você não é um anjo?".
Por outro lado, o amor entre Jay e Liza, personagens de Olivia Wilde e Charlie Hunnam não convence. Como um feitiço que se vira contra o feiticeiro e que se torna solto na trama. Não é bem desenvolvido, não faz muito sentido diante do que está sendo construído, ou pelo menos do que parecia estar sendo. Um problema de falta de foco do roteiro. Em uma estrutura que mais parece de uma telenovela, com vários núcleos, vários dramas, várias vidas que precisariam de meses para ser desenvolvidos a contento. Da forma como fica, parecem recortes que faltam pedaços.
Se não fosse o bastante, a direção ainda falha em vários momentos ao tentar construir um clima de suspense que nunca ganha corpo. Tudo fica muito óbvio, exposto, principalmente com a construção em paralelo de todos os núcleos. Isso sem falar em erros de continuidade grosseiros como um snowmobile que surge do outro lado de um rio, ou tiros que são esquecidos em pernas que não mancam mais.
A Fuga é daqueles filmes que poderia ter sido. Cansativo apesar da curta duração, falho em diversos pontos e com atores que poderiam dar muito mais de si. Talvez por isso, tenha demorado tanto para estrear no Brasil.
A Fuga (Deadfall, 2012 / EUA)
Direção: Stefan Ruzowitzky
Roteiro: Zach Dean
Com: Eric Bana, Olivia Wilde, Charlie Hunnam
Duração: 95 min.
A trama deveria ser sobre dois irmãos que acabaram de assaltar um cassino e estão tentando chegar à fronteira. Um acidente de carro atrapalha os planos e eles têm que se dividir em plena nevasca canadense, envolvendo-se com outras pessoas. Porém, a trama acaba sendo mais do que isso. Acaba sendo também o drama de um ex-boxeador que acaba da sair da prisão onde esteve sabe-se lá por quê. E de uma jovem policial, filha do xerife de uma cidadezinha na fronteira, que é humilhada pelo pai, também sem motivos aparentes.
A divisão de foco entre os três núcleos, prejudica o roteiro que oscila em vários momentos e se perde em sua conclusão. Deixa pontas soltas, modifica personalidades de personagens, reconstrói dramas inexplicáveis e acaba sendo muito barulho por nada. Principalmente, se a gente levar em conta o estopim de tudo: o assalto ao cassino.
O diretor Stefan Ruzowitzky parecia ter tudo nas mãos. Após chamar a atenção do mundo com Os Falsários, o austríaco tinha um bom elenco nas mãos e uma boa história. Só que nem ele nem o roteirista Zach Dean conseguiram desenvolver bem o que tinha, apresentando uma obra frágil. Ainda assim, Ruzowitzky imprime bons momentos, principalmente na apresentação da trama e de seus personagens. O acidente de carro é bem feito, o plot do policial, a despedida dos irmãos. Assim como o boxeador Jay tem uma apresentação tensa, saindo da cadeia, ligando para os pais, cobrando satisfações do antigo treinador. Só a policial Hanna é que já começa com o pé esquerdo, com diálogos horríveis com o pai.
O problema é que tudo a partir de então, fica fake, sem substância, principalmente na jornada do personagem de Eric Bana. Por mais que Addison tivesse um passado que justificasse algumas atitudes, é estranho ver um homem que pede perdão ao assassinar a primeira vítima ser tão frio e cruel em outros momentos. Isso sem falar na quase risível luta com um índio que lhe custa o dedo mindinho. Mas, o pior mesmo está nos diálogos traçados com uma garotinha em certa cabana com frases como "então, você não é um anjo?".
Por outro lado, o amor entre Jay e Liza, personagens de Olivia Wilde e Charlie Hunnam não convence. Como um feitiço que se vira contra o feiticeiro e que se torna solto na trama. Não é bem desenvolvido, não faz muito sentido diante do que está sendo construído, ou pelo menos do que parecia estar sendo. Um problema de falta de foco do roteiro. Em uma estrutura que mais parece de uma telenovela, com vários núcleos, vários dramas, várias vidas que precisariam de meses para ser desenvolvidos a contento. Da forma como fica, parecem recortes que faltam pedaços.
Se não fosse o bastante, a direção ainda falha em vários momentos ao tentar construir um clima de suspense que nunca ganha corpo. Tudo fica muito óbvio, exposto, principalmente com a construção em paralelo de todos os núcleos. Isso sem falar em erros de continuidade grosseiros como um snowmobile que surge do outro lado de um rio, ou tiros que são esquecidos em pernas que não mancam mais.
A Fuga é daqueles filmes que poderia ter sido. Cansativo apesar da curta duração, falho em diversos pontos e com atores que poderiam dar muito mais de si. Talvez por isso, tenha demorado tanto para estrear no Brasil.
A Fuga (Deadfall, 2012 / EUA)
Direção: Stefan Ruzowitzky
Roteiro: Zach Dean
Com: Eric Bana, Olivia Wilde, Charlie Hunnam
Duração: 95 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
A Fuga
2013-03-16T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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