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Adeus, Minha Rainha
Adeus, Minha Rainha
Adeus, Minha Rainha, filme de Benoît Jacquot,não é sobre a Revolução Francesa, nem exatamente sobre os bastidores do Palácio de Versalhes, apesar da trama se centrar ali. É uma história de amor platônico de uma serviçal por sua majestade Maria Antonieta. Só que Benoît Jacquot não tem a coragem de realmente investir em sua escolha e fica nos cozinhando em banho-maria, nos fazendo sentir como os serviçais, ouvindo por trás das portas e acreditando apenas em boatos.
A trama se passa em apenas quatro dias, mas quatro dias cruciais para a França, começando pela Queda da Bastilha que foi tomada por revoltosos em 14 de julho de 1789, iniciando a conhecida Revolução Francesa. Não vemos os revoltosos, mal vemos Luís XVI. Benoît Jacquot se concentra mesmo em Maria Antonieta e seus vassalos. Entre eles, a leitora oficial, Sidonie Laborde vivida por Léa Seydoux, uma moça simples que ama os livros e a sua rainha vivida por Diane Kruger. A tensão pelas notícias de Paris, junto com os boatos da vida pessoal da rainha vão conduzindo a vida de Sidonie que só tem como desejo ser útil àquela que ama incondicionalmente.
Bela e sedutora, Maria Antonieta é também temperamental e tem um amor secreto, a duquesa Gabrielle de Polignac, vivida por Virginie Ledoyen. Mas essa relação nunca chega a ser desenvolvida a contento. O próprio temperamento da duquesa é estranho, como diz Antonieta em seu momento de confissão a Sidonie, que ela parece fugir da rainha, mas quando aparece no castelo tem uma postura decidida que parece nunca tê-la feito titubear. Mas, a própria forma como as duas se comportam e como a câmera nos mostra isso, nos coloca no lugar de Sidonie e Madame Campan espiando por detrás da porta.
Nisso, o filme tem algo de interessante, a ironia. Muitas são as situações tragicômicas presentes na trama, como a própria figura atrapalhada de Sidonie, que sempre cai quando vai correndo ao encontro da rainha. São pequenos detalhes em meio ao caos, como o velhinho que desmaia ao ver seu nome na lista das 365 cabeças que os revoltosos pedem. Ou Jacob-Nicolas Moreau bêbado no meio da balbúrdia. Ou ainda quando a Duquesa chega ao Palácio e abraça a rainha, enquanto a corte observa enfileirada com "cara de paisagem".
Porém, o ritmo não se mantem, construindo uma narrativa arrastada que nunca chega a se apresentar por completo. A visão de Sidonie da trama é interessante, nos deixa no lugar daquela moça simples, testemunhando de certa forma uma história muito conhecida por outro viés. Que não necessariamente é real, claro, mas não deixa de ser um lugar interessante para observar o já visto. Porém, o não aprofundamento dos sentimentos daquelas mulheres deixa tudo muito artificial e tolo. Tão tolo como as legendas pontuando cada dia, como se fosse essencial compreender o dia exato em que aconteceu cada coisa. A primeira legenda vem no dia 15 de julho de 1789, precisávamos daquela informação para saber que o que acordou o rei na madrugada foi a Queda da Bastilha. Mas, para que marcar que o dia seguinte foi o dia 16 de julho de 1789? Ou mesmo que o outro amanhecer era 17 de julho de 1789?
Cansa também a constante trilha sonora que quase não nos deixa ouvir o som ambiente. As cenas não conseguem fluir naturalmente. Não há um respiro, uma contemplação real, uma intimidade com aqueles personagens. É tudo muito armada, ensaiado, teatralizado. Mesmo a beleza das atrizes que constroem o triângulo não é explorada de uma maneira natural. Vide a cena em que Sidonie observa Gabrielle dormindo nua. Ou mesmo a cena em que a rainha passa um remédio para coceira no braço de Sidonie e a câmera nos induz a entender que ela observa os seios da moça. A cena em que a serva é despida, no entanto, tem um bom ritmo, é sensível e triste. Léa Seydoux constrói a sutileza da vergonha e do desejo ao mesmo tempo, quando esconde suas partes íntimas, mas logo depois as expõe.
Porque o mais interessante de Adeus, Minha Rainha é exatamente a exploração desse sentimento escondido, desse desejo reprimido, mesmo que diante de algo tão mais urgente, como a salvação da própria vida. É o revés da moeda, o que está por trás da caricatura. Pena que não seja tão bem explorado quanto poderia. De qualquer maneira, é um filme curioso, que já tinha aberto o Festival de Berlim, e agora abre o Festival Varilux falando de uma França conhecida, por um olhar desconhecido. Assim como a temperamental Maria Antonieta, não deixa de ser teus encantos.
* Filme visto no Festival Varilux 2013
Adeus, Minha Rainha (Les adieux à la reine, 2012 / França)
Direção: Benoît Jacquot
Roteiro: Benoît Jacquot, Gilles Taurand
Com: Léa Seydoux, Diane Kruger, Virginie Ledoyen
Duração: 100 min.
A trama se passa em apenas quatro dias, mas quatro dias cruciais para a França, começando pela Queda da Bastilha que foi tomada por revoltosos em 14 de julho de 1789, iniciando a conhecida Revolução Francesa. Não vemos os revoltosos, mal vemos Luís XVI. Benoît Jacquot se concentra mesmo em Maria Antonieta e seus vassalos. Entre eles, a leitora oficial, Sidonie Laborde vivida por Léa Seydoux, uma moça simples que ama os livros e a sua rainha vivida por Diane Kruger. A tensão pelas notícias de Paris, junto com os boatos da vida pessoal da rainha vão conduzindo a vida de Sidonie que só tem como desejo ser útil àquela que ama incondicionalmente.
Bela e sedutora, Maria Antonieta é também temperamental e tem um amor secreto, a duquesa Gabrielle de Polignac, vivida por Virginie Ledoyen. Mas essa relação nunca chega a ser desenvolvida a contento. O próprio temperamento da duquesa é estranho, como diz Antonieta em seu momento de confissão a Sidonie, que ela parece fugir da rainha, mas quando aparece no castelo tem uma postura decidida que parece nunca tê-la feito titubear. Mas, a própria forma como as duas se comportam e como a câmera nos mostra isso, nos coloca no lugar de Sidonie e Madame Campan espiando por detrás da porta.
Nisso, o filme tem algo de interessante, a ironia. Muitas são as situações tragicômicas presentes na trama, como a própria figura atrapalhada de Sidonie, que sempre cai quando vai correndo ao encontro da rainha. São pequenos detalhes em meio ao caos, como o velhinho que desmaia ao ver seu nome na lista das 365 cabeças que os revoltosos pedem. Ou Jacob-Nicolas Moreau bêbado no meio da balbúrdia. Ou ainda quando a Duquesa chega ao Palácio e abraça a rainha, enquanto a corte observa enfileirada com "cara de paisagem".
Porém, o ritmo não se mantem, construindo uma narrativa arrastada que nunca chega a se apresentar por completo. A visão de Sidonie da trama é interessante, nos deixa no lugar daquela moça simples, testemunhando de certa forma uma história muito conhecida por outro viés. Que não necessariamente é real, claro, mas não deixa de ser um lugar interessante para observar o já visto. Porém, o não aprofundamento dos sentimentos daquelas mulheres deixa tudo muito artificial e tolo. Tão tolo como as legendas pontuando cada dia, como se fosse essencial compreender o dia exato em que aconteceu cada coisa. A primeira legenda vem no dia 15 de julho de 1789, precisávamos daquela informação para saber que o que acordou o rei na madrugada foi a Queda da Bastilha. Mas, para que marcar que o dia seguinte foi o dia 16 de julho de 1789? Ou mesmo que o outro amanhecer era 17 de julho de 1789?
Cansa também a constante trilha sonora que quase não nos deixa ouvir o som ambiente. As cenas não conseguem fluir naturalmente. Não há um respiro, uma contemplação real, uma intimidade com aqueles personagens. É tudo muito armada, ensaiado, teatralizado. Mesmo a beleza das atrizes que constroem o triângulo não é explorada de uma maneira natural. Vide a cena em que Sidonie observa Gabrielle dormindo nua. Ou mesmo a cena em que a rainha passa um remédio para coceira no braço de Sidonie e a câmera nos induz a entender que ela observa os seios da moça. A cena em que a serva é despida, no entanto, tem um bom ritmo, é sensível e triste. Léa Seydoux constrói a sutileza da vergonha e do desejo ao mesmo tempo, quando esconde suas partes íntimas, mas logo depois as expõe.
Porque o mais interessante de Adeus, Minha Rainha é exatamente a exploração desse sentimento escondido, desse desejo reprimido, mesmo que diante de algo tão mais urgente, como a salvação da própria vida. É o revés da moeda, o que está por trás da caricatura. Pena que não seja tão bem explorado quanto poderia. De qualquer maneira, é um filme curioso, que já tinha aberto o Festival de Berlim, e agora abre o Festival Varilux falando de uma França conhecida, por um olhar desconhecido. Assim como a temperamental Maria Antonieta, não deixa de ser teus encantos.
* Filme visto no Festival Varilux 2013
Adeus, Minha Rainha (Les adieux à la reine, 2012 / França)
Direção: Benoît Jacquot
Roteiro: Benoît Jacquot, Gilles Taurand
Com: Léa Seydoux, Diane Kruger, Virginie Ledoyen
Duração: 100 min.
Amanda Aouad
Crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia sendo roteirista de séries como "Turma da Harmonia", "Bill, o Touro" e "Tadinha". É ainda professora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Adeus, Minha Rainha
2013-05-06T08:30:00-03:00
Amanda Aouad
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